Sábado,
31 de dezembro de 2016
OS OBSTÁCULOS POLÍTICOS DE
TEMER EM 2017
Especialistas ouvidos pelo G1 avaliam que, além de ter de
conter a crise econômica, o presidente terá de contornar no ano que vem a
delação da Odebrecht, o processo no TSE e a baixa popularidade.
Em seu segundo ano no comando do Palácio do Planalto, o
presidente Michel Temer terá o desafio de driblar, em 2017, uma série de
obstáculos políticos para manter a governabilidade e ter força no Congresso
Nacional para aprovar reformas como a previdenciária e a trabalhista, avaliam
analistas ouvidos pelo G1.
O peemedebista, que assumiu a Presidência após o impeachment
de Dilma Rousseff, vira o ano com um cenário político nebuloso.
No horizonte do presidente da República, há preocupações com
os imprevisíveis desdobramentos das delações premiadas dos executivos da
Odebrecht, com o processo em andamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que
pode cassar o mandato dele e com os baixíssimos índices de popularidade que ele
tem registrado nos últimos meses.
Temer foi citado no pré-acordo de delação premiada do
ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho.
Segundo o ex-dirigente da empreiteira, o presidente pediu, em 2014, R$ 10
milhões para campanhas do PMDB. Os fatos são investigados pela Operação Lava
Jato.
Além disso, o TSE apura se a chapa formada por Dilma Rousseff
e Temer para a eleição presidencial de 2014 cometeu abuso de poder econômico e
se beneficiou do esquema de corrupção que atuou na Petrobras. Se o tribunal
concluir que sim, Temer poderá ser afastado da Presidência.
Segundo pesquisa Ibope, Temer tem aprovação de 13% dos
entrevistados. De acordo com o instituto Datafolha, apenas 10% dos
entrevistados avaliam como ótima ou boa a gestão do peemedebista.
Em meio a este ambiente político em crise é que o governo
buscará aprovar no Congresso Nacional, ao longo de 2017, as propostas de
reforma previdenciária, com idade mínima de 65 anos para homens e mulheres
poderem se aposentar, e trabalhista, com 12 pontos que poderão ser negociados
entre patrões e empregados e, em caso de acordo, passarão a ter força de lei.
Para o professor do Instituto de Ciência Política da
Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer, na medida em que saírem os
conteúdos das delações da Odebrecht, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha,
e o secretário do Programa de Parcerias para Investimentos (PPI), Moreira
Franco, dois dos principais conselheiros de Temer, poderão deixar o governo (os
dois também são citados).
"Padilha e Moreira Franco podem cair no ano que vem com
as delações. Isso vai reforçar a necessidade de uma reforma ministerial",
diz Fleischer.
Na avaliação do cientista político da Fundação Getúlio Vargas
(FGV) Sérgio Praça, o agravamento da crise política e da impopularidade de
Temer deverão resultar em impacto negativo ainda maior para o governo, superior
até ao desgaste causado pela demora na recuperação econômica.
Para Praça, apesar da expectativa da retomada do crescimento,
o mercado ainda não se recuperou da crise e voltará a investir no país em ritmo
mais lento do que o esperado pelo Ministério da Fazenda.
"A economia obviamente não está bem, mas a crise
política consegue ser pior. Com as medidas adotadas, a crise econômica fica um
pouco mais difícil de o cidadão enxergar no seu dia a dia. Só que com a
turbulência causada pelas delações, os índices de popularidade devem cair ainda
mais", diz o cientista.
Delações
Além de Cláudio Melo Filho, outros 76 executivos e
ex-executivos da Odebrecht fecharam acordo de delação premiada com o Ministério
Público. Ex-diretor da empreiteira, Melo Filho citou, ao todo, 51 políticos de
11 partidos, entre os quais Temer e os principais assessores do presidente.
Um dos citados, o advogado e amigo de Temer José Yunes, que
despachava do Palácio do Planalto, pediu demissão do cargo de assessor especial
da Presidência em 14 de dezembro.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) já protocolou no
Supremo Tribunal Federal (STF) os acordos de delação dos 77 executivos e
ex-executivos da Odebrecht e, a partir de fevereiro, o ministro Teori Zavascki,
relator da Lava Jato na Corte, decidirá se homologa ou não os acordos.
Para Sérgio Praça, a tendência é que ocorram demissões no
primeiro escalão do governo e no núcleo mais próximo a Temer quando o conteúdo
das delações da Odebrecht vier a público.
Sábado,
31 de dezembro de 2016
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