É
comum encontrar representantes das trevas nas legislaturas. Afinal, se o
obscurantismo é fenômeno social e a representação política assegura
proporcionalidade, então um grupo de parlamentares oferecerá à Idade Média a
atualidade que ela possui no Brasil. O Congresso Nacional é um espelho
distorcido do país; distorcido pelo financiamento das empresas às campanhas, o
que estimula a seleção de uma pilantragem, mas, ainda assim, um espelho.
A
novidade que estamos presenciando é que a turma do “é dando que se recebe” não
ocupa mais a sala do cafezinho. A eleição de Eduardo Cunha para a presidência
da Câmara foi a emancipação do “baixo clero”. Se fosse apenas a tintura acaju,
o anel de formatura e o cinto com fivela country, tudo bem. O problema é que a
promoção da turma trouxe para a ribalta o fundamentalismo religioso, a
misoginia, a homofobia, o populismo penal e o desprezo pela democracia, entre
outras maldades. O pacote envolve, ainda, uma dimensão de irresponsabilidade
política que não se conhecia.
A
sociedade civil e a imprensa têm acompanhado o processo com indiferença. Há
reações e denúncias aqui e ali, mas a atitude geral é condescendente. Tudo se
passa como se a dinâmica política em curso fosse parte da paisagem. Não é. Ela
expressa, primeiro, a ausência de uma identidade política de esquerda no
Brasil. A desconstrução moral do PT e sua inclinação pelo cinismo “limparam o
terreno” para a bolsonarização da direita brasileira. O que era vergonha, agora
é distinção. Os mesmos que apoiaram a ditadura e que, depois, se fantasiaram de
liberais, sentem-se, hoje, à vontade para impor uma agenda de retrocessos que,
se não for barrada, nos levará à revogação da Lei Áurea.
Ao
mesmo tempo, a emergência da estupidez como uma alternativa política no Brasil
resulta da colonização das emissoras de rádio e TV por um discurso
protofascista que, há décadas, deforma o caráter do público, insuflando-lhe o
ódio e a ignorância, com a cumplicidade do governo federal e em flagrante
violação ao inciso I do art. 221 da CF, que determina que a programação deve
dar “preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e
informativas”.
O
mesmo poder concedente, aliás, assiste, impávido, à sublocação da programação
televisiva para exorcistas, criacionistas e mercadores da fé, em desrespeito ao
princípio da laicidade. Princípios? Bem, este é um momento onde se vê o que
ocorre quando a política se aparta totalmente deles.
Por:
Marcos Rolim
Domingo,
20 de junho de 2015
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