Em uma terça-feira, eu olhava
vitrinas no Iguatemi em busca de presente para minha mulher, quando, atrás de
mim, uma voz inconfundível diz: “E aí, guri?”. Era o Lauro Quadros. Por essas
coisas do coração, emocionei-me ao vê-lo. Abracei-o com força. Sinto do Lauro e
do Polêmica uma saudade real. Concordávamos em poucos temas debatidos em seu
programa. Apenas na fé católica, talvez. Mas a relação que mantínhamos, a
frequência com que me convidava, ano após ano, levou-me a admirar o
profissional competente, a memória, a presença de espírito e a pluralidade de
assuntos em relação aos quais navegava com segurança. Sei que nós queremos bem,
e isso foi dito terça, naquele breve encontro casual.
Há alguns anos, na fila de
entrada da Nôtre Dame, alguém, perto de mim, dirigindo-se em castelhano a um
grupo, indagou: “A donde vamos después?”. Voltei-me em sua direção sabendo que
aquela voz só poderia ser de Marta, prima santanense a quem não via há algumas
dezenas de anos. E era.
Encontros casuais são assim. Por
isso, não consigo imaginar Dilma chegando à cidade do Porto, rumo a Moscou e
dando de cara com o presidente do nosso STF, no balcão do Sheraton (ou terá
sido no fitness center do hotel?): “Olá, Ricardo! Tu por aqui?”. Voltando-se
surpreso, o prestimoso Ricardo: “Dilma! Que surpresa! Precisamos conversar”. E
ambos, em companhia do também fortuito José Eduardo Cardozo, vão para uma sala
reservada tratar de misteriosas banalidades.
Quando li a notícia, ocorreu-me
propor _ “Contem outra!” _, mas imediatamente dei-me conta de que qualquer
outra seria muito menos pitoresca. Tudo foi feito para evitar a presença de
repórteres e fotógrafos. A escala não constava da agenda, foi anunciada poucas
horas antes do pouso do avião. Vire o Google pelo avesso. Nem nos jornais locais,
encontrará uma única imagem da presidente na cidade onde pernoitou! Nenhum
registro do encontro. Nada de nada. Euzinho tenho mais fotos na bela cidade
portuguesa do que a presidente. Em viagem oficial à reunião dos Brics, Dilma
desce, quase incógnita, à moda Tartuffe, na cidade do Porto e vai, justamente,
para o hotel onde está Ricardo, o poderoso presidente do STF.
Isso aconteceu no dia 7. No dia
seguinte, a presidente pronunciaria aquela frase que ingressará no rol das mais
exóticas de nossa história. Junta-se à do jovem dom Pedro, quando decidiu
permanecer no Brasil se isso fosse para a felicidade do povo. Horas depois de
conversar com o amigo Ricardo, Dilma saiu-se com esta: “Eu não vou cair. Eu não
vou, eu não vou. Isso aí é moleza, é luta política”. Esse encontro foi causal.
(Percival Puggina)
Domingo, 19 de julho, 2015
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