Vitória
- Não conheço a formação acadêmica do juiz Sergio Moro, muito menos a sua
predileção por livros clássicos. Nunca me ative aos seus dotes intelectuais.
Passei a admirá-lo mais pela sua eficiência jurídica, coragem, valentia e,
sobretudo, pelo seu empenho em passar o Brasil a limpo, o que para mim já é o
bastante. Mas analisando com mais profundidade o seu trabalho à frente da Lava
Jato arrisco a dizer que se trata de um leitor voraz de Nicolau Maquiavel.
Só
uma pessoa com o conhecimento do escritor renascentista italiano, que escreveu
sobre política de estado, teria essa sagacidade e a esperteza para destroçar o
Partido dos Trabalhadores. Para isso, ele age com sobriedade e adota um
estratagema de forma a não permitir que as suas decisões sejam contestadas
pelos tribunais superiores, a exemplo do STF e do STJ. Moro descasca lentamente
a personalidade política de Lula e desnuda com precisão a fanfarronice do
ex-presidente, mostrando-o à sociedade como um farsante, cúmplice do maior
escândalo da história do Brasil.
Sergio
Moro aprendeu tudo com Maquiavel, certamente devorando o Príncipe, seu livro
mais conhecido. Aprendeu, inclusive, a atacar seu alvo no momento certo com
precisão cirúrgica para manter a sua caça na toca. Veja: ele descama a popularidade
do Lula desde que começaram as investigações da Lava Jato, encurralando-o no
canto do ringue sem deixar soar o gongo salvador. Hoje, não se sabe de quem é a
maior rejeição se do seu partido, o PT, ou a dele, o que abre caminho para o
bote final de Sergio Moro ao chegar mais próximo da intimidade de Lula com os
empresários e lobistas que roubaram a Petrobrás.
Moro
foi envolvendo Lula na Lava Jato a conta-gotas com a colaboração dos delatores
que o deixaram na vitrine da corrupção. Não se precipitou, como bom
estrategista, em chamá-lo para depor antes de ter em seu poder confissões de
investigados que o colocava na cena do crime como um personagem influente da
trama da corrupção. Trabalhou com
paciência, como um exímio enxadrista, para acuar o ex-presidente até o
xeque-mate que se aproxima com a movimentação cuidadosa das peças no tabuleiro.
Lula
detém hoje uma rejeição de mais de 55%, segundo o Ibope, índice que o coloca
praticamente fora do páreo presidencial em 2018. O seu partido, o PT, carrega a pesada cruz da
corrupção e certamente nas eleições municipais deste ano vai experimentar o
porrete do eleitor. O ex-presidente se mantém na mídia diariamente como o
sujeito que “não sabe nada”, que vive às custas dos “amigos” e que tem as suas despesas
pagas por um colegiado de empresários corruptos e condenados, muitos na cadeia
como Leo Pinheiro, da OAS, e Marcelo Odebrecht.
Com
a imagem abalada, lambida pela Lava Jato, Lula ainda conta com o suporte do “Exército
Vermelho” do Stédile e de alguns pelegos da centrais sindicais que no momento
oportuno deverão ser contidos pela própria sociedade. Da Câmara e do Senado vem
a resposta a sua maldição com a redução da bancada de deputados e senadores,
que fogem do PT como o diabo da cruz. E, agora, para seu desespero, vai ter que
torcer para que João Santana não bote a boca no trombone como fez Duda Mendonça
ao depor na CPI do mensalão.
É
assim que o juiz Sergio Moro está montando o quebra-cabeça do maior escândalo
da história do país, organizando o jogo de xadrez com inteligência e a
paciência de um monge. A prisão de Lula, se vier a ocorrer, será apenas o
coroamento dessa operação incansável dos nossos Eliot Ness. Com a imagem
deteriorada, Moro não acredita que o povo proteste nas ruas contra a prisão de
Lula no desfecho da operação.
Ao
STF e a STJ não resta outra alternativa que não seja a de aplaudir Sergio Moro,
o magistrado que veste à Justiça com uma nova toga, a da dignidade.
(Jorge
Oliveira)
Quarta-feira,
24 de fevereiro, 2016
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