Liberdade de expressão

“É fácil submeter povos livres: basta retirar – lhes o direito de expressão”. Marechal Manoel Luís Osório, Marquês do Erval -15 de abril de 1866

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16 junho, 2018

A Copa das ilusões perdidas


Pessimismo com a realidade brasileira joga para escanteio o ufanismo do único país a participar de todos os mundiais e coloca em campo a urgência de uma superação que vai muito além da conquista da taça


Ainda que a Seleção Brasileira tenha se reerguido da histórica goleada da Copa passada, que Neymar possa ser eleito o craque da competição e que a aprovação do técnico Tite seja de 64%, segundo pesquisa do instituto DataFolha feita uma semana antes do início dos jogos, nunca foi tão patente o clichê segundo o qual “não há motivos para comemorar”. Às vésperas da Copa de 2014, mesmo sob ondas de protestos que exigiam “hospitais padrão Fifa” em vez de estádios caros, apenas 36% da população se dizia desinteressada pelo mundial no Brasil. Hoje, 53% afirmam não ter interesse na Copa. A julgar pelas pesquisas, o motivo é a economia, que piorou para três em cada quatro brasileiros. Mas não é só. Uma somatória de decepções tornou a população desencantada também com o futebol, uma vez que há coisas mais importantes para se preocupar, agora que o jogo de bola não consegue mais dar conta dos “desejos de potência da maioria absoluta”, conforme escreveu o jornalista e historiador Marcos Guterman, no livro “O Futebol Explica o Brasil”.

Gol contra


Enquanto a bola rola na Rússia, obras que deveriam ter ficado prontas para a Copa de 2014 ainda não foram entregues em 10 das 12 cidades sede. A maior delas é a do VLT de Cuiabá, que consumiu R$ 1 bilhão e está parada após a conclusão de apenas 30% do total previsto. Outras 40 não têm prazo de entrega. A maioria diz respeito à modernização viária, como viadutos e alargamento de avenidas, e de mobilidade urbana, como corredores de ônibus, trens, que seriam vitais para a população. As ampliações dos aeroportos de Salvador, Cuiabá e Belo Horizonte também não saíram. Os novos estádios Mané Garrincha, em Brasília, Arena Pantanal, em Cuiabá, Arena Amazônia, em Manaus, e Estádio das Dunas, em Natal, podem comportar juntos 167 mil torcedores, mas essas cidades sequer possuem times no Brasileirão. Suas cadeiras numeradas estão quase sempre vazias, servindo para abrigar mosquitos transmissores de dengue, chikungunya e zika após qualquer chuvarada. Um péssimo legado daquela que seria “a Copa das Copas”, como dizia a ex-presidente Dilma.

Mesmo sem ter sido capaz de entregar as obras prometidas, o governo federal teve a brilhante ideia de gastar mais dinheiro do contribuinte para exibir em Moscou o espírito festivo que o brasileiro demonstra em qualquer Copa. Bancada parcialmente com R$ 3 milhões provenientes do Ministério da Cultura, a Casa do Brasil na Rússia foi bolada para exibir uma programação musical de alto nível. Começou mal. O show de Gilberto Gil, previsto para a quinta-feira 14, na abertura da Copa, precisou ser cancelado. A empreitada para divulgar os atrativos brasileiros esbarrou na burocracia dos dois países, o que atrasou o pagamento do aluguel e impediu a abertura do espaço. Mais uma prova de que antes mesmo de entrar em campo já levamos um gol contra. E com dinheiro público.

Ao custo de R$ 3 milhões para o Ministério da Cultura, a Casa do Brasil da Rússia sequer abriu as portas para o show de Gilberto Gil

(IstoE)


Sábado, 16 de junho, 2018 ás 00:05

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