Nos
idos de 1950, no governo de Getúlio Vargas, foram construídas milhares de
residências para funcionários dos institutos de previdência da União: IAPC,
IAPTEC, IAPB, e tantos outros.
Meu
pai era funcionário do IAPC e recebeu, para morar com a família, um apartamento
no conjunto do Irajá, subúrbio carioca, naqueles tempos, lá nos cafundós do
Judas. Os conjuntos eram separados pela então Avenida das Bandeiras que é,
hoje, a Avenida Brasil.
A
periferia das residências, por distante de tudo, acabou se transformando em
reduto de marginais que buscavam refúgio em bairros pouco policiados. A
polícia, como acontece até hoje, raramente está presente nas áreas que mais
precisam dela.
Foi
lá que conheci um dos príncipes da malandragem e da astúcia em provocar
confusões e escapar sem ser detido. Era o “Chico Quiabo”; mulato esguio, cheio
de trejeitos no andar, ágil nas brigas de rua e sempre armado com uma navalha.
Quiabo, escorregadio, livrava-se dos inimigos com a ameaça da navalha, que só
empunhava quando precisava encarar mais de dois homens até a entrada de mais
gente contra ele; o malandro usava a capoeira para atingir e derrubar os que
chegavam muito perto dele.
A
confusão, quase sempre provocada por “Chico Quiabo” para não pagar a despesa do
bar, só acabava com a chegada da radiopatrulha que, com seus
“chapéus-vermelhos” descia enfiando porretadas em qualquer um que ficasse no
caminho. O personagem, ao perceber a chegada dos policiais, corria para a
viatura e se sentava calmamente até o final da contenda. Os meganhas, que já
sabiam da habilidade do espontâneo detido, riam da atitude, o levavam e
liberavam nas proximidades do cemitério. Naqueles tempos, raramente a polícia
prendia alguém envolvido em brigas de rua, só o faziam quando havia mortos ou
feridos com gravidade.
Outro
personagem interessante foi o ilusionista Harry Houdini que fez muito sucesso
na década de 1920. Houdini, que começou a vida como trapezista em circo, se
dedicou à arte da dissimulação criando equipamentos para oferecer à plateia a
sensação de realidade em suas apresentações deixando o público extasiado com o
resultado. Houdini ao longo da vida enganou imperadores, reis, presidentes
entre outras pessoas de notável conhecimento, inclusive Conan Doyle, o criador
de Sherlock Holmes e especialista em espiritismo. Doyle se aproximou de Houdini
tentando convertê-lo, sem sucesso. Depois de famoso, Houdini, que também se
exibia recebendo socos no abdômen, decidiu se especializar em se desvencilhar
de amarras e passou a ser conhecido como “escapista”.
Estes
relatos servem apenas para chegar ao ex-presidente Lula que, nos últimos
tempos, quando percebe a aproximação da Lei e da Justiça faz como “Chico
Quiabo” e corre para prestar depoimentos espontâneos nos órgãos de investigação
das muitas operações do Ministério Público e da Polícia Federal, e sai
declarando não haver viva alma mais honesta do que ele; o homem deve ter
confundido as almas, pois, segundo a mídia ele possui uma adega recheada de
vinhos especiais, dentre eles, talvez, o “Alma Viva”
Lula,
não sendo pessoa investigada em nenhum dos inquéritos em apuração, segundo os
investigadores, é, com certeza, um dos inocentes que mais depoimentos prestou;
sem, no entanto, se livrar da desconfiança que as autoridades e o povo têm em
relação ao seu envolvimento nos muitos malfeitos desvendados nos últimos 13
anos.
A
cada semana surge uma nova denúncia e lá vai o escapista e ilusionista depor
informalmente para dizer que não sabe de nada, que nunca conviveu com nenhum
dos acusados, que não tem imóveis presenteados por empreiteiros, que a sua
fortuna tem origem em palestras proferidas ao redor do mundo, que o seu filho é
empresário de sucesso por seus próprios méritos, que nunca neste país existiu
alguém mais honesto do que ele, que as insinuações contra ele são promovidas
pela imprensa desonesta, que o “mensalão” não existiu, que o Zé agiu por conta
própria e, por isto, merece estar em cana, e, como nos depoimentos que se
presta às autoridades policiais, nada mais lhe foi perguntado, e aos costumes
disse nada!
Sobre
“Chico Quiabo”, dizem que morreu dentro de um caldeirão de galinhada; Houdini,
não escapou de uns socos, desprevenido, foi espancado por um universitário e
morreu de peritonite, e, Lula, continua escorregando e escapando das malhas da
Justiça; até quando, não se sabe. Parece até alma do outro mundo!
(Paulo
Castelo Branco)
Quinta-feira,
28 de janeiro, 2016
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