Médicos
ouvidos pelo jornalista defendem isolamento apenas de idosos, pessoas com
doenças crônicas e com baixa imunidade — o restante da sociedade seria tratado
normalmente como se trata uma gripe.
Thomas
Friedman, um dos dos colunistas mais influentes do mundo, ouviu três médicos e
escreveu o artigo mais contundente até agora sobre o risco do lockdown global
se estender por muito tempo.
No
texto, publicado no The New York Times, Friedman destaca que os políticos estão
tendo que tomar “decisões enormes de vida ou morte, enquanto atravessam uma
neblina com falta de informações com todos no banco de trás gritando com eles.
”
Eles
estão fazendo o melhor que podem.
”Mas
com o desemprego se alastrando pelo mundo tão rápido quanto o vírus”, alguns
especialistas estão começando a questionar:
“Espera
um minuto! O que estamos fazendo com nós mesmos? Com nossa economia? Com a
próxima geração? ”
Será
que essa cura [isolamento total] — mesmo que por um período curto — será pior
que a doença [vírus chinês] em si?
Friedman
diz que as lideranças políticas estão ouvindo o conselho de epidemiologistas
sérios e especialistas em saúde pública.
Ainda
assim, ele diz que o mundo tem que ter cuidado com o “pensamento de grupo” e
que até “pequenas escolhas erradas podem ter grandes consequências”.
Para
ele, a questão é como podemos ser mais cirúrgicos na resposta ao vírus de forma
a manter a letalidade baixa e ao mesmo tempo permitir que as pessoas voltem ao
trabalho o mais cedo possível e com segurança.
Friedman
também cita um artigo publicado semana passada pelo Dr. John P. A. Ioannidis,
um epidemiologista e codiretor do Centro de Inovação em Stanford.
No
artigo, Ioannidis diz que a comunidade científica ainda não sabe exatamente
qual é a taxa de mortalidade do coronavírus.
Segundo
ele, “as evidências disponíveis hoje indicam que a letalidade pode ser de 1% ou
ainda menor. ”
“Se
essa for a taxa verdadeira, paralisar o mundo todo com implicações financeiras
e sociais potencialmente tremendas pode ser totalmente irracional.
É
como um elefante sendo atacado por um gato doméstico. Frustrado e tentando
fugir do gato, o elefante acidentalmente pula do penhasco e morre. ”
Friedman
também cita o Dr. Steven Woolf, diretor emérito do Centro Sobre a Sociedade e
Saúde da Universidade da Virgínia, para quem o lockdown “pode ser necessário
para conter a transmissão comunitária, mas pode prejudicar a saúde de outras
formas, custando vidas”
“Imagine
um paciente com dor no peito ou sofrendo um derrame — casos em que a rapidez de
resposta é essencial para salvar vidas — hesitando em chamar o serviço de
emergência por medo de pegar coronavírus.
Ou
um paciente de câncer tendo que adiar sua quimioterapia porque a clínica está
fechada”.
Friedman
complementa: “Imagine o estresse e a doença mental que virá — já está vindo —
de termos fechado a economia, gerando desemprego em massa”.
Woolf,
o médico da Virgínia, afirma [no artigo] que a renda é uma das variáveis mais
fortes a afetar a saúde e a longevidade:
“Os
pobres, que já sofrem há gerações com taxas de mortalidade mais altas, serão os
mais prejudicados e provavelmente os que receberão menos ajuda”
Há
outro caminho? Pergunta Friedman.
Para
ele, a melhor ideia até agora veio do Dr. David Katz, diretor do Centro de
Prevenção e Pesquisa da Universidade de Yale e um especialista em saúde pública
e medicina preventiva.
Num
artigo publicado sexta-feira no The New York Times, o Dr. Katz diz que há três
objetivos neste momento: salvar tantas vidas quanto possível, garantindo que o
sistema de saúde não entre em colapso, “mas também garantir que no processo de
atingir os dois primeiros objetivos não destruamos nossa economia e, como
resultado disso, ainda mais vidas. ”
Katz
diz que o mundo tem que mudar a estratégia de “interdição horizontal” que
estamos empregando agora — restringindo o movimento e o comércio de toda a
população, sem considerar a variância no risco de infecção severa — para uma
estratégia mais “cirúrgica”, ou de “interdição vertical”.
“A
abordagem cirúrgica e vertical focaria em proteger e isolar os que correm maior
risco de morrer ou sofrer danos de longo prazo — isto é, os idosos, pessoas com
doenças crônicas e com baixa imunidade — e tratar o resto da sociedade
basicamente da mesma forma que sempre lidamos com ameaças mais conhecidas como
a gripe. ”
Katz
sugere que o isolamento atual dure duas semanas, em vez de um período
indefinido.
Para
os infectados, os sintomas aparecerão nesse período.
“Aqueles
que tiverem uma infecção sintomática devem se auto isolar em seguida, com ou
sem testes, que é exatamente o que fazemos com a gripe.
Quem
não estiver sintomático e fizer parte da população de baixo risco deveria voltar
ao trabalho ou a escola depois daquelas duas semanas. ”
“O
efeito rejuvenescedor na alma humana e na economia — de saber que existe luz no
fim do túnel — é difícil de superestimar.
O
risco não será zero, mas o risco de acontecer algo ruim com qualquer um de nós
em qualquer dia da nossa vida nunca é zero. ”
*Diário
do Brasil
Terça-feira,
14 de Abril, 2020 ás 11:00