Mesmo
no xilindró, há quase três meses encarcerado, Luiz Inácio Lula da Silva não
desiste da fuzarca. Quer visitas, quer passar recados, quer se manter nos
holofotes. Recursos pela sobrevivência. E assim tem feito através de mensagens
que envia por intermédio de seus estafetas. Dos comentários, a suprema maioria
beira o ridículo – quase cômico, não fosse absurdo – e dá o tom de delírio
avançado que arrebata o honorável líder petista. Tome-se, por exemplo, a
avaliação que ele fez, logo a seguir trombeteada por ninguém menos que seu
poste presidencial, Dilma Rousseff, sobre as injunções na política de preços da
Petrobras. Avisou Lula estar muito preocupado com o futuro da estatal do
petróleo. Logo ele, que junto com a sucessora, anarquizou as tarifas de combustível,
praticou populismo rasgado congelando reajustes, pintou e bordou naquela seara,
limando de vez a competitividade da empresa? Lula não se condói do que diz? O
Petrolão, os dutos de escoamento da propina desavergonhada, a quadrilha de
saqueadores que, junto com a sua turba, colocou lá não despertaram sequer uma
ruga de preocupação no grande paladino moral. Já os movimentos para resolver
uma greve incontrolável, esses são imperdoáveis na visão algo cínica desse
mestre das dissimulações. É preciso muito óleo de peroba na cara para encenar
tal papel. Lula maneja com destreza a arte de converter eventos, quaisquer que
sejam, a seu favor. Com as patacoadas verbais esconde fatos desabonadores e
adapta versões para beneficiar a cultuada imagem, que faz de si próprio, de um
“salvador”. Não passaria em um detector de mentiras. O loroteiro tentou até
pegar carona no movimento dos caminhoneiros falando que, se fosse ele, solto,
não haveria desabastecimento. Por trás, incitou a tropa de partidários a
promover a paralisação dos petroleiros. A maneira de fazer política que Lula
encarna tem na ideia do “quanto pior, melhor” a grande bandeira. Para ele, o
avança da algazarra é um benefício. Nada de promover a pacificação. Lula não
admite nem mesmo composições. Deseja o poder absoluto. Sonha em resgatar o
papel de mandatário para reativar, sem amarras, seus habituais desmandos.
Deixou claro que no eixo das candidaturas de esquerda não fechará com ninguém.
O pedetista Ciro Gomes até que tentou costurar uma aliança. Em vão. Levou um
chega pra lá do demiurgo de Garanhuns. Em seguida, o PT foi orientado a
comunicar que estavam suspensos todos os movimentos de acordos eleitorais. A
agremiação prefere mesmo o isolamento suicida. A tal ponto que teve o
atrevimento de pedir ao TSE o direito de colocar uma espécie de “dublê” nas
eventuais sabatinas que venham a ser feitas durante a campanha – já que seu
“titular” não poderá participar direto da cadeia. Desfaçatez sem tamanho. O
Partido dos Trabalhadores sabe, de antemão, que o nome Lula está
definitivamente fora das urnas, enquadrado na Lei da Ficha Limpa. Somente uma
reviravolta impensável – por representar uma quebra gritante do primado das
regras – mudaria esse status quo. Enquanto isso, os petistas tumultuam o
processo com desinformações e artimanhas. Nesse pormenor se esmeram. A última
no capítulo dos escárnios foi pedir ao Comitê de Direitos Humanos da ONU que
revisse, de forma cautelar, a prisão de Lula por não se tratar – no entender
deles – de um criminoso comum. A velha conversa de processo político. O recurso
foi finalmente julgado pelo colegiado internacional na semana passada, que
rejeitou o pedido, realçando que o devido processo legal foi seguido e que não
havia “dano irreparável” à luz dos direitos humanos. A agência da ONU, por mais
delirante que tenha sido a opção de consultá-la, figurou como mais um degrau
nas reinações de Lula, para quem apelar, procrastinar e reclamar sem fundamento
não tem limites.
Carlos
José Marques / IstoÉ
Sábado,
09 de junho, 2018 ás 00:05
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