Assim
que voltar das imerecidas férias, esticadas até o Carnaval, meados de
fevereiro, o Congresso vai lidar com o impeachment de Dilma Rousseff e com as
reformas de Dilma Rousseff.
Até
lá, o povo deve estar um tanto mais esfolado pela crise. Até lá, o PT, os
movimentos sociais de esquerda e a esquerda do Planalto talvez já se sintam
traídos pela nova equipe econômica. Caso não se sintam muito traídos, os donos
do dinheiro grosso vão preparar a malhação do Judas. Governo entre cruz e
caldeirinha.
O
governo prometeu que em janeiro apresenta reformas: 1) aumento da idade mínima
para a Previdência; 2) desmonte parcial da CLT; 3) lucro maior ou exigências
menores de garantias para empresas nas concessões de infraestrutura; 4)
simplificação de impostos; 4) algum petisco na área de financiamento de médio e
longo prazos para empresas; 5) item antecipado, Dilma facilitou a vida das
empreiteiras da corrupção, que poderão fazer contratos com o governo caso
paguem multa, entreguem uns dedos e assinem boletim de bom comportamento
futuro.
Os
manifestantes que fizeram barulho na rua contra a deposição da presidente não
vão gostar nada disso, óbvio. Gostarão menos ainda porque não haverá dinheiro
para expandir, quiçá manter, programa social.
Convém
lembrar que o ministro do Trabalho e da Previdência Social é Miguel Soldatelli
Rossetto, soldado da esquerda do PT. A esquerda do Palácio do Planalto também
espera "medidas de estímulo".
Pode
bem ser que, entre festas de virada de ano e Carnaval, o povo médio da rua
tenha esquecido de impeachment. Mas o que será feito de raiva, estupor, medo do
futuro e sofrimento extra? Até setembro, a renda média do trabalho não havia
caído pelo Brasil (em relação ao ano passado), nem o número de pessoas
empregadas —setembro é o mais recente dado nacional disponível. O consumo caía,
mas a renda não.
Nas
seis maiores metrópoles, onde a política faz mais barulho, a situação já está
bem ruim. Em novembro, a renda caía quase 9% em relação a novembro de 2015. É
provável que a situação nacional de emprego e rendimento vá por esse mesmo
caminho tenebroso, ainda mais porque a economia ainda encolherá no primeiro
trimestre do ano novo. Os serviços sociais, saúde em particular, estarão ainda
mais estropiados pela penúria de prefeituras, Estados e União.
Essa
Câmara que tem pelo menos 42% de votos pelo impeachment vai aprovar as reformas
de Dilma Rousseff? Esse Congresso indizível, quando não facinoroso, que passou
a maior parte de 2015 arruinando o país e dinamitando o governo, vai fazer algo
que preste e colaborar para aliviar a situação de Dilma Rousseff?
Pressupõe-se
que o plano de reformas será algo mais que promessas de Ano Novo, que não virá
enxertado de maluquices "desenvolvimentistas", no máximo uma gorjeta
para a "esquerda". Também não se está a dizer que o plano seja bom,
bastante, bem articulado ou que dê conta de compensar os anos de regressão de
Dilma 1. Está se dizendo apenas que as promessas mínimas podem ser dinamitadas.
Caso
o pacote pareça um monstrengo malfeito ou ainda um politicamente inviável, o
"mercado" vai assar a nova equipe econômica ainda na Quaresma.
(Vinicius
Torres Freire)
Quarta-feira,
23, dezembro, 2015
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