A expressão "agenda
woke" (pronuncia-se "uôuk") refere-se a um conjunto de ideias e
pautas esquerdistas relacionadas à justiça social, equidade e conscientização
sobre discriminações. O termo "woke" vem do inglês e significa
"acordado" ou "desperto", e no contexto social e político,
indica estar ciente das supostas injustiças e desigualdades do mundo.
Origem do Termo
A palavra "woke" tem
suas raízes na comunidade afro-americana, especificamente da expressão
"stay woke" (mantenha-se acordado ou desperto), usada para se referir
a uma consciência contínua sobre questões de justiça racial. Ganhou destaque e
uso mais generalizado a partir do movimento Black Lives Matter em 2014,
expandindo-se para englobar diversas outras pautas sociais.
Principais Temas Associados à
"Agenda Woke"
Quem se alinha à agenda
"woke" geralmente defende e busca promover discussões e ações em
torno de temas como:
Antirracismo: Combate ao
racismo estrutural e à discriminação racial.
Feminismo Interseccional: Luta
contra o machismo e a desigualdade de gênero, considerando como diferentes
identidades (raça, classe, sexualidade) se cruzam e criam experiências de
opressão únicas.
Direitos LGBTQIA+: Defesa da
igualdade e do reconhecimento para pessoas lésbicas, gays, bissexuais,
transexuais, queer, intersexo, assexuais e outras identidades de gênero e
orientações sexuais.
Combate à Desigualdade Social:
Busca por maior equidade na distribuição de riqueza e oportunidades.
Representatividade: Promoção
da inclusão de grupos minorizados na mídia, política e outras esferas da
sociedade.
Descolonização de Saberes e
Discursos: Questionamento de narrativas históricas dominantes e valorização de
conhecimentos e perspectivas de culturas não ocidentais.
Questões Ambientais:
Enfrentamento às mudanças climáticas e ao impacto ambiental, muitas vezes com
uma perspectiva de justiça ambiental.
Críticas à "Agenda
Woke"
Embora a intenção da
"agenda woke" seja supostamente buscar corrigir desigualdades
históricas, o termo e o movimento têm sido alvo de intensas críticas,
especialmente por parte de setores conservadores. As principais críticas
incluem:
Exageros e Intolerância:
Alguns críticos argumentam que o movimento pode levar a excessos, intolerância
e à criação de uma "cultura do cancelamento", onde pessoas ou ideias
são rapidamente rejeitadas ou marginalizadas por não se alinharem perfeitamente
às pautas "woke".
Polarização: Há quem diga que
a "agenda woke" contribui para a polarização social, dividindo as
pessoas em vez de uni-las em torno de objetivos comuns.
"Virtue Signaling":
A acusação de que a adesão à "agenda woke" seria, em alguns casos,
apenas uma forma de "sinalizar virtude" (virtue signaling), ou seja,
demonstrar publicamente preocupação com causas sociais sem um engajamento real
ou efetivo.
Foco Excessivo em Identidade:
Algumas críticas apontam para um foco excessivo em políticas identitárias, que,
segundo eles, desviam a atenção de problemas socioeconômicos mais amplos.
Ataque à Liberdade de
Expressão: Para muitos críticos, a "cultura woke" ameaça a liberdade
de expressão ao tentar impor uma única narrativa e censurar opiniões
divergentes.
Em resumo, a "agenda
woke" representa um esforço para conscientizar e promover a justiça em
diversas áreas sociais, mas também se tornou um termo carregado de diferentes
interpretações e alvo de uma intensa "guerra cultural" em muitos
países.
O Que é Visto Como Radical na
"Agenda Woke"?
O "radicalismo" da
agenda woke, na visão dos críticos, muitas vezes se manifesta em:
Exigências de Linguagem
Rígidas: Uma das críticas mais comuns é a insistência em um vocabulário
"politicamente incorreto" muito específico, incluindo o uso de
pronomes neutros ("todes" em vez de "todos/todas") e a
reavaliação de termos considerados ofensivos. Para alguns, isso é visto como
uma tentativa de controlar a linguagem e, consequentemente, o pensamento,
gerando um ambiente de "policiamento" discursivo.
