Liberdade de expressão

“É fácil submeter povos livres: basta retirar – lhes o direito de expressão”. Marechal Manoel Luís Osório, Marquês do Erval -15 de abril de 1866

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20 maio, 2014

A COPA DO MUNDO REVELA MAIS SOBRE NÓS DO QUE ESTAMOS DISPOSTOS A ADMITIR



Os fatos relacionados à preparação do Brasil para a Copa têm sido interpretados à luz de dois termos— “eles” e “nós”. “Eles” são os violões de sempre. Leia-se o establishment político, culpado pelos desmandos, altos preços, atrasos e outras trapalhadas relacionadas ao evento. “Nós”, por outro lado, somos os outros, os inocentes, a um tempo vítimas e espectadores dessas barbaridades. A distinção entre esses dois campos pode ser reconfortante, principalmente para “nós”, mas não é real. Os entraves em torno da Copa do Mundo revelem mais sobre a sociedade brasileira como um todo do que estamos dispostos a admitir.

Vamos por partes.

A Copa de 2014 será a mais cara da história. A conta pode atingir R$ 8 bilhões. Em comparação com as duas últimas edições do evento, o valor da versão brasileira supera em três vezes os gastos realizados em 2006, na Alemanha, e em quatro vezes a conta de 2010, na África do Sul. Agora, convenhamos, qual a novidade dessa gastança? Em geral, as grandes obras executadas no país estão entre as mais dispendiosas do planeta. E se essa prática revela a ganância de grupos político-econômicos, também reflete a leniência e a omissão com que a sociedade se acostumou a lidar com esse tipo de problema.

Mais um passo.

O processo de preparação da Copa de 2014 (o que inclui a Copa das Confederações, de 2013) quebrou em definitivo o mito segundo o qual o brasileiro é gentil, cordial. Vivemos em uma sociedade violenta. Aliás, somos violentos em proporção (intensidade e número) surpreendente. Tal constatação é válida mesmo que consideremos que as ações agressivas registradas nos protestos de rua estejam sendo conduzidas por uma minoria entre os manifestantes.

De novo: qual a novidade? Convivemos com o crime e com a revolta por ele despertada, em meio assaltos, linchamentos públicos, bandidos amarrados a postes, além de cidadãos sob tensão e medo permanentes. Na capital paulista, a violência já contaminou o evento chamado Virada Cultural a ponto de torná-lo praticamente inviável.

Há mais. No campo das grandes chagas nacionais, vimos surgir no início deste mês uma campanha de prevenção contra a prostituição infantil durante a Copa. Trata-se de uma iniciativa louvável. A preocupação está baseada no fato de que alguns jogos serão realizados em estados que ostentam os piores índices de ocorrência de crimes desse tipo (Bahia, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte). Aqui, a pergunta que cabe é a seguinte: e depois da Copa? Quais serão os desdobramentos da campanha?

Depois da Copa, a resposta é a mais simples de todas: os problemas continuam. Como sabemos, eles têm pouco ou nada a ver com o evento. Estão incrustados “neles” e em “nós”, em uma sociedade cujos dilemas (somente alguns deles) estão sendo expostos de forma mais aguda nos últimos anos. Observe-se que a indignação pura e simples também não serve a ninguém. Deveríamos, porém, aproveitar melhor esse momento em que um baita holofote foi lançado sobre todas essas mazelas. Não basta a revolta ou o choque emocional com os fatos. A parte mais importante do Brasil é a que tem de ser construída depois do campeonato de futebol. Os estádios já são coisa do passado.

Por Carlos Rydlewski – Agência Globo

Terça-feira, 20 de maio, 2014.

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