O
procurador da República Deltan Dallagnol afirmou Quinta-feira (14) que o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva era o "comandante máximo do
esquema de corrupção identificado na [Operação] Lava Jato". Dallagnol fez
a declaração durante entrevista coletiva em que a força-tarefa do Ministério
Público Federal (MPF) responsável pela operação, detalhou a denúncia que
envolve Lula, a esposa dele, Marisa Letícia, e mais seis pessoas.
O
ex-presidente foi denunciado à Justiça Federal por corrupção passiva e lavagem
de dinheiro, crimes cujas penas, somadas, podem chegar a 32 anos e seis meses
de prisão.
Segundo
os procuradores, Lula recebeu vantagens indevidas das empresas envolvidas no
esquema de corrupção da Petrobras, como a compra de um apartamento triplex em
Guarujá, no litoral paulista, a reforma e decoração do imóvel, além de
contratos milionários para armazenamento de bens pessoais. Essas vantagens,
somadas, totalizariam mais de R$ 3,7 milhões.
Dallagnol
ressaltou que a corrupção identificada nas investigações é sistêmica e envolve
diversos governos e partidos. De acordo com o procurador, existe uma
"propinocracia" em curso no Brasil, no qual os poderes Executivo e
Legislativo trocam favores, nomeações políticas e cargos, para obter
"governabilidade corrompida, perpetuação criminosa no poder e
enriquecimento ilícito".
Para
Dallagnhol, o sistema é bancado por cartéis de empresas que se aproveitam do
esquema para garantir a assinatura de contratos milionários com o Poder
Público.
Segundo
a denúncia do MPF, existem 14 evidências de que Lula é o chefe do esquema de
corrupção. O trabalho da força-tarefa remete a outros escândalos de corrupção,
como o do mensalão, esquema de pagamento de propina a parlamentares em troca de
apoio ao governo, no primeiro mandato de Lula na Presidência da República.
"Mesmo
depois da saída de José Dirceu [ministro-chefe da Casa Civil na época, 2005] e
com a troca de tesoureiros no Partido dos Trabalhadores, o esquema prosseguiu
através do petrolão. Isso demonstra que havia um vértice em comum, e esse
vértice é o Lula", afirmou Dallagnol.
É
a primeira vez que o ex-presidente é denunciado à Justiça Federal no âmbito da
Lava Jato.
Três focos
De
acordo com Dallagnol, a denúncia apresentada nesta quarta-feira segue três
focos de investigação, todos envolvendo o ex-presidente Lula. O primeiro diz
respeito a três contratos assinados entre a OAS e a Petrobras, referentes às
refinarias Repar e Renest, entre 2006 e 2012. Segundo o procurador, a
empreiteira venceu a licitação mediante cartelização, com o pagamento de
propinas pagas a diversos beneficiários, inclusive Lula. Nessa etapa dos
trabalhos, o MPF denuncia Lula por corrupção passiva e Léo Pinheiro,
ex-presidente da OAS, e o ex-executivo da empreiteira Agenor Medeiros, por
corrupção ativa.
A
segunda parte da denúncia trata da aquisição, reforma e decoração do tríplex de
Guarujá. O MPF apresentou evidências de que o apartamento foi adquirido por
Lula e Marisa por intermédio da OAS, que também foi responsável pela reforma e
decoração. Conforme a denúncia, o total em benefícios indevidos é superior a R$
2,4 milhões. Além do ex-presidente e da esposa, deLéo Pinheiro e dos
ex-executivos Paulo Gordilho e Fábio Yonamine foram denunciados nessa etapa por
lavagem de dinheiro.
No
último foco, os procuradores informam que a OAS manteve, durante cinco anos,
bens pessoais de Lula em contratos de armazenagem. De acordo com os
procuradores, a empreiteira fez pagamentos sucessivos, entre 2011 e 2016, em
benefício de Lula, que chegam a R$ 1,3 milhão. Nessa etapa, além do
ex-presidente são denunciados o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, e
Léo Pinheiro também pelo crime de lavagem de dinheiro.
A
denúncia segue agora para a 13ª Vara Federal de Curitiba, para apreciação do
juiz Sérgio Moro. Caso seja acatada pelo juiz, Lula, Marisa e os outros
denunciados se tornarão réus na operação. (Daniel Isaia)
Quarta-feira,
14 de setembro, 2016
GRACE TOMA POSSE NA AGU E
DIZ QUE DENÚNCIAS DE ANTECESSOR NÃO TÊM FUNDAMENTO
Ao
tomar posse quarta-feira(14), em cerimônia no Palácio do Planalto, como
advogada-geral da União, Grace Mendonça tornou-se a primeira mulher a ocupar o
cargo. A advogada entra no lugar de Fábio Medina Osório, que deixou o cargo em
meio a declarações de que seu afastamento estaria relacionado a tentativas do
Planalto no sentido de interromper as investigações da Lava Jato.
