Candidatos
às prefeituras de Águas Lindas, Luziânia e Valparaíso anunciam obras, projetos
e mudanças na saúde, segurança, educação e economia. Escolas militarizadas e
geração de emprego estão entre as principais apostas
Dr. Lucas, Candidato a prefeito de Águas Lindas de Goiás (Podemos-19)
Ampliação
da BR-040, construção de hospitais, implantação do ensino militar e votação
on-line para decidir se o prefeito e o presidente da Câmara de Vereadores
continuam ou não no cargo. Na tentativa de conquistar o voto do eleitor, os
candidatos a prefeito das três cidades mais populosas do Entorno recorrem à
criatividade e, em alguns casos, há promessas mirabolantes com a intenção de
vencer as eleições do próximo dia 15. O Correio entrou em contato com os 20
concorrentes à chefe do Executivo dos municípios goianos de Águas Lindas,
Luziânia e Valparaíso a partir de 2021, para saber as prioridades de cada um.
Desses, 17 enviaram respostas.
Uma
das ideias mais inusitadas vem de Luziânia. Lá, o candidato Duda Lemos (Pros)
quer permitir que a população avalie e decida, ano após ano, se o prefeito deve
prosseguir no mandato. “Defendo que todo ano seja feito uma avaliação do
prefeito por meio de votação digital. Caso não seja aprovado, o prefeito e o
vice renunciam, e o presidente da Câmara assume o cargo de prefeito”, diz em
vídeo divulgado nas redes sociais. “Se o presidente da Câmara passar um ano, e
não agradar, ele renuncia e volta a ser vereador”, completa. A proposta, no
entanto, não tem amparo constitucional, uma vez que a legislação prevê que o
afastamento de prefeitos ocorra, apenas, em casos de impeachment, por crimes de
responsabilidade, contra a vida ou sexual.
Outra
promessa recorrente é a de desafogar o trânsito na BR-040, principal meio de
ligação entre Brasília e cidades como Luziânia e Valparaíso. Pelo menos três
candidatos desse último município — Amaury Santana (PTB), Marcelo Fernandes
(PSD) e o atual prefeito, Pábio Mossoró (MDB) — garantem, sem dar detalhes, que
vão buscar formas para ampliar a via.
Os
políticos também dizem ter interesse em realizar melhorias em áreas como
educação e segurança. Pelo menos três deles desejam implantar o modelo cívico
militar nas escolas municipais — projeto lançado pelo Ministério da Educação
(MEC) no qual professores e demais profissionais de educação são responsáveis
pela área didático-pedagógica, enquanto as forças de segurança pública atuam na
gestão administrativa e formação disciplinar dos alunos. No Distrito Federal, o
Projeto Escolas de Gestão Compartilhada (EGCs), parceria com a Secretaria de
Segurança Pública (SSP) e a Secretaria de Educação, foi implementado em 12
escolas, entre polêmicas e elogios.
Olhar
crítico
Especialistas
lembram que as propostas devem ser encaradas com reflexão pelos eleitores, que
devem priorizar os projetos ao invés das siglas ou direcionamentos políticos
dos candidatos. “Vivemos um período em que todo mundo adere à direita ou
esquerda, em vez de escolher uma boa proposta. Dando um exemplo mais exagerado,
tem candidato que se elege só com discurso de que se deve atirar no bandido
antes de saber o que ele fez”, diz Aldo Paviani, professor emérito da
Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador associado do Departamento de
Geografia e do Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais. Aldo pontua que as
tradicionais pesquisas sobre cada postulante a vereador devem pautar as
escolhas. “O eleitor tem de analisar o passado do candidato, ver se ele tem
ficha limpa, se é honesto. Porque a gente observa até prisões de prefeitos pelo
país por desvio de recursos”, defende.
Outro
ponto fundamental nas eleições municipais é encarar com um olhar crítico
propostas que parecem solucionar todos os problemas das regiões. “É
interessante não aderir às promessas impossíveis de se realizar. Como a pessoa
diz que vai construir um hospital grande na região se não tem recurso? Os
municípios são muito endividados, a crise da pandemia afetou bastante, e aquele
recurso que o governo Federal destina não dá conta de todas demandas”, avalia
Aldo. De acordo com o pesquisador, a mudança deve ocorrer por meio da educação
e do emprego, que acabam por afetar diversos pontos sociais. “A educação, a
partir dos prefeitos, tem de ser um investimento prioritário. Às vezes, os
candidatos querem ser vistos como alguém que faz obra, constrói ponte, tapa
buraco, mas uma escola, creche e condições de emprego são essenciais”, afirma.
Reeleição
Nas
três cidades em que o Correio ouviu os concorrentes às prefeituras, apenas
Águas Lindas de Goiás não tem candidato a reeleição, uma vez que o atual
prefeito, Osmarildo Alves (PTB), está no segundo mandato. Em Luziânia, Edna
Alves (Podemos) ocupou o cargo de março a junho deste ano, após o prefeito
Cristóvão Tormin (PSD) ser afastado por suspeita de importunar e assediar
dezenas de servidoras municipais, algumas dentro do próprio gabinete. Segundo
Edna, as prioridades para um possível segundo mandato, serão a construção de um
hospital materno, a abertura de concursos públicos e o combate à violência
contra a mulher. Questionada sobre por que não executou essas propostas enquanto
era vice-prefeita, Edna alega que ficou isolada nos últimos quatro anos.
“Fiquei no meu escritório no Jardim Ingá, nunca me deixaram aparecer
politicamente. Fiquei isolada. A política de Luziânia só tem coronéis. Não
aceitam mulher na política. Agora, a população tem a oportunidade de mudar essa
realidade”, afirma.
Pábio
Mossoró diz que viu de perto o problema financeiro de Valparaíso como prefeito
do município. “Quando assumimos, vimos um deficit de R$ 80 milhões nos cofres
da Prefeitura. Tivemos de parcelar dívidas e preparar a cidade para receber
investimentos. Hoje, tem muito candidato que promete coisas que são totalmente
difíceis de ser realizadas, até porque o país todo passa por uma situação
delicada da pandemia”, ressalta.
Mandato
coletivo
Águas
Lindas de Goiás talvez seja a única cidade do país em que uma candidatura
coletiva tenta assumir a prefeitura. Nessa modalidade, que se tornou comum
entre candidatos a vereadores e deputados, apenas uma pessoa formaliza a
candidatura. A campanha, porém, é feita em companhia de outras duas ou mais
pessoas, como se todos fossem um único candidato. Caso seja eleita, todo grupo
assume coletivamente o mandato.
“Nós
decidimos nos candidatar, porque, como usuárias dos serviços públicos
municipais, cansamos de ver entrar prefeito e sair prefeito e as coisas não
mudarem para nós, a população mais pobre, a classe trabalhadora. Resolvemos não
ficar mais somente criticando”, afirmam Sergiana do Nascimento, Kenya Benigno,
Edilma Lima, Maria Cristina e Claudineia Lopes, que juntas formam a Mandata
Coletiva. A candidata registrada é Sergiana, que aparecerá na urna como
“Sergiana da Madata Coletiva”.
As
candidaturas coletivas não são reconhecidas pela Justiça Eleitoral. Por isso, o
TSE não tem dados de quantos políticos disputam cargos nessa modalidade.
*Correio
Brasiliense
Domingo,
08 de novembro, 2020 ás 11:30