‘Tem
gente que passa a vida inteira reclamando do preço do leite, mas sempre vota
nos donos das vacas’. Apesar de estarmos ainda muito distantes do voto
consciente, nessas eleições a distância pode estar diminuindo. Desconfiança,
gerada pelo descrédito nos políticos. Nas TVs, os sorrisos e imagens
disfarçadas e distantes das reais intenções de maioria dos candidatos. Tenho
assistido e ouvido pacientemente (é muito desgastante) candidatos aos
legislativos aqui em MT. É paupérrimo o potencial apresentado, podendo até
caber alguma surpresa agradável na representação, pois o panorama e a
perspectiva de eleger candidatos consequentes na representação é muito pequena.
É uma garimpagem dificílima, levantando
informes sobre alguns desconhecidos (fora as figuras carimbadas, tanto na
reincidência quanto na familiocrácia). Não apresentam quase nenhuma referência
de contribuição (na sua história de vida) para melhoria de práticas políticas
ou de simples adesão na luta pela cidadania, decência política ou ações sociais
meritórias. A maioria dos candidatos puxados pelos grupos com dinheiro na
campanha são prepostos e/ou candidatos de si mesmos, alienados da demanda da
população. Grande parte dos postulantes talvez nem tem ideia da função social
dos mandatos. Não se criam identidades, muito menos com a ética e a lisura com
varinhas de condão. Na propaganda, sorrisos, cumprimentos e promessas
totalmente descoladas da realidade e das pretensões. Se eleitos, tornar-se-ão
como já vimos, figuras desprezíveis, sedentas por conchavos e negociatas.
A
prática real será o ‘toma-lá-dá-cá’, até que a população possa cassar mandatos.
Retrato da história que assistimos em MT e no Brasil, Casas Legislativas,
Executivos, torpedeados pela enxurrada de desvios éticos, sobressaindo a
corrupção. Não precisa ir longe, é só olhar para as Câmaras de Vereadores de
Cuiabá, Várzea Grande, Assembleia Legislativa e o Governo do Estado.
Legislativos como casas do desvio, raríssimos os que escapam desta conduta.
Verdadeiros ‘caras de pau’ na mídia eleitoral. Durante a Copa e agora nas
eleições. Casas Legislativas esvaziadas durante pelo menos quatro meses (aqui
em MT não votaram nem a Lei Orçamentária).
Após
passos de ‘jabuti de muletas’ a Câmara Federal deu o ‘exemplo’, apenas quatro
dias de votação em agosto e setembro, no Senado só oito sessões durante todo o
período. Aqui em MT o jogo é pesado, além da marcha lentíssima, digo,
esvaziamento do desempenho das atribuições da AL e de Câmaras Municipais de
Cuiabá e VG, a justificativa formal é a mesma: liberar os parlamentares para a
campanha eleitoral. A tal semana de esforço concentrado é uma tradição nefasta
em tempos eleitorais. Isso sem contar o período de férias parlamentares,
começadas após a inércia legislativa na Copa. Em 2010 a Câmara Federal teve apenas
quatro votações, e o Senado oito, com a tática de debates, onde não é exigida a
presença dos congressistas. Recebem vencimentos integrais e bonificações
absurdas.
Enquanto
isso, a máquina do Governo em peso na campanha eleitoral, agravada pelo absurdo
instrumento da reeleição.
A
presidente continua no cargo fazendo campanha em conluio e dubiedade com a sua
função. O PT era contra a reeleição, hoje se nutre disto. Já incorporou (em sua
nova cultura) até políticos profissionais. O poder corrompe. Claro, quem é
corrompível. Infelizmente, a maioria esmagadora dos agentes políticos.
Poderemos salvar a política?
*Waldir
Bertúlio é professor da UFMT. E-mail: waldir.bertulio@bol.com.br
Domingo,
26 de Abril, 2020 ás 10::30