Grace
se diz “muito confortável” em assumir a AGU, apesar da saída controversa de
Medina do cargo. O ex-AGU chegou a acusar Grace Mendonça de ter omitido
informações sobre a Lava Jato. “Recebemos com surpresa, porque são declarações
infundadas e não guardam qualquer tipo de amparo na atuação da Casa. Não têm o
menor fundamento”, disse. Ela evitou fazer críticas diretas a seu colega e se
negou a apontar quais seriam os motivos que o teriam levado a tornar públicas
suas críticas ao governo e a ela. Segundo a advogada, todos têm liberdade de se
manifestar e, dentro de um eventual excesso, todos vivem sob o mesmo estado de
direito, cientes do que pode decorrer a partir dos próprios atos.
No
discurso de posse, a nova titular d Advocacia Geral da União destacou feitos do
órgão, entre eles a recuperação, em 2015, de R$ 57 bilhões para os cofres
públicos, graças a atuações em diversas instâncias governamentais. Ela
discorreu ainda sobre a relevância dos órgãos do poder público como um todo
para a reconstrução do país, chegando a citar trechos bíblicos para melhor
embasar suas argumentações.
“Quero
fazer um registro da Carta de Paulo aos romanos, quando ele diz: 'assim como em
um só corpo temos muitos membros, e cada um de seus membros detêm diferente
função, dessa forma, embora sejamos muitos, fazemos parte de um só corpo'.
Transpondo essa sabedoria de Paulo para nós, é muito importante que o Estado brasileiro
seja esse corpo do qual todos fazemos parte, cada qual no exercício de sua
função”, disse a advogada-geral. “Que cada qual em sua função possa envidar
todos os esforços nesse momento de reconstrução nacional”, completou.
Ao
dar posse à nova titular da AGU, o presidente Michel Temer destacou a boa
relação de Grace com os ministros do Supremo Tribunal Federal e com os
ex-chefes do órgão. “Somos representantes do poder. Não somos o poder. Assim
sendo, temos de agir harmonicamente para poder fazer crescer o país. Foram os
13 anos na função do contencioso que a qualificaram para o alto cargo de
advogada-geral da União”, disse o presidente.
Grace
Maria Mendonça é advogada da União desde 2001, tendo ocupado, na AGU, cargos
como o de coordenadora-geral do gabinete (2001) e o de adjunta do
advogado-geral (2002). Foi também secretária-geral do Contencioso entre 2003 e
2016, cargo pelo qual teve a missão de representar a União perante o Supremo
Tribunal Federal (STF), onde fez sustentações orais em mais de 60 processos.
Ela nasceu em 17 de outubro de 1968, em Januária (MG) e se formou em direito na
Associação de Ensino Unificado do Distrito Federal. É especialista em direito
processual civil e mestranda em direito constitucional. (Pedro Peduzzi)
Quarta-feira,
14 de setembro, 2016
CONCESSÕES PARA O SETOR
PRIVADO TERÃO FINANCIAMENTO PÚBLICO DE ATÉ 80%
As
concessões ou vendas para a iniciativa privada anunciadas terça-feira(13) pelo
governo federal de projetos nas áreas de transporte, energia e saneamento, dentro
do Projeto Crescer, poderão contar com financiamento de até 80% do Banco
Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Caixa Econômica
Federal.
Segundo
a presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos, nos processos anteriores a
alavancagem das instituições públicas chegava a 100%, mas agora o investidor
privado terá que aportar no mínimo 20% do valor financiado. Ela explica que a
ideia é emitir debêntures [título de crédito] para que a própria iniciativa
privada financie os investimentos, que são de longo prazo, entre 15 e 30 anos.
“Nós
reduzimos a alavancagem do BNDES e trabalhamos junto com os outros bancos
públicos e os bancos privados para que possamos ter fianças durante o período
da obra, que serão dadas pelo setor privado, e também podem ser dadas pelo
setor público, para atravessar o período de maior risco”.
A
presidente do BNDES explica que, nesse período, o banco pode oferecer créditos,
mas será dada preferência ao financiamento com debêntures. “Se não conseguirmos
atrair o investidor privado em um primeiro momento, o BNDES e a Caixa Econômica
podem fazer, até meio a meio, até 80% dessa alavancagem. Mas queremos repassar
isso o quanto antes para o setor privado do mercado secundário.”
