A procuradoria da República no DF
decidiu pela continuidade das investigações relativas a dois contratos entre a
consultoria Projeto, do ex-ministro Antonio Palocci, e as empresas Caoa e o
grupo Pão de Açúcar. O despacho do procurador Frederico Paiva é do dia 5 de
setembro. A investigação tem como base reportagens que revelaram o aumento
patrimonial do ex-ministro em 20 vezes entre 2006 e 2010. “No curso de tais
apurações […] identificou-se dois contratos nos quais há indícios relevantes de
ilícitos que supostamente justificariam o incremento patrimonial investigado”,
escreveu ele. Palocci está preso pela Operação Lava Jato, acusado de receber
propina da Odebrecht em troca de atender aos interesses da empreiteira no
governo. A consultoria do ex-ministro foi alvo de busca e apreensão.
No caso da Caoa, que fabrica modelos
da marca Hyundai, o procurador menciona suspeitas de crime de tráfico de
influência, ocorrido no processo de edição de medidas provisórias que, ao
concederem benefícios fiscais à indústria automobilística, teriam favorecido a
Hyundai-Caoa. “Dentre os agentes públicos denunciados na referida ação penal,
encontra-se Lytha Spíndola, chefe de Gabinete da Casa Civil, pasta à época
comandada por Antônio Palocci. Assim, em que pese as alegações apresentadas
pela defesa de Palocci, entende o MPF ser prudente a continuação das
investigações acerca da prática de possível ato de improbidade pertinente ao
presente contrato”, conclui o procurador.
Com relação ao Pão de Açúcar, o
procurador também decidiu por prosseguir com as investigações. Nesse caso, o
foco é contrato entabulado entre a firma de Palocci e a firma de advocacia de
Márcio Thomaz Bastos, pertinente à fusão do Grupo Pão de Açúcar (Companhia
Brasileira de Distribuição) e a empresa Casas Bahia. “Na oportunidade, a
despeito dos altos valores envolvidos, não foram localizados registros formais
que comprovassem a efetiva prestação do serviço oferecido pela Projeto
Consultoria”. E prossegue: “Diante dos elementos de informação acima
destacados, subsiste a necessidade de aprofundamento das investigações em
relação às duas contratações em comento. De fato, tais ilícitos, caso
comprovados, denotariam a ilicitude da evolução patrimonial de Antônio Palocci
– objeto do presente inquérito civil”.
Na conclusão, o procurador decide
“diante da complexidade das avenças, bem como dos próprios ilícitos
supostamente perpetrados em cada uma das contratações” pelo desmembramento das
investigações pelo Núcleo Cível da Procuradoria da República. “Cada uma das
novas Notícias de Fato a serem instauradas deverá ter como objeto a análise das
irregularidades pertinentes a um dos dois contratos acima descritos”.
A reportagem ainda não conseguiu
contato com a defesa de Palocci ou as empresas citadas. A Caoa já negou ter
repassado propina em troca de aprovação de Medida Provisória.
No dia 22 de setembro, o MPF-DF
determinou o arquivamento dos demais contratos envolvendo a consultoria
Projeto. Restaram em aberto os referentes a Caoa e Pão de Açúcar. (AE)
Segunda-feira, 03 de outubro, 2016
ELEIÇÕES
MUNICIPAIS TÊM A MAIOR DISPERSÃO PARTIDÁRIA DA HISTÓRIA
Dados preliminares do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) mostram que 31 partidos vão comandar ao menos uma
cidade a partir do ano que vem. É a maior dispersão partidária no comando dos
Executivos municipais da história, ao menos na quantidade de siglas diferentes
no controle das prefeituras. Em 2012, eram 26.
O número de partidos que saíram
vencedores em ao menos uma cidade nas eleições deste ano pode ainda aumentar,
já que, até o fechamento desta reportagem, às 23h30 de ontem, o TSE havia
terminado a apuração em 5.426 municípios, além dos 55 que vão disputar ainda
mais um turno. Faltam, portanto, 87 cidades, e o número de siglas poderia ainda
aumentar. Candidatos de 35 partidos diferentes concorreram ao cargo de prefeito
neste ano.
A série histórica do TSE mostra que
houve um crescimento quase constante no número de siglas dividindo a gestão dos
municípios brasileiros desde 1996, primeiro ano em que há dados em formato
eletrônico. Naquele ano, 22 partidos conseguiram eleger ao menos um candidato a
prefeito. O número subiu para 25 nas eleições municipais seguintes e, apesar de
ter registrado leve queda em 2004 e 2008, cresceu para 26 em 2012 e, agora,
para 31.
