Se
em 2015 os brasileiros sofreram na pele os efeitos da caótica deterioração das
contas do governo federal, em 2016 será a vez da população dos Estados,
principalmente a que precisa de serviços públicos para seguir vivendo. Para
alguns governadores a tragédia não demorou, chegou em 2015 mesmo e atingiu com
força Estados ricos, como Rio Grande do Sul (deixou de pagar a dívida com o
governo central e atrasou salários dos servidores) e Rio de Janeiro (a saúde
entrou em colapso, com hospitais fechados, médicos em greve e doentes morrendo
na porta sem atendimento). A aflição e o medo do que vem em 2016 levou
governadores a se reunirem em Brasília e pedir socorro financeiro ao governo
federal. Foram muitos os apelos e a maioria pede permissão para dar calote (na
União) ou ampliar suas dívidas. Como de praxe, o ministro da Fazenda, Nelson
Barbosa, não garantiu nada e formalmente prometeu estudar as propostas.
É
aquela tragédia do roto pedindo esmola ao esfarrapado. Cofre vazio, sem grau de
investimento que lhe garanta crédito barato, arrecadação de impostos desabando,
o governo federal não dá conta de pagar o essencial de suas obrigações; como
abrir mão do dinheiro que pinga todo mês com o pagamento das dívidas dos
Estados? A penúria começa agora a se alastrar pelos Estados e cidades, com a
agravante de que governadores e prefeitos lidam diretamente com a provisão de
serviços públicos (educação, saúde, transportes, segurança, saneamento) e o
sofrimento mais amargo recai sobre a população pobre que deles precisa. E não
se engane, caro leitor: a situação vai piorar, porque em ano de eleição, como
este, a prioridade deles será destinar verbas para obras faraônicas e gastos de
campanha eleitoral. As carências urgentes da população vão esperar mais tempo,
talvez até quando a economia e a receita tributária melhorarem.
O
diabo é que os políticos brasileiros presidentes, governadores, prefeitos já
assumem o cargo pensando na próxima eleição. Obras são as de maior visibilidade
eleitoral, não as de necessidade. Alianças políticas multiplicam a contratação
de apadrinhados ou concentram investimentos em paróquias eleitorais do aliado,
deixando a maioria da população desassistida.
Ao
planeja recalcular gastos em suas gestões, governadores e prefeitos elegem
operações de somar e multiplicar e desprezam as de subtrair e dividir.
Preparam-se para cenários de bonança e saem por aí gastando. Quando chega a
tempestade, eles culpam outros. Ora é a crise internacional, ora a recessão ou
a queda da receita com tributos, nunca é a falta de planejamento para enfrentar
situações adversas previsíveis.
O
ano de 2016 será muito difícil para os brasileiros, talvez pior do que foi
2015, porque parte de uma base comparativa baixa. Cálculos do PIB indicam que
nesses dois anos de recessão o Brasil e sua população vão perder mais de R$ 350
bilhões em riqueza, renda, empregos, conforto, bem-estar e felicidade. Não é
pouca coisa. (Suely Caldas)
Domingo,
03 de janeiro, 2016
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