A cidade de São Miguel do Araguaia, 474
quilômetros de Goiânia, viveu momentos de terror na noite de quarta-feira
(13/1). Segundo testemunhas, uma quadrilha formada por oito homens armados de
fuzis invadiram a cidade e explodiram vários caixas eletrônicos de duas
agências bancárias: Banco do Brasil e Bradesco. Durante a ação, a assessora do
Ministério Público de Goiás (MP-GO), Vivianny Costa, de 27 anos, foi morta com
um tiro no pescoço.
Assustados,
os moradores da cidade gravaram vários vídeos do momento em que os assaltantes
atiravam e detonavam explosivos que deixaram em frangalhos as agências
bancárias. O destacamento da Polícia Militar local pouco pode fazer em
represália aos bandidos fortemente armados.
A
superioridade bélica da quadrilha era grande demais para qualquer tipo de
resistência, o que forçou os militares esperarem reforços especializados, como
o Comando de Operação de Divisas (COD), e as equipes do Batalhão de Operações
Especiais (Bope) e do Grupo de Radiopatrulha Aérea (Graer), ambos sediados em
Goiânia.
Porém,
a questão principal que merece ser debatido é sobre o quanto o aparato de
segurança pública do Estado, e da União, estão preparados para lidar com este
tipo de crime, principalmente no que se refere ao serviço de informação.
Esta
ação criminosa que aterrorizou os moradores da pequena São Miguel do Araguaia —
de pouco mais de 23 mil habitantes —, apelidado de “novo cangaço”, é uma
modalidade delituosa já conhecida das autoridades, principalmente dos Estados
do Centro-Oeste e Norte do Brasil.
Afinal,
como combatê-los, levando em consideração que estas quadrilhas especializadas
agem em cidades pequenas do interior, onde as guarnições policiais são menores
e com pouco poder de fogo?
Primeiramente
é preciso mais investimentos em inteligência. Os setores de serviço reservado
da PM precisam estar em sintonia com as delegacias especializadas da Polícia
Civil. Mapear as áreas em que já ocorreram este tipo de crime e trabalhar
preventivamente é mais do que necessário. A troca de informação com as polícias
de Estados vizinhos, sobretudo o Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins, é
de fundamental importância.
Segundo:
é preciso equipar melhor e armar adequadamente as equipes de policiamento
especializado no interior. É necessário, também, encontrar uma saída prática
para trabalhar melhor o material humano disponível. No mínimo, numa ação
criminosa como esta ocorrida em São Miguel do Araguaia, em que os assaltantes
usaram fuzis (provavelmente AR-15 e AK-47), os policiais necessitariam ter a
disposição para uma resposta à altura, fuzis calibre 5,56 mm, como os modelos
carabina Colt M-4 ou o de fabricação alemã HK G36, comumente utilizado pelas
principais polícias do mundo. Há no mercado nacional de armas alguns modelos
similares, como o novíssimo Imbel IA-2 (fabricado pelo Exército), também no
calibre 5,56mm e disponível na versão 7,62mm.
É
preciso lembrar que nossos policiais precisam também ter a disposição coletes
balísticos, já que a vida é o principal patrimônio. Mais: viaturas VW Gol ou
Palio Weekend não são páreos para caminhonetes e carros de motorização 2.0. Por
falar em viatura, a PM goiana adquiriu em 2014 um veículo blindado policial, um
mesmo modelo usado pela SWAT americana que, até o momento, ainda não chegou.
Tal
veículo, que vai equipar o Bope (unidade subordinada ao Comando de Missões
Especiais (CME)da PM) dará plena vantagem às equipes táticas numa situação como
esta de São Miguel do Araguaia. Logicamente tal viatura estará sempre sediada
em Goiânia, mas o seu deslocamento é rápido e, em caso de confronto, não há
dúvida: os “caveiras” goianos sairiam vitoriosos.
Terceiro:
não dá mais para conduzir a política de segurança pública no Brasil apenas com
o protagonismo dos Estados e dos municípios. A União, que retém a maior fatia
do bolo orçamentário, precisa urgentemente participar de forma direta da
segurança pública nas cidades. Como? Destinando mais verbas para área,
implementando a integração entre as forças policiais estaduais e federais,
investindo mais em equipamentos modernos, armamentos, viaturas, aeronaves e
sistemas eletrônicos de inteligência.
Quarto:
Onde estes criminosos conseguem o acesso a armas e munições de uso exclusivo
das Forças Armadas? A resposta é simples: pelas fronteiras, sobretudo com o
Paraguai e Bolívia. Mais uma vez o governo federal precisa acordar para esta
questão e investir pesado na fiscalização dos desafiantes limites territoriais
terrestres do País. Não somente armamento e munições adentram o território
nacional pelas fronteiras, há também a incidência de entrada de explosivos,
como os usados na ação de ontem, além de drogas, contrabandos e veículos
furtados.
Por Frederico
Vitor
Sábado, 16 de
janeiro, 2016
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