Maria
Silvia disse que o país passa por um momento de transição econômica e que o
mercado “vai querer pagar para ver” os projetos e o novo modelo de leilão, que
tiveram as condições revistas para se tornarem mais competitivos.
“Precisamos
ter bons projetos, que tenham atratividade, é necessário ter retorno. Precisa
haver um ambiente regulatório claro, transparente, regras claras, bem
definidas. Não é um elemento, não é a debênture, o empréstimo ponte. Precisamos
ter bons projetos e divulgar bem esses projetos. As concessões antigas sequer
tinham editais na língua inglesa, somente na língua portuguesa. Precisa-se dar
tempo ao investidor, ter informações consistentes, a agência reguladora precisa
exercer o seu papel de fiscalização, o contrato precisa ser bem feito”.
Os
primeiros editais serão lançados ainda este ano e a licitação terá prazo de 100
dias para a análise dos interessados. “Nós queremos trazer recursos privados
para o financiamento das concessões brasileiras. Estamos em um cenário mundial
em que existe excesso de liquidez, taxas de juros negativas, poucos projetos de
infraestrutura, nós estamos em um bom momento. Antes eram processos pontuais.
Nós temos agora um processo organizado, com regras bastante mais aperfeiçoadas
com relação ao que existia”, diz a presidente do BNDES.
Saneamento
Maria
Silvia destacou que pelo menos três estados já incluíram suas companhias de
saneamento no programa de concessões: Rio de Janeiro, Rondônia e Pará. De
acordo com ela, atualmente, no Brasil, ainda existem 35 milhões de pessoas sem
acesso a água tratada e mais de 100 milhões sem coleta e tratamento de esgoto,
além de 50% das escolas brasileiras não estarem conectadas à rede de esgoto.
“Nós
estamos mesmo na rabeira dos países em desenvolvimento. E o volume de
investimento é muito grande. Para se universalizar o sistema de saneamento no
país, são necessários pelo menos R$ 300 bilhões. Com a crise fiscal em todos os
níveis de governo, somente [é possível esse volume de investimento] com o setor
privado”.
De
acordo com ela, o BNDES fará, ainda este mês, três reuniões com representantes
de todos os governos estaduais, “para mostrar a eles como o banco pode apoiar
esse processo”.
“Nós
vamos fazer naquele molde do Programa Nacional de Desestatização, vamos desde a
contratação do estudo até a assinatura do contrato. Vamos fazer um apoio
técnico importante para que os estados possam avançar nessa universalização do
saneamento. Vamos contratar os estudos com os recursos do banco. Temos recursos
orçamentários para fazer isso e é um investimento que pode ser ressarcido se o
leilão tiver sucesso”.
Maria
Silvia Bastos falou com a imprensa após participar, quarta-feira(14), da Sessão
Especial do XVIII Fórum Nacional, organizado pelo Instituto Nacional de Altos
Estudos (Inae). O tema do evento, que termina amanhã, é “Investimento contra a
crise e procurando voltar a crescer”. (Akemi Nitahara)
Quarta-feira,
14 de setembro, 2016
GOVERNO PODE
ENVIAR MP DA REFORMA DO ENSINO MÉDIO NA SEMANA QUE VEM
O
ministro da Educação, Mendonça Filho, informou hoje (14) que, até o fim da
próxima semana, o governo decide se envia ao Congresso Nacional medida
provisória (MP) propondo a reforma do ensino médio, caso seja confirmada a
dificuldade para aprovação de um projeto de lei sobre o tema que já está em
tramitação.
Em
situação crítica, o ensino médio foi selecionado como prioritário pelo governo
para que sejam promovidas mudanças como flexibilização do currículo,
proximidade com o ensino técnico e conexão com as áreas de interesse de cada
estudante. Na semana passada, o MEC divulgou o Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (Ideb), que revelou que a meta do ensino médio está estagnada
em 3,7, abaixo dos 4,3 previstos para 2015.
De
acordo com Mendonça Filho, “todas as mudanças” nessa etapa do aprendizado
“precisam ser aprovadas” até o fim deste ano. Ele explicou que alterações na
alfabetização e no ensino fundamental devem ser discutidas após as eleições
municipais, no mês que vem, para evitar a politização do tema, já que esses
períodos são de obrigação das prefeituras, e não dos estados.