Exemplo: A modificação de
letras de músicas ou textos clássicos para remover palavras que hoje seriam
consideradas insensíveis, ou a crítica a obras por não representarem a
diversidade de forma supostamente adequada, são vistas por alguns como um
excesso.
Cultura do Cancelamento: A
chamada "cultura do cancelamento", onde indivíduos são publicamente
boicotados ou silenciados por declarações ou ações consideradas problemáticas,
é frequentemente associada ao radicalismo woke.
Embora o objetivo seja
responsabilizar por comportamentos prejudiciais, críticos argumentam que ela
pode levar a punições desproporcionais, falta de diálogo e a um ambiente de
medo para expressar opiniões.
Exemplo: Um artista que faz um
comentário infeliz (mesmo que sem intenção de ofender) e é imediatamente
"cancelado", perdendo contratos e relevância, sem espaço para
retratação ou aprendizado.
Políticas de Identidade
Exacerbadas: Enquanto a política identitária busca reconhecer e valorizar
grupos marginalizados, o radicalismo é apontado quando a identidade de um
indivíduo (raça, gênero, orientação sexual) se torna o foco principal em
detrimento de outras pautas sociais ou de uma visão mais universalista da
condição humana.
Exemplo:
Campanhas que
defendem que apenas pessoas de determinada raça ou gênero podem falar sobre
certas experiências, ou que priorizam a "opressão" de um grupo sobre
a de outro, criando divisões internas em movimentos esquerdistas.
Descolonização Radical e
Revisão Histórica: A agenda "woke" propõe uma reavaliação crítica da
história sob a ótica das opressões. No entanto, quando essa reavaliação leva à
condenação generalizada de figuras históricas ou à exigência de remoção de
estátuas e monumentos sem um debate contextualizado, é percebida como
radicalismo.
Exemplo: A destruição ou
vandalização de estátuas de figuras históricas por terem ligações com a
escravidão ou colonialismo, sem um processo mais amplo de discussão sobre a
história e o significado desses símbolos.
Teoria Crítica da Raça (CRT) e
Antirracismo Radical: Embora a CRT seja uma ferramenta acadêmica para analisar
como o racismo opera sistemicamente, quando aplicada de forma simplista ou
dogmática, pode ser vista como radical. Críticos alegam que ela pode rotular
automaticamente pessoas brancas como opressoras ou racistas, gerando
ressentimento e divisão.
Exemplo: A proibição do ensino
da CRT em algumas escolas nos EUA, com a justificativa de que ela
culpabilizaria crianças brancas por atos históricos de racismo, mesmo que a
teoria não defenda isso diretamente.
Transativismo Radical:
A
defesa intransigente dos direitos das pessoas transgênero, quando levada ao
extremo, pode gerar atrito com outras pautas feministas ou biológicas.
Discussões sobre a participação de mulheres trans em esportes femininos ou o
uso de espaços como banheiros são exemplos onde as visões podem se chocar, e a
intransigência é vista como radical.
Exemplo: Debate sobre o que
define uma mulher em contextos específicos (como esportes), onde a prioridade
dada à identidade de gênero pode entrar em conflito com a biologia, gerando
polêmicas.
Desconexão com a Realidade
Cotidiana:
Para parte da população,
algumas das pautas "woke" podem parecer distantes de suas realidades
e preocupações diárias, fazendo com que as exigências sejam vistas como
artificiais ou excessivas.
É fundamental lembrar que o
movimento "woke" em sua essência busca a justiça e a equidade. As
críticas ao seu "radicalismo" geralmente se referem a como algumas de
suas manifestações são percebidas ou executadas, e não necessariamente aos seus
princípios fundamentais de combater a discriminação e a desigualdade.