Fragmentação
Outras medidas de dispersão também
apontam para um aumento da fragmentação partidária no controle das
administrações municipais. Uma delas é o índice de Gini - medida usada
internacionalmente para medir desigualdade de renda, mas que pode ser utilizada
para calcular a concentração de qualquer variável.
O Estadão Dados calculou esse índice
para todas as eleições municipais, usando como referência o número de
prefeituras que cada partido conquistou em cada pleito. De acordo com esse
cálculo, a eleição de 2016 foi a mais dispersa da história, com índice de 0.68
- ele seria zero se cada partido ganhasse um número igual de prefeituras e 1 se
apenas um partido ganhasse todas, o que significaria concentração total. Em
1996, esse índice foi de 0.81.
Grande parte dessa variação não se
deve aos partidos que estão no topo do ranking dos que elegeram mais
candidatos, mas sim aos da parte de baixo. Em outras palavras: o aumento da
dispersão partidária se deu especialmente porque mais partidos pequenos
venceram as eleições municipais, e não porque houve uma queda na proporção de
cidades governadas pelos maiores.
Maiores
Os dados do Tribunal Superior
Eleitoral mostram que os cinco partidos com o maior número de prefeitos eleitos
neste ano controlava uma proporção similar de cidades após as eleições de 2012:
60%. No entanto, os quinze partidos menores venceram 4,9% das prefeituras em
2016 - a metade do que os quinze menores haviam ganhado em 2012.
Essas duas medidas, porém, já foram
bem menos dispersas no início da série histórica do TSE. Em 1996, os cinco
maiores partidos foram vencedores de praticamente quatro em cada cinco cidades.
E os quinze menores conquistaram cerca de 11% das prefeituras. (AE)
Segunda-feira, 03 de outubro, 2016
PSDB E PMDB
DISPUTAM ESPAÇO NAS CAPITAIS; PT CAI
A principal mudança que se observa no
primeiro turno das eleições municipais de 2016 em comparação a 2012 foi o
desempenho do PT, que desta vez não conseguiu polarizar com o PSDB nas capitais
do país. Este ano, entre os candidatos petistas, apenas Marcus Alexandre
conseguiu se reeleger em primeiro turno em Rio Branco (AC). O PT também
conseguiu enviar João Paulo para o segundo turno no Recife (PE).
Os tucanos, no entanto, não só
conseguiram manter o mesmo número de candidatos disputando o segundo turno,
oito nas capitais, como aumentou a quantidade de prefeitos eleitos em primeiro
turno. Este ano, além de conquistar a maior capital do país, elegendo João
Dória em São Paulo, o PSDB também reelegeu Firmino Filho em Teresina (PI).
Em 2012, os dois partidos rivalizavam.
Cada um tinha eleito um prefeito em capital eleito em primeiro turno e obtido
resultados próximos no número de candidatos no segundo turno: seis do PT e oito
do PSDB. Além disso, há quatro anos petistas e tucanos disputaram a capital
paulista, com vitória para Fernando Haddad (PT) no segundo turno contra José Serra
(PSDB). Desta vez, o atual prefeito sequer conseguiu levar a disputa contra
João Dória para o próximo dia 30 e perdeu para o tucano em primeiro turno.
O PMDB teve queda no desempenho no
primeiro turno este ano em relação a 2012 nas capitais. Há quatro anos, o maior
partido do país tinha conquistado, em primeiro turno, o segundo maior colégio
eleitoral – o Rio de Janeiro, com a reeleição de Eduardo Paes – e eleito Teresa
Surita prefeita de Boa Vista (RR). Desta vez, conseguiu apenas reeleger Teresa
em primeiro turno. No entanto, seis candidatos do partido vão disputar o
segundo turno este ano. Em 2012 foram apenas três peemedebistas no segundo
turno das eleições municipais.
Ao todo, oito capitais tiveram as
eleições definidas em primeiro turno. Além de PT, PSDB e PMDB, também elegeram
candidatos hoje PDT, com Carlos Eduardo em Natal (RN); PSB, com Carlos Amastha
em Palmas (TO); DEM, com ACM Neto em Salvador (BA); e PSD, com Luciano Cartaxo
em João Pessoa (PB).
