Em
ano de votações cruciais para o Palácio do Planalto no Congresso, o presidente
Michel Temer pode começar 2017 tendo de contornar uma crise na própria base
aliada. Com a judicialização da disputa pela presidência da Câmara e a
preferência velada do governo pela reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ), a briga
pelo comando da Casa deve abrir fissuras na relação entre aliados, colocando em
xeque o andamento das reformas da Previdência e trabalhista.
Em
ampla movimentação para desarticular os partidos do Centrão, Maia já vem
recebendo sinais de que poderá receber o apoio de legendas que compõem o bloco
informal, como PR, PRB e PP. Candidato ao cargo, o líder do PSD, Rogério Rosso
(DF), apresentou uma consulta à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
questionando a possibilidade de reeleição de membros da Mesa Diretora, mas o
colegiado só voltará a deliberar após 1.º de fevereiro, data da eleição.
O
deputado deverá insistir com a Mesa sobre a possibilidade de convocação
extraordinária da CCJ em janeiro para analisar a consulta antes da eleição. Ele
também já cobrou a divulgação do calendário e dos procedimentos previstos para
a votação. Ainda assim, Rosso e o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), outro
candidato da base aliada de Temer, esperam mesmo uma eventual decisão do
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello que inviabilize Maia.
“Estou
vendo ministros já se metendo, e isso é negativo”, disse Jovair, que afirmou
ter percebido uma “preferência por parte do governo”. Ainda assim, o líder do
PTB disse que vai procurar Temer para insistir que ele não atue nos bastidores
em favor de Maia. “Vou dizer que minha candidatura é irreversível e vou pedir,
mais uma vez, sua isenção.”
Foi
em um cenário de interferência do governo em favor de seu candidato que o
deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi eleito presidente da Câmara em
2015. O peemedebista derrotou o petista Arlindo Chinaglia (SP), preferido da
então presidente Dilma Rousseff, e assumiu uma postura de oposição, impondo
derrotas sucessivas à gestão petista. “Não haverá fissura na base porque o
governo vai ficar de fora do processo”, disse o líder do governo na Câmara,
André Moura (PSC-SE).
Inquietação
Apesar
de o Centrão já ter ensaiado uma rebelião na base contra a possibilidade de
indicação do tucano Antonio Imbassahy (BA) para a Secretaria de Governo –
quando ameaçou obstruir a votação da admissibilidade da PEC da reforma da
Previdência –, aliados do governo admitem que a disputa causará “inquietação e
aborrecimentos”, mas apostam que qualquer princípio de crise pode ser
contornado com a oferta de alternativas de acomodação do bloco, seja na
estrutura da Câmara, seja no Executivo.
“Sem
governo, eles (do Centrão) têm muita dificuldade”, disse um cacique governista.
A análise é de que o PTB não é grande o suficiente para causar estragos para o
governo – já que tem uma bancada de apenas 18 deputados – e Rosso “não tem o
tamanho que diz ter”.
Enquanto
os mais otimistas vislumbram um horizonte de conciliação, os candidatos do
Centrão mostram disposição para confrontar Maia. Jovair avisou que, assim que a
candidatura do deputado do DEM for registrada, ele vai entrar com mandado de
segurança no STF com pedido de liminar para barrá-lo. “Esse cara está usando do
casuísmo, rasgando a Constituição e o regimento da Casa.”
O
líder do governo fez um apelo para que a eleição interna não atrapalhe a agenda
do governo. “Eles (candidatos) sabem que não podem querer contaminar a base por
causa da disputa”, disse Moura. (AE)
Segunda-feira,
26 de dezembro de 2016
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