A
pandemia de covid-19 trouxe à tona uma realidade que por vezes foi ignorada no
Brasil: a falta de acesso à internet. A necessidade do isolamento social por
conta do novo coronavírus, torna o momento decisivo para se aprofundar na
discussão sobre o tema e conhecer quem está sendo deixado de lado.
Uma
vez que o ensino a distância tem sido uma condição para garantir a aprendizagem
de crianças e adolescentes durante a pandemia, o acesso à internet de qualidade
passa a ser uma questão central para as famílias. Essa é a primeira de uma
série de quatro reportagens do Brasil de Fato sobre os desafios da Educação a
Distância (EaD).
“Falando
do nível de indivíduo, a gente pode dizer que o usuário de internet no Brasil é
predominantemente urbano; escolaridade maior, principalmente médio e superior;
tende a ter idade entre 10 e 45 anos; e sobretudo das classes mais altas, A e
B”, explica Fabio Storino, analista de informações do Centro Regional de
Estudos para Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic)
De
acordo a pesquisa TIC Domicílios, realizada pelo Cetic, em 2019, 74% da
população tinha acesso à internet, o que correspondia a 134 milhões de pessoas
e 71% dos lares do país.
Hoje,
46 milhões de brasileiros não tem acesso à internet. Desse total, 45% explicam
que a falta de acesso acontece porque o serviço é muito caro e para 37% dessas
pessoas, a falta do aparelho celular, computador ou tablet também é uma das
razões.
Se
para alguns, mexer em um computador é uma tarefa simples, para 72% dos desassistidos,
a falta de habilidade com o equipamento impede o acesso à rede.
Quando
se olha para o recorte de renda, a população mais vulnerável concentra os
maiores números. Para 57% das pessoas com renda de até um salário mínimo, a
principal causa para o não-acesso são os altos preços do serviço no Brasil.
Considerando a mesma faixa salarial, 46% dizem não ter aparelhos como celular
ou computador.
Se
considerados os territórios, 75% da população urbana é usuária de internet, no
campo esse número cai para 53%, ou seja, quase metade das pessoas que vivem em
áreas rurais não acessa a rede de computadores. Os dados sobre a população mais
pobre do país revelam que apenas metade das casas da classe D e E têm acesso à
internet.
A
pesquisa também revelou que cerca de 99% dos usuários navegam pela internet no
celular e apenas 42% deles se conectam pelo computador, menos da metade das
pessoas que usaram a internet no smartphone. Ainda segundo o estudo, em 2019,
58% dos brasileiros acessaram a internet exclusivamente pelo telefone. No
Brasil, o acesso via computadores, notebook e tablets começou a cair a partir
de 2015.
“No
campo, o acesso somente via celular chega a quase 80% dos usuários e entre as pessoas
de menor renda, das classes D e E, chega a 85%. O celular se tornou um
dispositivo muito importante e muito relevante para o uso da internet no
Brasil”, explica Fabio.
Quando
se leva em consideração o grau de instrução, quanto maior a formação educacional,
maior o acesso. Apenas 23% da população analfabeta ou que frequenta o Ensino
Infantil tem acesso à internet. Entre os estudantes do nível fundamental, esse
número sobe para 68%. Já entre os que têm nível superior, a marca é de 98%.
A
faixa etária também é um dado importante quando se fala de conexão. A maioria
dos usuários tem entre 10 e 45 anos e a cada dez pessoas com 60 anos ou mais,
apenas quatro tem acesso à rede. Já quando se trata de renda, entre a população
mais pobre, apenas seis de cada dez brasileiros conseguem navegar pela
internet.
A
pesquisa TIC Domicílios também revelou que apenas 41% das pessoas utilizaram,
no último ano, a internet para realizar atividades ou pesquisas escolares. E
apenas três de cada dez pessoas utilizaram a internet para assuntos
relacionados a educação, entre a população dos indicadores D e E.
A
pesquisa ainda indica que a cada cinco pessoas, uma afirma que só consegue
acessar a internet, através da rede emprestada do vizinho.
*Blog
Combate
Quarta-feira,
12 de agosto, 2020 ás 18:00
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