É possível observar um debate
crescente sobre o declínio ou "fadiga" da "agenda woke",
especialmente em países como os Estados Unidos e, em certa medida, também no
Brasil. Essa percepção de declínio é complexa e multifacetada, não significando
o fim das discussões sobre justiça social, mas talvez uma reavaliação de como
essas pautas são abordadas.
Alguns dos principais sinais e
argumentos levantados por aqueles que apontam para um declínio da agenda
"woke" incluem:
Reação Corporativa:
Muitas empresas, que
inicialmente aderiram com entusiasmo a iniciativas de Diversidade, Equidade e
Inclusão (DEI) e campanhas "woke" (muitas vezes por medo de
"cancelamento" ou para atrair novos públicos), estariam recuando. Há
relatos de cortes em departamentos de DEI, abandono de certas práticas de
contratação e marketing, e um foco renovado em "eficiência" e
"resultados efetivos" em vez de pautas ideológicas. O argumento é que
o "quem lacra não lucra" se tornou uma realidade para algumas marcas
que sofreram boicotes de esquerdistas.
Exemplos: Algumas empresas de
grande porte, como a Meta (Facebook, Instagram), Target e outras, teriam
reavaliado suas políticas, buscando uma abordagem mais neutra ou focada no que
consideram ser o "core business".
Mudança de Ventos Políticos:
A ascensão ou fortalecimento
de movimentos conservadores e populistas, como o trumpismo nos EUA, tem sido um
fator significativo. Essas figuras políticas e seus eleitores frequentemente
utilizam o termo "woke" de forma pejorativa para atacar pautas esquerdistas,
associando-as a "doutrinação ideológica" e "exageros".
Exemplo:
A aprovação e tentativa de
implementação de leis como a "Stop Woke Act" na Flórida, que visava
restringir o debate sobre raça, gênero e sexualidade em universidades e
empresas, é um exemplo da oposição política.
Críticas Internas e
Desencanto:
Mesmo dentro de setores
progressistas, surgem vozes críticas sobre o radicalismo e a intransigência de
algumas manifestações "woke". Há quem argumente que o movimento se
tornou excessivamente focado em políticas identitárias, gerando divisões e
alienando parte da classe trabalhadora ou de grupos que poderiam ser aliados. A
"cultura do cancelamento" também é vista por muitos como
contraproducente.
Exemplo:
Debates sobre o "ativismo
simbólico" que se afasta da realidade e a percepção de que certas
exigências de linguagem ou comportamento se tornaram opressivas para alguns,
são pontos de atrito internos.
Pesquisas e Indicadores de
Opinião Pública:
Embora os dados sejam
variáveis, algumas pesquisas, especialmente nos EUA, indicam um certo
arrefecimento ou mudança na percepção pública sobre a "agenda woke",
com menos aceitação para algumas de suas abordagens mais radicais.
É crucial ressaltar que o
"declínio da agenda woke" não deve ser confundido com o fim das lutas
por justiça social ou o desaparecimento das pautas de diversidade, equidade e
inclusão. O que pode estar em declínio são certas abordagens, táticas e o grau
de influência de algumas das manifestações mais "radicais" do
movimento.
As questões de racismo
estrutural, machismo, desigualdade social e discriminação contra minorias ainda
persistem e continuam sendo pautas fundamentais para muitos ativistas e setores
da sociedade civil. O debate atual parece ser mais sobre a eficácia e a forma
como essas pautas são promovidas, buscando talvez um equilíbrio maior e
estratégias que gerem mais inclusão e menos polarização.
A "agenda woke",
apesar de suas intenções seja supostamente de promover justiça social, equidade
e combater discriminações, é alvo de várias críticas que apontam para pontos
negativos em sua aplicação e impacto. É importante lembrar que essas críticas
vêm de diferentes espectros políticos, incluindo parte da própria esquerda e de
ativistas progressistas que questionam a eficácia de certas táticas.
