O
ano de 2016 será decisivo para o futuro do governo de Dilma Rousseff. Será
decisivo por várias razões, e uma delas é por não poder repetir a inoperância
desastrosa que o caracterizou em 2015, com uma estimativa de queda do PIB de
3,7% e uma inflação que ultrapassou os 10%. As situações econômica e política a
que chegou o país são tão graves que até mesmo Dilma, que não costuma dizer a
verdade, chegou a admitir, em entrevista a um grupo de jornalistas, que de fato
errou.
É
certo que não confessou o erro verdadeiro –que foi, entre outras coisas,
valer-se das pedaladas para garantir sua reeleição–, mas admitir que errou já é
uma atitude realmente inesperada para quem não erra nunca. Mas o que aconteceu
para que ela adotasse, tão inesperadamente, tal atitude? Não tenho dúvida de
que se trata de uma questão de vida e morte. Ou seja, Dilma só a adotou porque
viu nela o único caminho para se livrar da situação crítica a que, em função de
seus erros, conduziu o país.
Não
é que basta admitir ter errado para, com isso, superar as dificuldades nas
quais o país se debate. Não basta, claro, mas é o primeiro passo para ela
tentar ganhar credibilidade junto à opinião pública e poder enfrentar o seu
agora mais sério adversário: o PT. O leitor provavelmente ficará surpreso com
esta minha afirmação, mas é que, em política, tudo pode ocorrer, especialmente
quando se trata de situações como esta que o populismo petista criou no Brasil.
O
leitor certamente se lembra de quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso
criou os programas Bolsa Escola e Bolsa Alimentação: o primeiro para ajudar na
educação dos filhos de trabalhadores e o segundo para pagar-lhes a comida
quando desempregado. Lula, na época, foi contra esses programas mas, eleito
presidente, os manteve, fundindo-os no Bolsa Família e triplicando o número de
beneficiados. Com isso, onerou os cofres públicos e bagunçou o coreto, tornando
inviável o controle da concessão dos benefícios. É que o objetivo do populismo
não é resolver os problemas dos necessitados, mas explorá-los para manter-se no
poder.
Assim
fizeram Lula e Dilma, valendo-se do dinheiro público em programas
assistencialistas e outras medidas equivocadas que contribuíram para a grave
situação na qual nos encontramos hoje. Com o propósito de manter-se no poder,
os presidentes petistas, em vez de investirem no crescimento econômico do país,
estimularam o consumismo, chegando ao ponto de usar recursos públicos para
financiar empresas privadas e assim garantir preços acessíveis ao consumo
popular. Para isso e para outros procedimentos irresponsáveis, usaram recursos
da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil e do BNDES, contribuindo assim
para a situação crítica em que se encontra hoje a economia brasileira.
A
situação já era essa em 2014, quando Dilma, para se reeleger, afirmava que a
economia brasileira ia de vento em popa. Como havia mentido, ao começar o novo
mandato, teve de tomar as medidas necessárias para evitar o naufrágio. Foi
então que convidou Joaquim Levy, cuja visão de economista é contrária à sua,
para o ministério da Fazenda. Levy, então, propôs medidas necessárias à
superação da crise, medidas essas que, inevitavelmente, visavam cortar despesas
e fazer o ajuste fiscal. Noutras palavras, o contrário do que o populismo
petista havia feito nestes 12 anos de governo.
Imediatamente,
o PT se opôs a elas. Claro, porque contrariavam quase tudo o que o os governos
petistas fizeram para se perpetuar no governo e, consequentemente, caso fossem
postas em prática, atingiriam os seus interesses políticos e levariam
inevitavelmente à sua derrota eleitoral, particularmente se impostas por Dilma,
membro do partido. Resultado: quase todas as medidas propostas por Levy foram
inviabilizadas por eles, e até Lula, que inventara Dilma, atuou contra elas.
Sim, porque, sem as benesses do populismo, o lulapetismo estará perdido. Mas o
governo Dilma, como fica? Se a estagnação de 2015 se mantiver, ela dificilmente
se sustentará no poder. Em face disso, só há uma saída: fazer o contrário do
que o PT pretende que se faça. Não por acaso, ela declarou na tal entrevista:
"Não governo para este ou aquele partido, governo para a sociedade".
Vai morrer gente!
(Ferreira Gullar)
Domingo,
17 de janeiro, 2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário