Com
todo respeito, presidente, acho que a senhora devia renunciar. Os sinais já
estão no ar, os primeiros tremores de um terremoto já vibram sob nossos pés.
Acho que a senhora não vai aguentar mais três anos e meio nesse caos em que o
Lula, o PT e o Mantega nos lançaram, fazendo o país entrar numa depressão.
Aliás
a senhora deve estar também numa cava depressão, com um país inteiro gritando “Fora”. Se fosse eu, presidente, teria
enlouquecido por rejeição. Vejo seu rosto triste e tenso e lembro da postura corajosa
na sua foto, jovem, de óculos, diante de militares tapando o rosto. E vejo que
um retrato rima com outro, pois sua pertinácia ou teimosia diante do impossível
continua a mesma. Era impossível a vitória da guerrilha urbana e hoje está
quase impossível governar o Brasil. O fato de uma pessoa ser heroica não impede
que esteja errada. Talvez a senhora tenha sido heroína, mas sei que está
errada. Sei que sua agenda de esquerda de longa data ajuda-a a destroçar o país
em nome de uma loucura ideológica morta. Sei que é impossível governar um país
capitalista com uma cabeça comunista. Isso provoca uma esquizofrenia no poder
que se alastra pelas instituições, abrindo as portas para a maior história de
corrupção do mundo. E me dói, presidenta, vê-la como bode expiatório dos crimes
que eles cometeram. Eles abriram mão de suas convicções antigas, mas a senhora
segue fiel à sua utopia brizolista enquanto eles a abandonam. O Lula — é sempre
bom lembrar — é a pessoa mais nefasta deste país e está tramando contra a senhora,
pensando até em arrumar um posto de ministério para ser julgado com foro
privilegiado, quando seus malfeitos se revelarem, pois tem medo de ser preso.
Além
disso, petistas e aliados perceberam que a senhora está enfraquecida e
resolveram ganhar prestígio condenando-a. Todos querem tirar um pedacinho da
senhora, pois são ratos abandonando o navio. Eram 400 aliados; hoje, só há 120.
E
não adianta dar verbas e cargos para eles; nada os satisfará — vão embolsar a
grana e continuar sabotando-a. Inclusive o vergonhoso PSDB traindo a si mesmo,
enturmado com a bicanca voraz do Eduardo Cunha e com o cabelinho implantado do
Renan, que aprovam projetos-bomba para detoná-la, mesmo que país morra junto.
Os dois, investigados pela Lava-Jato, aprovam medidas absurdas para aumentar os
gastos públicos e se fortalecerem às custas de seu fracasso.
Sob
o som dos panelaços vi sua fala gaguejante no programa do PT, diante da
evidência do desgoverno. Suas tentativas de sorrir com simpática despreocupação
são constrangedoras, e o povo nota. O país inteiro está contra Vossa
Excelência, quando deveria estar contra aqueles que criaram a armadilha em que
a senhora caiu. Sua resistência está muito solitária e não basta mais declarar
que resiste, como boa guerrilheira que já foi.
Sua
renúncia não seria uma humilhação e só abrilhantaria sua imagem futura. A
senhora teria reconhecido o perigo que corremos todos, com a devastação da
indústria, do comércio e da esperança pública. E a culpa não é toda sua.
Já
está disseminado na população um refrão de desapreço à senhora. Já estão
lançadas as bases de um impeachment... Sua saída espontânea provaria que a
senhora aceita as regras do jogo que perdeu. Quando se contamina a opinião
popular, para além da política, a barra pesa. Até mesmo um recôndito machismo
ressurge contra uma mulher no governo. “Mulher no volante, perigo constante”,
me disse ontem um taxista. Creio que até o Lula nomeou a senhora porque era uma
mulher considerada trabalhadeira e obediente a seus interesses, até ele voltar
em 2014. Será que ele nomearia um homem que pudesse contestá-lo? Talvez haja
por aí um machismo sutil...
Quando
o Collor berrou às multidões “Não me deixem só”, todas as caras foram pintadas,
talvez até mesmo a da senhora. E no entanto, presidente, a era Collor foi um
troco em relação aos bilhões roubados nos últimos 12 anos, por causa da
porteira aberta pelo Lula para a invasão da porcada magra ao batatal.
Seu
grande erro, presidente, típico de tarefeira militante, foi fazer vista grossa
para o despautério à sua volta. Sei como funciona: “Ah... eles são aloprados em
nome de uma ‘linha justa’, lutar contra isso seria moralismo pequeno-burguês”.
Por isso, a senhora deixou passar negligentemente a compra da refinaria de
Pasadena no Conselho de Administração da ex-Petrobras, um dos símbolos
intocáveis de sua juventude. Além disso, a senhora está sendo metralhada pelos
dois presidentes do Congresso, que aprovam medidas absurdas contra os gastos
públicos, para se fortalecerem às custas de seu fracasso.
Hoje
o país não tem fins e nem meios. Ninguém sabe mais quais seriam os meios e não
sabe com que fins.
As
várias reformas que FHC deixou preparadas foram ignoradas e desfeitas e hoje só
nos resta o magro ajuste fiscal com que o pobre Levy, como um padre triste,
tenta convencer canalhas e cobras criadas que nunca souberam o que é interesse
nacional.
Agora,
o Temer e Mercadante estão querendo conciliar, mas é tarde demais.
Vem
aí a grande manifestação nacional no dia 16, pedindo sua cabeça. E isto é quase
um impeachment branco, o que deve lhe provocar uma angústia insuportável. A
senhora já esteve doente e tem de proteger sua saúde. Mas, em vez de fazer
autocrítica, sua cabeça de guerrilheira teima em resistir até o fim. Se a
senhora renunciar, vai ficar mais feliz. A senhora não é Getúlio Vargas. Além
disso, sua “resistência” não é apenas uma questão pessoal. Trata-se do país que
a senhora governa. A Dilma não é a Dilma — ela é presidente do Brasil sendo
desmanchado. Desista Dilma, antes que o carro do país tenha “perda total”.
Arnaldo
Jabor - O GLOBO
Terça-feira,
11 de agosto, 2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário