O
Facebook suspendeu na quarta-feira (08/07) uma rede de contas na rede social
que a empresa disse ter sido usada para espalhar mensagens políticas de
desinformação por assessores do presidente Jair Bolsonaro e de dois de seus
filhos.
A
empresa afirmou que, apesar dos esforços para disfarçar quem estava por trás da
atividade, foram encontrados vínculos com as equipes de dois parlamentares,
assim como de assessores do presidente e de seus filhos Eduardo Bolsonaro
(PSL-SP), que é deputado federal, e Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), que é
senador.
Nathaniel
Gleicher, chefe da política de segurança cibernética do Facebook, disse que não
há evidências de que os próprios políticos tenham operado as contas. “O que
podemos provar é que os funcionários desses gabinetes estão envolvidos em
nossas plataformas nesse tipo de comportamento”, disse ele à Reuters antes do
anúncio.
Procurado
pela Reuters, o Palácio do Planalto não respondeu de imediato a pedido de
comentários.
As
alegações do Facebook se somam à atual crise política no Brasil, onde
apoiadores de Bolsonaro e filhos do presidente têm sido acusados de realizar
campanhas online coordenadas para atacar adversários políticos do presidente.
As
acusações estão sendo abordadas em uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
no Congresso, a CPMI das Fake News,
e também são alvo de uma investigação separada do Supremo Tribunal Federal
(STF) sobre ataques ao Judiciário, que já resultou em operações policiais de
busca e apreensão em casas e escritórios de aliados de Bolsonaro.
O
presidente, que também é alvo de críticas pela resposta do governo federal à
pandemia de coronavírus, disse que a investigação do STF é inconstitucional e
pode resultar em censura no Brasil, ao restringir o que as pessoas podem dizer
nas redes sociais.
O
Facebook está sob crescente pressão nas últimas semanas para policiar melhor
como os grupos políticos usam sua plataforma. Centenas de anunciantes aderiram
a um boicote destinado a forçar a empresa a bloquear o discurso de ódio, e
vários funcionários saíram no mês passado devido à decisão do CEO, Mark
Zuckerberg, de não questionar posts inflamatórios de Trump.
O
Facebook também suspendeu outras três redes de desinformação nesta
quarta-feira, incluindo uma que atribuiu a Roger Stone, um amigo de longa data
e conselheiro do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
No
caso do Brasil, Gleicher disse que sua equipe identificou e suspendeu mais de
80 contas no Facebook e em seu site de compartilhamento de fotos, o Instagram,
como parte da rede de desinformação. As contas acumulavam 1,8 milhão de
seguidores, disse ele, e algumas datam de 2018.
Pesquisadores
do Laboratório de Pesquisa Forense Digital do centro de estudos Atlantic
Council, que passaram uma semana analisando a atividade identificada pelo
Facebook, disseram ter encontrado cinco assessores políticos atuais e do
passado que registraram e operaram as contas.
Algumas
dessas contas se passavam falsamente por pessoas e veículos de comunicação para
espalhar “visões hiperpartidárias” de apoio a Bolsonaro e atacar seus críticos,
disse a pesquisadora Luiza Bandeira. Entre os alvos estavam parlamentares da
oposição, ex-ministros e membros do STF.
Mais
recentemente, as contas também apoiaram as alegações de Bolsonaro de que os
riscos da pandemia de coronavírus são exagerados. A doença já matou mais de
66.000 pessoas no Brasil, e o próprio Bolsonaro teve exame positivo nesta
semana.
“Sabemos
há muito tempo que, quando as pessoas discordam de Bolsonaro, são alvo dessa
máquina que usa a desinformação online para ironizá-las e desacreditá-las”,
disse Bandeira. “Então, saber agora que parte desses ataques vem de pessoas diretamente
relacionadas à família Bolsonaro, isso explica muito. ”
Reportagem
de Jack Stubbs, em Londres, e Joseph Menn, em San Francisco; reportagem
adicional de Anthony Boadle, em Brasília. (Reuters)
Quarta-feira,
8 de julho, 2020 ás 17:50