O
deputado federal fluminense Jair Messias Bolsonaro, de 63 anos, foi eleito
neste domingo, 28 de outubro de 2018, o novo presidente da República. Com 92%
das urnas totalizadas às 19h08, ele lidera a apuração com 55,63% dos votos
válidos — seu adversário, Fernando Haddad (PT) tem 44,37%.
Capitão
da reserva, ele é o primeiro político saído do Exército a assumir o comando do
país desde 15 de março de 1985, quando o general João Baptista Figueiredo
deixou a Presidência para dar lugar ao advogado José Sarney, até então senador
pelo Maranhão e vice de Tancredo Neves na chapa eleita indiretamente pelo
Congresso.
Deputado
federal pelo PSL (Partido Social Liberal), com cerca de três décadas de vida
parlamentar, é também o primeiro presidente eleito fora da polarização entre
PSDB e PT que marcava a corrida presidencial desde 1994. A posse será em 1º de
janeiro de 2019.
Seu
vice, Antônio Hamilton Martins Mourão (PRTB), de 65 anos, é general da reserva
do Exército.
Pai
de cinco filhos, Bolsonaro está em seu terceiro casamento, com Michelle de
Paula Firmo Reinaldo Bolsonaro. Seus filhos são Flávio, eleito senador no Rio,
Carlos, vereador também no Rio, e Eduardo, reeleito neste ano deputado federal
por São Paulo com a maior votação para o cargo no país, todos do casamento com
Rogéria Nantes Nunes Braga. É pai ainda de Renan, que teve com Ana Cristina
Siqueira Valle, e de Laura, do atual casamento.
Bolsonaro
nasceu em Campinas (SP), mas foi criado na cidade de Eldorado, a 243 km de São
Paulo. Formou-se em 1977 na Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende
(RJ), e chegou à patente intermediária de capitão. Em 1988, foi para a reserva,
após ter sido eleito vereador no Rio de Janeiro. Ele já passou por oito
partidos.
Atualmente
no PSL, sigla que até este ano possuía apenas oito das 513 cadeiras na Câmara
dos Deputados, o deputado foi responsável pelo crescimento do partido no último
dia 7 de outubro. Foram eleitos graças à onda que se formou em torno de seu
nome 52 deputados federais, a segunda maior bancada, atrás apenas do PT, com
56. A agremiação também elegeu quatro senadores.
Como
político, Bolsonaro dedicou os últimos 27 anos à vida parlamentar em Brasília,
tendo apresentado, no período, 162 projetos e aprovado apenas dois. O primeiro
deles, prorrogava benefícios fiscais aos setores de informática e automação. O
segundo autorizava o uso da fosfoetanolamina sintética — substância conhecida
por “pílula do câncer”, cuja eficácia nunca foi comprovada cientificamente —
por pacientes com a doença.
Pertencente
ao chamado baixo clero no Congresso, Bolsonaro começou a se credenciar como
candidato à Presidência em meio à derrocada dos governos petistas e ao
impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016.
Com
um discurso anti-establishment e anticorrupção, o ex-militar canalizou a
insatisfação dos eleitores com o partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, que está preso em Curitiba condenado em segunda instância por corrupção
e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá (SP). Sua defesa diz que
ele foi condenado sem provas e que é vítima de perseguição de setores do
Judiciário. Lula recorre da decisão.
O
deputado também começou a ganhar destaque na mídia por seu discurso de tons
machistas, homofóbicos e racistas. Ele é réu no STF (Supremo Tribunal Federal)
por incitação ao crime de estupro e injúria, em caso envolvendo a deputada
federal Maria do Rosário (PT). Bolsonaro já foi condenado em 2015, em primeira
instância, na Justiça do Distrito Federal, a pagar indenização de 10 mil reais
à petista por danos morais, por ter dito que não a estupraria porque ela “não
merece”. Ele recorre.
Também
já foi julgado no Supremo neste ano pelo crime de racismo, do qual foi
absolvido, por 3 votos a 2.
Campanha
Com
apenas oito segundos de propaganda eleitoral no primeiro turno, o ex-militar
viabilizou sua candidatura pelas redes sociais, na qual é bastante atuante. No
Twitter, possui 1,9 milhão de seguidores.
O
candidato também foi beneficiado por tempo espontâneo de TV pela cobertura do
atentado que sofreu em 6 de setembro, quando foi esfaqueado por Adelio Bispo do
Santos durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG). Segundo a Polícia
Federal, o ataque foi motivado por inconformismo político.
Bolsonaro
passou por duas cirurgias para a reconstrução e desobstrução do intestino e
ficou três semanas internado. Mesmo com liberação do médicos, ele se recusou a
participar de debates na televisão contra Fernando Haddad, por “estratégia”
política. Foi a primeira vez desde a redemocratização do país que um encontro,
na TV, entre candidatos à Presidência, com o objetivo de esclarecer aos
eleitores as propostas de governo, não foi realizado no segundo turno.
Sua
candidatura começou a decolar no primeiro turno a partir de 29 de setembro,
quando protestos organizados por mulheres, sob a bandeira #EleNão, ocorreram
nos 26 estados e no Distrito Federal. Adversários acusam sua campanha de ter
disseminado notícias falsas pelo aplicativo WhatsApp para atacar Haddad e
conseguir o apoio de eleitores conservadores e religiosos.
Em
19 de outubro, após reportagem do jornal Folha de S.Paulo, o TSE (Tribunal
Superior Eleitoral) abriu investigação judicial solicitada pelo PT para apurar
se Bolsonaro se beneficiou de envios maciços de mensagens por meio do WhatsApp.
Os envios teriam sido financiados por empresas em contratos milionários e não
declarados, o que configura caixa dois de campanha. O deputado negou qualquer
irregularidade e pediu o arquivamento da ação, que ainda corre na Justiça.
Na
reta final da campanha, o ex-militar chegou a cair nas pesquisas de intenção de
voto após fala de seu filho Eduardo Bolsonaro, segundo quem bastaria “um
soldado e um cabo” para fechar o STF (Supremo Tribunal Federal). Seu discurso
foi duramente repudiado pelo ministro Celso de Mello, decano do tribunal, que
classificou a fala de “golpista”. Bolsonaro disse ter repreendido o filho.
Também
prejudicou sua candidatura um discurso que fez para apoiadores que estavam na
avenida Paulista, em São Paulo, em que dizia, por telefone, que “varreria do
mapa os bandidos vermelhos do Brasil”. “Essa turma, se quiser ficar aqui, vai
ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão para fora ou vão para a
cadeia”, afirmou.
Em
seu governo, Bolsonaro deve ter o apoio de partidos do chamado centrão. Em 2 de
outubro, a bancada ruralista, que agrega 261 deputados federais e senadores no
Congresso, anunciou sua adesão à campanha do ex-militar. Ele tentará aprovar
como presidente medidas liberais na economia, como a privatização de estatais,
e conservadoras nos costumes, como a proibição das discussões sobre questões de
gênero nas escolas. (VEJA)
Domingo,
28 de outubro, 2018 ás 19:00
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