O segundo turno vai ser disputado em
18 capitais com candidatos de 16 partidos. Estarão em campanha este mês os
candidatos de PT, PMDB, PSDB, PR, PDT, PSB, REDE, PSD, PP, PTB, PCdoB, PMN,
PSOL, PHS, PPS, e SD. No segundo turno das eleições, os partidos que mais vão
se enfrentar são PMDB e PSDB. Eles disputam em Porto Alegre (RS), Maceió (AL) e
Cuiabá (MT).
Mais
votada
A única mulher eleita em primeiro
turno, Teresa Surita (PMDB), foi também a candidata com a maior votação
proporcional do país. Ela teve 79% dos votos válidos em Boa Vista (RR), onde
foi reeleita. Para ela, um dos fatores que colaboraram para o seu desempenho
foi a redução no custo das campanhas eleitorais proporcionado pela nova lei
aprovada no ano passado.
“A nova lei eleitoral, que diminui o
custo das campanhas, ajudou porque colocou os candidatos em condição
igualitária. Por exemplo, nós não tivemos que adesivar carros, ou outros gastos
grandes com esta parte”, explicou.
Para a prefeita, a crise econômica que
afeta todo o país e a consequente necessidade de fazer corte de gastos na
prefeitura não prejudicou seu desempenho eleitoral. Segundo Teresa Surita, o
empenho com o ajuste fiscal em Boa Vista aumentou a confiança dos eleitores em
suas propostas.
“Tudo que nós suspendemos, ou [obras]
que atrasamos a entrega, foi acompanhado pelas pessoas. Um exemplo: fizemos
concurso público e não pudemos chamar todas as pessoas porque eu não podia
comprometer a folha [de pagamento municipal], mas isso passou credibilidade”,
disse. “Não propus coisas que não pudesse cumprir”. (EBC)
Segunda-feira, 03 de outubro, 2016
TSE REGISTRA MAIS DE 25 MILHÕES DE ELEITORES QUE NÃO VOTARAM
A Justiça Eleitoral registrou no
primeiro turno das eleições municipais de 2016, domingo(2), abstenção de
aproximadamente 17,58% do eleitorado. O número corresponde a 25.073.027
eleitores que deixaram de comparecer às urnas. O total de eleitores aptos a
votar foi de 144 milhões.
Na avaliação do presidente do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, o índice de abstenção
registrado no pleito deste ano é baixo em relação às eleições presidenciais de
2014, quando a ausência foi de cerca de 20% dos eleitores. Nas eleições
municipais de 2012, 16,41% do eleitorado não votou.
Durante coletiva para divulgar à
imprensa o balanço final dos dados sobre o primeiro turno, Mendes considerou
que os dados sobre votos brancos e nulos não são relevantes, por não indicaram
mudanças no comportamento do eleitor em relação às votações anteriores. Segundo
o presidente, a preferência do eleitor por votar em branco e mais um “voto de
desinformação do que de protesto”.
Em São Paulo, por exemplo, foram
registrados 5,29% (367.471) de votos em branco e 11,35% de votos nulos
(788.379). No Rio de Janeiro, foram contabilizados 5,50% (367.471) de votos em
branco e de 12,76 % votos nulos (473.324). As duas cidades têm os dois maiores
colégios eleitorais do país. (EBC)
Segunda-feira, 03 de outubro, 2016
VEREADOR MAIS
VOTADO EM MACEIÓ É PRODUTOR DE PORNÔ AMADOR
A honestidade de admitir para o
eleitor que ainda não tem nenhum projeto de lei, confrontada com o
reconhecimento de realizações e propostas voltadas para a organização do Centro
e de feiras livres de Maceió, rendeu a Anivaldo Luiz da Silva, o Lobão (PR), o
posto de vereador mais votado da capital alagoana, com quase 25 mil votos dos
maceioenses.
Produtor de filme pornô amador e
cantor da banda de rock Cheiro de Calcinha, Lobão fez uma campanha irreverente
e voltada ao corpo a corpo com eleitores da capital alagoana, no sentido
estritamente eleitoral.
Com votação de 24.969 eleitores, Lobão
obteve 6% dos votos da disputa com mais de 200 candidatos para as 21 vagas de
vereadores. E ainda garantiu a reeleição da experiente vereadora Fátima
Santiago (PP).
Seu desempenho supera o da vereadora
Heloísa Helena, mais votada em 2012, com 19.216 votos. Mas ainda perde para o
recorde da ex-senadora em 2008, quando obteve a marca histórica de 29.516
votos. Ela não disputou eleição este ano.
