Pessimismo
com a realidade brasileira joga para escanteio o ufanismo do único país a
participar de todos os mundiais e coloca em campo a urgência de uma superação
que vai muito além da conquista da taça
Ainda
que a Seleção Brasileira tenha se reerguido da histórica goleada da Copa
passada, que Neymar possa ser eleito o craque da competição e que a aprovação
do técnico Tite seja de 64%, segundo pesquisa do instituto DataFolha feita uma
semana antes do início dos jogos, nunca foi tão patente o clichê segundo o qual
“não há motivos para comemorar”. Às vésperas da Copa de 2014, mesmo sob ondas
de protestos que exigiam “hospitais padrão Fifa” em vez de estádios caros,
apenas 36% da população se dizia desinteressada pelo mundial no Brasil. Hoje,
53% afirmam não ter interesse na Copa. A julgar pelas pesquisas, o motivo é a
economia, que piorou para três em cada quatro brasileiros. Mas não é só. Uma
somatória de decepções tornou a população desencantada também com o futebol,
uma vez que há coisas mais importantes para se preocupar, agora que o jogo de
bola não consegue mais dar conta dos “desejos de potência da maioria absoluta”,
conforme escreveu o jornalista e historiador Marcos Guterman, no livro “O
Futebol Explica o Brasil”.
Gol contra
Enquanto
a bola rola na Rússia, obras que deveriam ter ficado prontas para a Copa de
2014 ainda não foram entregues em 10 das 12 cidades sede. A maior delas é a do
VLT de Cuiabá, que consumiu R$ 1 bilhão e está parada após a conclusão de
apenas 30% do total previsto. Outras 40 não têm prazo de entrega. A maioria diz
respeito à modernização viária, como viadutos e alargamento de avenidas, e de
mobilidade urbana, como corredores de ônibus, trens, que seriam vitais para a
população. As ampliações dos aeroportos de Salvador, Cuiabá e Belo Horizonte
também não saíram. Os novos estádios Mané Garrincha, em Brasília, Arena
Pantanal, em Cuiabá, Arena Amazônia, em Manaus, e Estádio das Dunas, em Natal,
podem comportar juntos 167 mil torcedores, mas essas cidades sequer possuem
times no Brasileirão. Suas cadeiras numeradas estão quase sempre vazias,
servindo para abrigar mosquitos transmissores de dengue, chikungunya e zika
após qualquer chuvarada. Um péssimo legado daquela que seria “a Copa das
Copas”, como dizia a ex-presidente Dilma.
Mesmo
sem ter sido capaz de entregar as obras prometidas, o governo federal teve a
brilhante ideia de gastar mais dinheiro do contribuinte para exibir em Moscou o
espírito festivo que o brasileiro demonstra em qualquer Copa. Bancada
parcialmente com R$ 3 milhões provenientes do Ministério da Cultura, a Casa do
Brasil na Rússia foi bolada para exibir uma programação musical de alto nível.
Começou mal. O show de Gilberto Gil, previsto para a quinta-feira 14, na
abertura da Copa, precisou ser cancelado. A empreitada para divulgar os atrativos
brasileiros esbarrou na burocracia dos dois países, o que atrasou o pagamento
do aluguel e impediu a abertura do espaço. Mais uma prova de que antes mesmo de
entrar em campo já levamos um gol contra. E com dinheiro público.
Ao custo de R$ 3
milhões para o Ministério da Cultura, a Casa do Brasil da Rússia sequer abriu
as portas para o show de Gilberto Gil
(IstoE)
Sábado,
16 de junho, 2018 ás 00:05
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