A
paralisação da economia tem um impacto destrutivo ainda maior sobre a população
de baixa renda. Segundo o Data Favela, 72% dos moradores de Paraisópolis, em
São Paulo, não têm condições de fazer quarentena
A
crise atual tem um impacto ainda mais perverso sobre a população de baixa
renda. Muitos profissionais sobrevivem da economia informal ou dependem de
remuneração por serviços pontuais para pagar as despesas do dia a dia. Com a
paralisação geral provocada pelo coronavírus, a maioria dos serviços não
essenciais foram cancelados ou adiados. Para piorar a situação, o isolamento
individual recomendado pelas autoridades médicas nem sempre é uma opção para
quem divide o pequeno teto com famílias muitas vezes numerosas. Em localidades
onde a densidade populacional é alta e as necessidades básicas são mais altas
ainda, as perspectivas com a situação atual são as piores possíveis. É assim
que vivem moradores de Paraisópolis, a segunda maior comunidade da cidade de
São Paulo. Próxima ao Morumbi, um dos bairros mais nobres da capital paulista,
Paraisópolis tem cerca de 100 mil habitantes espalhados por 21 mil domicílios
em uma área de 10 quilômetros quadrados. Enquanto a densidade demográfica do
Morumbi é de 4,1 mil habitantes por quilômetro quadrado, a de Paraisópolis tem
mais que o dobro: 10 mil.
O
problema é tão sério que Paraisópolis decidiu desenvolver o seu próprio sistema
para enfrentar a crise da Covid-19. A estratégia criada pela associação de
moradores, formada por 420 líderes comunitários, instituiu a figura do
“presidente de rua”, cuja função inclui cuidar de cerca de 300 moradores. “Eles
vão fazer aquilo que o poder público não faz”, afirma Gilson Rodrigues,
presidente da União de Moradores e Comerciantes de Paraisópolis. Segundo ele,
os presidentes de rua vão mapear os 10 quilômetros quadrados de área da favela
e organizar o fluxo de doações, cestas básicas e itens de higiene. “Fazer
quarentena é possível para quem mora em prédios. Na favela é difícil”, diz o
morador Marcus Vinícius Conceição dos Santos.
*IstoÉ
Segunda-feira,
30 de março, 2020 ás11:00