Organização
e estridência nas redes sociais, fidelidade quase canina e indiferença às
polêmicas compõem o mosaico de características marcantes de quem vota no
candidato do PSL à Presidência, indiscutivelmente o mais abnegado eleitor
Se
é possível tachar alguém de fiel na atual corrida eleitoral, estes são os
eleitores de Jair Bolsonaro, candidato do PSL à Presidência. A despeito dos
sucessivos petardos lançados contra o aspirante ao Planalto, desde o início da
campanha eleitoral, seu rebanho permaneceu intacto, como se imbuído de uma fé
inabalável. A ele foi incorporado outro grupo – e isso ajuda a explicar a
ascensão de Bolsonaro na reta final da eleição: o time cada vez mais robusto
dos antipetistas. O jornalista maranhense Linhares Júnior e a microempresária
de Brasília Cris Cavalli estão entre os que resolveram surfar nessa onda.
Integram os cerca de 30% da população que, conforme mostram as últimas
pesquisas do Ibope e do Datafolha, optaram por votar no domingo 7 no candidato
do PSL. Ouvidos por ISTOÉ, eles convergem numa avaliação que parece ter sido determinante
para a escolha. Eles conhecem as declarações polêmicas do candidato do PSL.
Sabem dos pendores antidemocráticos manifestados pelo vice, general Hamilton
Mourão, mas aceitam a empreitada, diante do que enxergam de certeza na outra
opção. “Bolsonaro pode ser e pode não ser. Já o PT não tem condicional. Será
péssimo”, afirma Linhares. “O PT ficou rico e roubou as economias brasileiras”,
completa Cris Cavalli.
A
curva ascendente de Bolsonaro parecia uma miragem na semana que despontava com
os ecos das ruidosas manifestações do sábado 29, quando milhares de mulheres
saíram às ruas em passeatas cujo slogan era “Ele não!”. Contribuíam para o
cenário aparentemente desfavorável o desconforto das declarações de Mourão,
pregando o fim do 13º salário, e o polêmico processo de divórcio de sua
ex-mulher Ana Cristina. Na cúpula do PT e mesmo em outros partidos, vicejava a
avaliação de que a candidatura Bolsonaro sofreria abalos e que Haddad poderia
mesmo ultrapassá-lo na reta final do primeiro turno. Deu-se o oposto. Embalado
pelas não menos estrepitosas passeatas do “Ele sim”, de domingo 30, o candidato
do PSL que perdia em todos os cenários de segundo turno passou a aparecer
competitivo e até vitorioso num deles. Mais do que isso. Bolsonaro ganhou
musculatura eleitoral, ultrapassou Haddad entre as mulheres e uma vitória no
primeiro turno passou a freqüentar o terreno do possível, embora ainda não
provável. “Bolsonaro virou a encarnação do antipetismo”, resume o cientista
político, professor da Universidade de Brasília (UnB), David Fleischer. “A
personificação de uma proposta de mudança do modelo tradicional de fazer
política, mesmo sendo deputado há cinco mandatos. Os eleitores entendem que o
PT alinhou-se a esse modelo, marcado pela corrupção, pelos conchavos, e não
querem mais isso. Como enxergavam nos demais candidatos mais competitivos
também esse tipo de posicionamento, foram para Bolsonaro”. O cientista político
André Pereira César, da Hold Assessoria Legislativa, reforça: “Há entre os
eleitores de Bolsonaro a impressão de que PT e PSDB se tornaram todos iguais. E
eles se unem contra o que consideram as mazelas da política”.
Diretora do Ibope não descarta
a possibilidade de a eleição
ser decidida neste domingo em
favor de Jair Bolsonaro,
em franca ascensão na reta
final da campanha
Não
à toa, os ataques contra Bolsonaro não surtiram o efeito acalentado pelos seus
adversários. Ao contrário, pareceram reforçar o sentimento antipetista
traduzido pelo candidato do PSL. Para André Pereira César, os movimentos ocorridos
desde o sábado 28 atingiram efeito inverso por algumas razões. Primeiro,
colocaram Bolsonaro no centro do debate, quando até então, desde a sua prisão,
esse protagonista era o ex-presidente Lula. “É o famoso falem mal, mas falem de
mim”, resume. Se Lula vitimizava-se, preso em Curitiba, sem uma participação
presencial na campanha, desde a facada desferida por Adélio Bispo a vítima
passou a ser Bolsonaro, este também fora da campanha, de forma presencial. A
segunda razão foi “o salto alto do PT”, que não entendeu qual seria o momento
de tirar Lula do centro da campanha. Haddad beneficiou-se da transferência dos
votos de Lula, mas, depois que tal transferência se esgotou, passou a ser o
herdeiro da rejeição a ele. Para piorar, setores do PT passaram a reforçar o
tom revanchista de “acerto de contas” contra quem apoiou o impeachment de Dilma
Rousseff e a prisão de Lula.
Enquanto
é galopante a rejeição a Haddad, a resiliência demonstrada pela candidatura
Bolsonaro impressionou até mesmo o seu staff de campanha. Durante o primeiro
turno, Bolsonaro manteve sua candidatura viva, apesar de várias intempéries: um
atentado a faca ocorrido em 6 de setembro; várias denúncias contra ele como a
manutenção de uma funcionária fantasma em uma barraca de açaí no Rio de
Janeiro; um processo judicial impetrado por uma ex-esposa, que o acusou de ter
furtado joias de um cofre e ter lhe feito ameaças de morte; acusações de
enriquecimento e atos de protesto. A tudo, Bolsonaro sobreviveu. A entourage do
candidato do PSL atribui a resistência à força da militância que se
arregimentou especialmente nas redes sociais – hoje a principal trincheira do
capitão. Em muitos momentos, os analistas de redes sociais observaram que a
resposta a eventuais denúncias ultrapassou a própria notícia, em termos de
compartilhamento e amplitude nas redes sociais. Ou seja: a versão apresentada
como reação e resposta prevaleceu sobre os ataques. O tiro dos adversários, com
o perdão do trocadilho, acabou saindo pela culatra.
Sucessão de reveses não foi
capaz de tirar a liderança do
candidato do PSL nas
pesquisas. Perto da linha de chegada,
campanha é reforçada por
antipetistas de carteirinha
Meio
que sem querer, seus opositores podem ter disparado mais um tiro a atingir o
próprio pé. Em alusão às pequenas criaturas que auxiliam o vilão do desenho
animado “Meu Malvado Favorito”, os militantes de Jair Bolsonaro são conhecidos
pelos adversários de “bolsominions”. De novo, o termo cunhado pela militância
opositora a Bolsonaro pode ter constituído um erro. O vilão do desenho animado
é simpático. Seus auxiliares, mais ainda.
(IstoÉ)
Sábado,
(06/10/2018)
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