Muito respeitoso e simples no trato
com os eleitores, Lobão compõe músicas irreverentes no gênero que classifica
como brega-rock para a Cheiro de Calcinha. A logomarca da banda estampa muitas
de suas camisas e já faz parte da paisagem da conhecida Rua das Árvores, há
alguns anos. Na calçada, o vereador eleito costumava encostar uma motocicleta
cinquentinha, uma bicicleta ou um tabuleiro onde vende seus DVDs para o público
adulto.
Veja a irreverência de Lobão ao
apresentar ao eleitor uma de suas realizações:
Origens
e convicções
Além da atuação cinematográfica e das
tomadas de imagens aéreas feitas com drones, sua propaganda eleitoral chamou a
atenção nas redes sociais pela presença do deputado federal Tiririca (PR-SP),
igualmente fenômeno de votos.
Lobão viveu em uma das localidades
mais pobres de Alagoas, a Vila Brejal. E parece não lhe caber o rótulo de
oportunista, nem a atribuição do fenômeno em que se transformou estritamente
aos votos de protesto do eleitorado. Seus méritos são visíveis no histórico de
ativismo político em favor de camelôs e frequentadores do Centro de Maceió,
buscando soluções simples junto às autoridades para problemas simples de
urbanização.
“A gente sabe o quanto que é nocivo
para uma comunidade um político que compra voto e não tem compromisso. Quem é
filho da Vila Brejal tem o entendimento e a consciência de que esse tipo de
política atrasada provoca violência e atrasa um país tão rico como o nosso, por
causa de gente que trabalha com picaretagem. A gente vai fazer nosso trabalho
focado em defender boas ideias e seguir realizando. É triste a realidade de que
políticos e fraldas devem ser trocadas pelo mesmo motivo”, parafraseou Lobão,
em sua primeira entrevista após eleito, na noite deste domingo (2), à Rádio
Gazeta AM.
A atuação do Lobão em campanha se
confunde com sua rotina no Centro. Assista:
Trajetória
Lobão já foi proibido de usar o
apelido pelo roqueiro carioca que foi sucesso nos anos 80. O maceioense
ingressou na política em 2004, ao se filiar ao PSB. Mas somente se candidatou
em 2010, a uma vaga de deputado federal e obteve 2.115 votos. Em 2012, obteve
3.759 votos para vereador. E, em 2014, seu desempenho surpreendeu o Estado, ao
obter 14.002 votos para deputado estadual.
“A possibilidade de mandato vem da
eleição de 2012. Vi que já tinha condições. Só faltava eu ter a oportunidade de
provar à população que eu tinha condições de realizar projetos. Obtive
realizações para o coletivo e o que tiver ao meu alcance farei por coisas
legais para o meu município”, prometeu.
Há cerca de dois anos começou a
circular pelo Sudeste, para divulgar suas composições maliciosas para a banda,
a exemplo de “Você tá boa”, e filmes como “Penetrando no centro de Maceió” ou
ainda o gênero gay “Senhor do Anéis”.
Na plateia de programas como Altas
Horas fez aparições marcantes. Foi entrevistado por Danilo Gentili no The Noite
e se apresentou em alguns programas especializados em música. O som pode ser
conferido no canal do Youtube "Lobo Cheiro de Calcinha Rock".
Prestando
contas
O candidato recebeu R$ 19,7 mil em
doações para a campanha, sendo R$ 15 mil da Direção Nacional do PR, R$ 2,9 mil
do prefeito Rui Palmeira (PSDB) e mais duas doações de R$ 880 reais. E
registrou gasto total de R$ 9,9 mil.
Lobão
declarou à Justiça Eleitoral possuir uma casa de R$ 8 mil no bairro do Bom
Parto.
Ao ser questionado sobre algum projeto
de lei prioritário, Lobão fez questão de admitir que tem “perfil de atuação
executivo”, a exemplo de pleitos apresentados desde 2008, defendendo
organização de feiras, reforma ou reconstrução do Mercado da Produção, e um
banheiro público estruturado para o Centro. E admite: “No momento, não tenho
nenhum projeto de lei. Isso aí, no decorrer da caminhada, a gente vai
apresentar”, ao lembrar que conseguiu abrir um modesto banheiro público na
Praça dos Palmares.
Que Lobão desenvolva sua militância
com a mesma decência que transparece em sua trajetória. Para que não precise
ser tratado como as fraldas do ditado popular lembrado por ele mesmo. (A/E)
Segunda-feira, 03 de outubro, 2016
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