Affonso Celso Pastore
Pré-candidato à Presidência da República, o
ex-juiz federal Sergio Moro (Podemos-PR) disse em entrevista ao Conversa com
Bial na madrugada desta quarta-feira (17/11) que o ex-presidente do Banco
Central Affonso Celso Pastore faz parte de um grupo que ele reuniu para
discutir os rumos econômicos do Brasil.
"É um dos melhores nomes
do país", afirmou. Segundo o ex-ministro do governo de Jair Bolsonaro,
Pastore a assessora em relação à macroeconomia. "É importante controlar a
inflação."
Em afirmação recente à Folha,
Pastore disse que o Brasil deve permanecer por bastante tempo com um câmbio
depreciado, fator que dificulta o combate à inflação e que não resolverá
sozinho o problema de falta de competitividade da indústria brasileira.
Pastore afirmou também que o
país corre o risco de perpetuar alguns erros do passado caso reeleja Bolsonaro
(sem partido) ou o ex-presidente Lula (PT). Ele se declara otimista com uma
terceira via social-democrata, com um modelo econômico de Estado provedor e que
reduza desigualdades.
Na entrevista à Globo, Moro
preferiu não revelar outros nomes que fazem parte do grupo de economistas
reunidos por ele. Alegou que é melhor manter o sigilo porque "o projeto
ainda está sendo construído".
O "projeto",
admitiu, é a sua candidatura à Presidência da República em 2022. "Me sinto
habilitado a construir esse projeto de país com a população brasileira",
respondeu sobre a disputa eleitoral. Para Moro, é importante evitar que o país
"caia no desespero de extremos'', referindo-se a Bolsonaro e a Lula.
Na parte final da entrevista,
o ex-juiz respondeu genericamente sobre seus planos para controlar o preço dos
combustíveis. Segundo ele, é preciso fazer isso com "as políticas
econômicas certas". Moro disse ainda que uma das causas do aumento dos
preços é a inflação e isso é responsabilidade do governo.
Ele também respondeu sobre
mineração e exploração econômica em terras indígenas. Afirmou que no período em
que foi ministro percebeu que há situações diferentes entre os indígenas, como
os que vivem isolados e os que desejam ter atividades econômicas.
Para Moro, é preciso ter
amparo e soluções para cada situação.
Apesar de admitir a
candidatura, o ex-juiz prega o diálogo com outros líderes políticos para
encontrar pontos em comum. "Essa união tem que ser em cima de um
projeto", defendeu, afirmando que é preciso "colocar o Brasil nos
trilhos".
Pouco depois de sua filiação
ao Podemos, na quarta-feira (10), Moro se encontrou com o presidente do DEM,
ACM Neto, e discutiu o apoio do partido à sua empreitada eleitoral.
Assim como fez no ato de sua
filiação partidária, Moro defendeu o legado da Lava Jato na entrevista para o
jornalista Pedro Bial e repetiu críticas a Bolsonaro e Lula.
Sobre o presidente da
República, reafirmou que Bolsonaro boicotou o projeto de combate à corrupção
que teria sido o motivo para ele aceitar ser ministro da Justiça.
Em relação a Lula, negou ter
questões pessoais contra o ex-presidente e garantiu que agiu apenas como juiz
que aplica a lei nos processos que envolviam o petista.
"Durante o governo dele
aconteceram os maiores escândalos, como o mensalão e o Petrolão", disse.
"A Petrobras foi saqueada como nunca antes nesse país."
Juiz da Lava Jato, Moro
abandonou a magistratura para assumir o Ministério da Justiça do governo
Bolsonaro, com quem se desentendeu -isso motivou seu pedido de demissão em
abril do ano passado.
Neste ano, Moro sofreu uma
dura derrota no STF (Supremo Tribunal Federal), que o considerou parcial nas
ações em que atuou como juiz federal contra o ex-presidente Lula (PT). Com
isso, foram anuladas ações dos casos tríplex, sítio de Atibaia e Instituto
Lula.
Diferentes pontos levantados
pela defesa de Lula levaram à declaração de parcialidade de Moro, como condução
coercitiva sem prévia intimação para oitiva, interceptações telefônicas do
ex-presidente, familiares e advogados antes de adotadas outras medidas
investigativas e divulgação de grampos.
A posse de Moro como ministro
de Bolsonaro também pesou, assim como os diálogos entre integrantes da Lava
Jato obtidos pelo site The Intercept Brasil e publicados por outros veículos de
imprensa, como a Folha, que expuseram a proximidade entre Moro e os
procuradores da Lava Jato.
Em resumo, no contato com os
procuradores, Moro indicou testemunha que poderia colaborar para a apuração
sobre Lula, orientou a inclusão de prova contra um réu em denúncia que já havia
sido oferecida pelo Ministério Público Federal, sugeriu alterar a ordem de
fases da operação Lava Jato e antecipou ao menos uma decisão judicial.
Moro sempre repetiu que não
reconhece a autenticidade das mensagens, mas que, se verdadeiras, não contêm
ilegalidades.
Na entrevista a Bial, Moro
disse que mudanças recentes de jurisprudência no STF enfraqueceram o combate à
corrupção. Ele citou apegos a tecnicismos como causas dessas mudanças, que
considera negativas.
"A verdade é uma só:
mensalão e Petrolão. E agora rachadinha", afirmou, como um bordão de
campanha.
A entrevista terminou com a
repetição de uma pergunta feita por Bial em 2019, quando Moro foi entrevistado
no programa, sobre o último livro que havia sido lido pelo ex-juiz. Na ocasião,
o então ministro não lembrou.
Mais preparado, dessa vez ele
citou a obra "O rio da dúvida", sobre uma expedição de Theodore
Roosevelt e Cândido Rondon na floresta amazônica.
(FOLHAPRESS)
Quarta-feira, 17 de novembro
2021 às 11:31