“Perdemos
a oportunidade de elevar o nível do debate eleitoral, de realizar um debate
programático. Perdemos a paciência, a tolerância e o respeito. Perdemos
conhecidos, amigos e familiares. Nós nos perdemos”
Dê
Aécio ou dê Dilma, já perdemos. Tucanos e petistas perderam. Aqueles que votam
nulo perderam. Aqueles que não votam perderam. Aqueles que escolheram seu voto
de forma crítica, porém convicta, também perderam. Todos perderam. Perdemos. A
sociedade brasileira foi quem perdeu nessas eleições, antes mesmo dos
resultados do segundo turno serem anunciados.
As
redes sociais se tornaram verdadeiros campos de batalha. Quem não se descabelou
ou morreu de nervoso ao entrar no Facebook nesse período eleitoral que atire a
primeira pedra! Quantos amigos flagrei entoando o mantra “não vou comentar, não
vou comentar, não vou comentar!”. Tarde demais, já haviam comentado. E eu já
havia comentado, e todos já haviam comentado.
Como
se não bastasse o baixo nível do debate dos nossos candidatos, tão criticado
pela população, conseguimos ser mais simplistas ainda na desqualificação e
desconstrução uns dos outros: “Quem vota no Aécio é manipulado pela grande
mídia e quer ver pobre se foder. Quem vota na Dilma tá ganhando Bolsa Família e
é corrupto. Quem vota no PT é petralha. Quem vota no PSDB é tucanalha ou reaça
ou os dois”.
Expressar
a própria opinião virou sinônimo de ser julgado. Abrir seu voto e dizer quem é
seu candidato virou um ato de coragem. De repente, ficou mais fácil ganhar na
Mega Sena do que encontrar pessoas dispostas a discutir de forma respeitosa.
Duvido que exista alguém que tenha declarado seu voto e não tenha recebido
comentários como “Afff, como assim?”, “Você tá zuando, né?”, “Coitada,
desandou!”, “Nossa, perdi minhas esperanças agora!”.
Os
planos de governo, propostas, compromissos, base aliada, apoiadores e tudo o
mais que interessa para melhorar a vida dos cidadãos foram esquecidos, deixados
de lado, como sequer existissem. Afinal, para que saber o que propõe o Aécio e
quem é sua base aliada se o que me interessa é tirar o PT do poder? Ou para que
conhecer os compromissos da Dilma se o Aécio é um cheirador e eu não sou
coxinha para votar nele?
Ah,
perdemos, e como perdemos! Dos comentários foram surgindo os discursos de ódio
cada vez mais inflamados. Xingamentos, tons violentos, ofensas e baixarias.
Argumentos embasados e civilizados sumiram, entraram em extinção. A violência é
evidente e nos deparamos com um país dividido, tristemente rasgado. Os valores
democráticos foram colocados em xeque. Política virou futebol, religião. Com
direito a briga de torcidas organizadas.
Ver
crescer o ódio dentro de uma mesma nação me tira um pouco o orgulho de ser
brasileira. E o que mais dói nisso tudo é ver que, até aqui, essas torcidas só
apareceram a cada quatro anos, como em uma Copa do Mundo. E depois de domingo,
como abóbora, tudo volta a ser como era antes. Teremos salvado (ou condenado) o
país do comunismo ou do neoliberalismo e as redes sociais seguirão
insuportáveis por mais alguns dias (e realmente espero que seja só por mais
alguns dias, e que essa tensão não perdure). Mas a missão será dada como
cumprida pela maioria da população, que orgulhosa pensa que seu dever acaba ali
nas urnas.
Do
debate desqualificado seguiremos com a participação cidadã enfraquecida. Muitas pessoas só irão discutir política
novamente daqui quatro anos. Serão poucos os que continuarão acompanhando,
criticando e cobrando aquele que for eleito, sendo seu candidato ou não, na
luta por um Brasil melhor.
A
festa terá acabado, a luz se apagado e o povo sumido. Perdemos (e muito), José!
POR:
NICOLE VERILLO
Sexta-feira,
24 de outubro, 2014.
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