Principais Pontos Negativos
Apontados
Cultura do Cancelamento e
Intolerância:
Excesso de Punição: Muitas
vezes, um erro ou uma declaração infeliz, mesmo que não intencional, pode levar
a um "cancelamento" severo, com perda de emprego, reputação e
ostracismo social. Isso é visto como uma punição desproporcional e sem espaço
para redenção ou aprendizado.
Falta de Diálogo e Nuance:
A cultura do cancelamento
tende a simplificar debates complexos, criando uma mentalidade de "nós
contra eles". Isso dificulta o diálogo construtivo e impede que as pessoas
aprendam com seus erros ou mudem suas perspectivas.
Medo e Autocensura:
O receio de ser
"cancelado" pode levar à autocensura, onde indivíduos evitam
expressar opiniões divergentes ou abordar certos temas por medo de represálias.
Isso limita a liberdade de expressão e a diversidade de ideias, prejudicando o
debate público.
Polarização e Divisão Social:
Políticas de Identidade
Exacerbadas: Embora a valorização das identidades seja importante, um foco
excessivo nelas pode, ironicamente, levar à fragmentação social. A priorização
de certas identidades ou "hierarquias de opressão" pode criar divisões
entre grupos minorizados e alienar potenciais aliados.
Guerra Cultural: A
"agenda woke" é frequentemente usada por setores conservadores como
um "inimigo" a ser combatido, intensificando a polarização política e
dificultando o avanço de pautas sociais por meio do consenso.
Exageros e Falta de Pragmatismo:
Ativismo Simbólico vs. Ação Efetiva: Algumas
críticas apontam para um foco excessivo em gestos simbólicos (como mudanças de
linguagem ou marketing "inclusivo" de empresas) em detrimento de
ações concretas para combater a desigualdade estrutural. Isso pode gerar a
percepção de que o movimento está mais preocupado com a imagem do que com a
mudança real.
Rigidez Linguística:
A insistência em pronomes
neutros ou em um vocabulário extremamente específico pode ser vista como um
excesso para a população em geral, gerando resistência e dificuldade de adesão.
Para alguns, isso desvia o foco de problemas mais urgentes.
Desconexão com a Realidade
Cotidiana:
Pautas Elitistas: Em certos
casos, as discussões "woke" podem ser percebidas como distantes da
realidade da maioria da população, especialmente de classes sociais mais
baixas, que têm preocupações mais imediatas (emprego, segurança, saúde). Isso
pode levar a um afastamento e à rejeição de algumas das pautas.
Intransigência Acadêmica:
Quando certas teorias (como a
Teoria Crítica da Raça) são aplicadas de forma dogmática e sem nuance em
ambientes não acadêmicos, podem gerar ressentimento e incompreensão, sendo
vistas como uma imposição ideológica.
Impacto Negativo em Empresas e
Instituições:
Algumas empresas aderiram às
pautas DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) por medo de serem
"canceladas" ou para projetar uma imagem progressista, nem sempre com
um compromisso genuíno. Isso pode levar a ações superficiais ou a um recuo
quando há pressão ou impacto financeiro negativo, como apontam os debates sobre
o "anti-woke" no Brasil.
Desgaste da Imagem:
Empresas que se posicionam de
forma considerada excessivamente "woke" podem sofrer boicotes ou
rejeição de parcelas do público, como observado em alguns casos recentes.
Em suma, embora a "agenda
woke" tenha o objetivo de promover uma sociedade mais justa e equitativa,
as críticas aos seus pontos negativos se concentram na forma como essa agenda é
implementada, nas táticas utilizadas e nos seus efeitos colaterais, como a
polarização, a intolerância e a percepção de um certo radicalismo que pode
afastar potenciais aliados e dificultar o diálogo construtivo.
*Da redação
Sábado, 21 de junho 2025 às 13:27