Um
empreiteiro do primeiro time está diante de um advogado de sua empresa e,
pensando alto, reclama da atitude da presidente Dilma Rousseff, que, na visão
dele, estava pouco se lixando para a sorte dos empresários pegos na Operação
Lava-Jato. Diz ele: "A Dilma fica posando de virtuosa como se não tivesse
nada com o que está acontecendo. Ela declarou pouco mais de 300 milhões de
gastos de campanha, e nós demos para ela quase 1 bilhão. Como ela pensa que o
restante do dinheiro foi parar na campanha?". Esse desabafo reflete uma
situação de fato e, além de ser uma confissão de crime, descreve com exatidão o
sentimento comum entre muitos dos maiores doadores do PT na campanha
presidencial de 2014. Eles deram dinheiro contabilizado, devidamente registrado
no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas também fizeram contribuições
clandestinas das mais diversas maneiras usando suas poderosas estruturas
empresariais. Outro empreiteiro avança mais: "Essas doações foram feitas a
partir da contratação de consultorias indicadas pelos políticos ou por meio de
pagamentos a publicitários diretamente no exterior". A Polícia Federal já
encontrou evidências dessas operações casadas em que empresas são agraciadas
com obras e financiamentos públicos generosos e, em troca, contratam aqui ou no
exterior "consultorias" ou agências de publicidade às quais devolvem
parte do butim. Um exemplo dessa triangulação criminosa está sendo investigado
em um inquérito sigiloso que tramita em Curitiba e tem como personagem
principal o marqueteiro João Santana, artífice das campanhas eleitorais do
ex-presidente Lula e da presidente Dilma.
A
história começa nas primeiras horas da manhã do dia 5 de fevereiro do ano
passado, quando uma equipe de policiais federais bateu na porta do engenheiro
Zwi Skornicki, em um condomínio da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Os
agentes estavam atrás de computadores e documentos. As buscas eram parte da
nona fase da Operacão Lava-Jato, batizada de My Way. Estavam na mira dos
policiais onze operadores do petrolão que haviam sido denunciados por Pedro
Barusco, ex-gerente da Petrobras. Em acordo de delação, Barusco revelou os
detalhes de como funcionava o esquema de corrupção na diretoria de Serviços da
estatal. Apenas ele, um funcionário de terceiro escalão, havia embolsado 97
milhões de dólares, dinheiro que escondia em contas secretas no exterior.
Barusco contou como eram pagas as propinas em troca dos contratos, em especial
aqueles destinados à construção de plataformas e sondas para exploração de
petróleo em águas profundas. Organizado, ele tinha uma lista com o nome de
todos os operadores, quem cada um deles representava e, principalmente, o que
cada um fazia.
Zwi
Skornicki, o morador do condomínio de luxo da Barra da Tijuca visitado pelos
federais, era um dos nomes da lista de pagadores de propina. Havia anos ele era
o representante no Brasil do estaleiro Keppel Fels, de Singapura, dono de
contratos bilionários com a Petrobras. Segundo Barusco, de 2003 a 2013 Zwi foi
o responsável por pagar - a ele, a outros funcionários da Petrobras e também ao
PT - as comissões devidas pelo estaleiro asiático. Eram provas desses
pagamentos que os agentes procuravam na casa do operador, mas a busca acabaria
abrindo uma nova linha de investigação. Ao analisarem o material apreendido, os
investigadores encontraram uma carta enviada em 2013 a Zwi com as coordenadas
de duas contas no exterior, uma nos Estados Unidos e a outra na Inglaterra. A
remetente da correspondência, manuscrita, era Mônica Moura, mulher e sócia do
marqueteiro João Santana. Intrigante. Que ligação financeira poderia haver
entre a esposa e sócia do marqueteiro da presidente da República e um operador
de propinas do petrolão? Estranho. Num mundo digital, a comunicação ainda se
deu por carta - talvez para não deixar rastros em e-mail ou mesmo em mensagem telefônica.
Por:
Rodrigo Rangel – VEJA online
Segunda-feira,
18 de janeiro, 2016
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