“Se,
porventura, até a próxima semana nós chegarmos à conclusão de que a agenda
legislativa não permitirá a votação nas duas Casas [Câmara e Senado] e a sanção
até o fim do ano, vamos buscar uma medida provisória”, disse Mendonça Filho,
referindo-se ao Projeto de Lei 6.840/2013, que tramita neste momento na Câmara
dos Deputados.
Segundo
o ministro da Educação, assim que o presidente Michel Temer retornar de sua
viagem aos Estados Unidos, na semana que vem, será informado sobre a situação e
vai bater o martelo junto com os demais representantes do governo sobre a
assinatura dessa MP.
Mendonça
Filho lembrou que a agenda de pautas da Câmara está trancada por medidas
provisórias já enviadas, que serão sucedidas por votações das reformas que o
Executivo pretende enviar, o que causa um “receio” de que a mudança no ensino
médio fique “secundarizada diante de tantas outras prioridades”. (Paulo Victor
Chagas)
Quarta-feira,
14 de setembro, 2016
“HÁ ENORME PRECONCEITO
CONTRA AS MULHERES” NO BRASIL, DIZ CÁRMEN LÚCIA
Na
primeira sessão de julgamento inteiramente pautada e presidida pela ministra
Carmen Lúcia após ter assumido o comando do Supremo Tribunal Federal (STF) na
última segunda-feira, a presidente disse hoje (14) que há “enorme preconceito
contra as mulheres” no Brasil, em especial no mundo do trabalho. “Temos uma
sociedade preconceituosa em vários temas, fascista em vários temas, e
especialmente no caso da mulher, muito preconceituosa”, disse a ministra.
Segunda
mulher a presidir o STF – a primeira foi a ministra aposentada Ellen Gracie –,
Carmén Lúcia deu a declaração ao interromper uma exposição do ministro Gilmar
Mendes. Na ocasião, os ministros julgavam a constitucionalidade ou não de um
intervalo de 15 minutos somente para mulheres antes do cumprimento de horas
extras.
“Há
discriminação contra as mulheres sim, mesmo no caso nosso de juízas, que
conseguimos chegar a posições de igualdade, há sim enorme preconceito contra
nós mulheres em todas as profissões”, disse Carmen Lúcia. “Não há escritores, não há teoria, neste caso
eu dou o testemunho da minha vida, eu convivo com mulheres que são
discriminadas”.
Antes,
Mendes havia ponderado a existência de obras, inclusive de autoras, que
consideravam algumas normas legais específicas para mulheres, entre elas o intervalo
de 15 minutos antes de horas extras, como discriminatórias. O ministro deu como
exemplo de situação em que essa regra poderia criar problemas o caso em que
“mulheres hoje pilotam aviões”.
“Eu
acho que a simples circunstância de se dizer ‘está vendo, já tem até mulheres
conduzindo Boeings’, isso não é normal”, rebateu Carmén Lúcia, que apesar de
ressalvar ainda não estar votando sobre a questão, defendeu as medidas
trabalhistas protetivas para a mulher, como o intervalo de 15 minutos. “É o
fato de continuar a ter discriminação contra a mulher que nos faz precisar
ainda de determinadas ações que são positivas, se fosse igual ninguém estava
falando”.
Para
ilustrar seu raciocínio, a presidente citou o voto do ministro aposentado Ayres
Britto durante o julgamento, em 2012, em que o STF decidiu pela legalidade do
aborto em casos de anencefalia do feto. Á época, Britto afirmou que o tema
gerava polêmica somente porque “quem faz a lei é o homem e quem dá à luz é a
mulher”.
Dignidades específicas
Mendes
reconheceu a existência de preconceito com as mulheres, “ninguém nega isso”, e
disse que seus exemplos foram somente para ilustrar os problemas que o
intervalo de 15 minutos poderia provocar em profissões específicas. Ele pediu
vistas do processo, adiando a decisão final sobre a questão.
Antes
de encerrar o assunto, entretanto, Cármen Lúcia fez questão de pontuar a
existência de diferenças essenciais entre homens e mulheres, que devem ser
consideradas ao se refletir sobre a igualdade de gênero.
“Nós
queremos a igualdade de direitos exatamente na dignidade que se encerra na
identidade de cada um e que é diferente entre homens e mulheres, graças a Deus,
dá certinho esse negócio de homem e mulher, é ótimo, inclusive”, disse ela,
entre risos. “Aqui ninguém nega isso senhora ministra”, respondeu Mendes,
também bem-humorado. (Felipe Pontes)
Quarta-feira,
14 de setembro, 2016
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