Em
meio a pressões do PMDB para a troca da cúpula da Polícia Federal, o
diretor-geral da corporação, Leandro Daiello, aceitou na sexta-feira (16/09)
pedido do ministro da Justiça, Torquato Jardim, e permanecerá por mais um
período no comando da instituição. "Fiz o convite e ele aceitou",
disse Torquato. Questionado sobre o prazo de sobrevida de Daiello, o ministro
afirmou que ele ficará "o tempo que for necessário" para consolidar o
trabalho realizado.
A
manutenção de Daiello no cargo ocorre no momento em que o presidente Michel
Temer e outros políticos do PMDB - incluindo ministros, senadores e
ex-deputados - são alvo da Lava Jato e de ações da PF. "Pedi para ele
ficar porque temos vários projetos em andamento. Precisamos dar continuidade à
preparação da nova Política Nacional de Segurança Pública e à modernização da
Polícia Federal com mais atuação em tecnologia e internacional. Não me pareceu
adequado que o diretor-geral da Polícia Federal se afastasse agora",
afirmou Torquato, sem falar de Lava Jato.
Daiello
sairá de férias por duas semanas e, depois, retomará suas funções na PF, cargo
que ocupa desde janeiro de 2011. O acerto entre ele e Torquato foi feito ontem,
em Araxá (MG).
A
pressão do PMDB para o ministro substituir o comando da PF aumentou após a ação
que resultou na descoberta do "bunker" atribuído ao ex-ministro
Geddel Vieira Lima, com R$ 51 milhões. Além disso, o Planalto não escondeu
irritação com o "vazamento" de relatório da PF sobre o
"quadrilhão" do PMDB. As conclusões do inquérito serviram de base
para o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentar nova denúncia
contra Temer, por organização criminosa e obstrução da Justiça.
As
negociações para a troca de direção na PF estavam sendo feitas entre Torquato e
o próprio Daiello desde que o ministro assumiu a pasta, no fim de maio.
Alegando estar cansado, o diretor-geral da PF - que é responsável pelas
principais investigações de combate à corrupção - pôs o cargo à disposição e
disse que iria se aposentar.
'Instabilidade'
O
nome mais cotado era o de Rogério Galloro, número 2 de Daiello. O presidente da
ADPF (Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal), Carlos Eduardo
Sobral, defendeu Galloro, mas afirmou que, agora, o melhor é a permanência de
Daiello. "Nesse ambiente de grande instabilidade política, é razoável que
o atual diretor permaneça para a continuidade das investigações que estão em
andamento", disse Sobral.
O
presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), negou a pressão para emplacar
alguém ligado ao partido no comando da PF. "Não há nenhuma indicação do
PMDB. A Polícia Federal é um cargo de confiança do presidente da República e do
Ministério da Justiça e tem de ser levada em conta a meritocracia da
instituição", disse Jucá.
Nos
bastidores, porém, auxiliares de Temer e a cúpula do PMDB avaliam ser preciso
esvaziar o que os investigados da Lava Jato classificam de "investigações
midiáticas". A expectativa no Planalto é a de que Raquel Dodge, sucessora
de Rodrigo Janot, faça uma espécie de "auditoria" no Ministério
Público e arquive ações consideradas "políticas". Raquel assumirá o
cargo na próxima segunda-feira. O governo também traçou uma estratégia para
transformar a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) da JBS em um
palanque para desmoralizar a segunda denúncia de Janot contra Temer. (AE)
Sábado
16 de setembro, 2017 ás 10hs00
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