No
primeiro ato público ao lado do candidato à Presidência Aécio Neves (PSDB),
Marina Silva (PSB) criticou o clima de "vale-tudo" eleitoral e disse
ser preciso resgatar a "ética na política". O tucano, por sua vez,
comparou a aliança selada entre os dois com o movimento que foi feito na década
de 1980 para tirar os militares do poder.
Marina,
que terminou a corrida presidencial em terceiro lugar, anunciou apoio à
candidatura de Aécio no último domingo, mas só ontem os dois apareceram juntos
em público. Em junho, quando a ex-ministra ainda era vice na chapa de Eduardo
Campos, ela chegou a dizer que não subiria "em hipótese alguma no palanque
do PSDB".
Ontem,
porém, o ato foi marcado por uma intensa troca de elogios entre os antigos
adversários. Em seu discurso, o tucano classificou o momento como o "mais
importante" da sua "caminhada" até aqui e afirmou que a união
com Marina teve como base três eixos: a defesa da democracia, o avanço das
políticas sociais e o desenvolvimento sustentável.
Já
a ex-ministra agradeceu pela forma "generosa" com que estava sendo
tratada por Aécio e lembrou que o acordo entre os dois incluía o compromisso
com a reforma agrária e com a proteção dos direitos indígenas.
Apesar
de bastante esperado pelos tucanos, o encontro entre Marina e Aécio durou menos
de uma hora e teve como objetivo principal gravar cenas para o horário
eleitoral da TV. A ex-candidata surpreendeu aos aliados ao comparecer ao evento
com os cabelos presos num rabo de cavalo, sem o seu habitual coque. Aos jornalistas,
disse que, como estava gripada, não faria bem prender o cabelo molhado. Essa
foi a única declaração dada à imprensa. Marina, que é conhecida por defender a
nova política, deixou o local sem comentar, por exemplo, o fato de o
ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra ter sido acusado de receber propina pelo
ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa.
Aécio
também não falou sobre o assunto. Em rápida entrevista coletiva, preferiu
comparar a união com Marina à "Aliança Democrática" de 1985, que teve
como objetivo vencer a eleição indireta para a Presidência da República daquele
ano e, assim, pôr fim a mais de duas décadas de ditadura militar.
"Eu
participei como um espectador privilegiado ao lado do meu avô (Tancredo Neves)
da construção da aliança democrática que tinha um único objetivo, encerrar o
ciclo autoritário no Brasil, acabar com a ditadura. Hoje temos um outro
desafio, que não é menor do que aquele, que é encerrar este ciclo de governo
que aí está e que perdeu as condições de governar o Brasil pelo fracasso na
economia e no descompromisso com a ética", disse.
Segundo
Aécio, as forças que se uniram em torno do nome de Tancredo naquele ano também
atuavam em campos distintos do ponto de vista ideológico, mas tinham um
objetivo comum, que era acabar com a ditadura. Ele lembrou ainda que, embora
seu avô tenha morrido antes de assumir a Presidência, os frutos dessa aliança
perduram até hoje. Para ele, a aliança com Marina teria esse mesmo simbolismo,
pois representaria a nova política e o fim de 12 anos do PT no poder.
Vale-tudo
Depois
de ouvir Marina afirmar que "não vale tudo para ganhar uma eleição" e
dizer que esperava que ele vencesse a disputa sem deixar de lado seus
princípios éticos, Aécio criticou o tom que a campanha vem tendo até aqui e culpou
a presidente Dilma Rousseff por não fazer um debate propositivo.
"O
desespero dos nossos adversários está levando com que eles percam a noção, a
sensatez de uma disputa que deveria ser programática. Política não é uma
guerra, não pode ser este vale-tudo, não pode continuar neste caminho de querer
destruir reputações para ganhar eleição, ganhar pra quê?", disse.
TV
O
encontro entre Marina e Aécio não passou despercebido pela campanha de Dilma.
Ontem, o PT exibiu na sua propaganda de TV trechos de um debate no 1.º turno da
eleição em que Marina e Aécio se criticam. Segundo a petista, o adversário muda
de opinião de acordo com "as conveniências de momento".
A
aliança com Marina é a grande aposta do tucano para vencer a candidata do PT. O
apoio da ex-ministra, porém, pode não ajudá-lo tanto assim. Segundo a pesquisa
Datafolha divulgada nesta semana, enquanto 20% dos eleitores disseram que o
apoio de Marina "poderia" levá-los a votar em alguém, 23% afirmaram
que não votariam num candidato apoiado por ela.
As informações são do jornal O
Estado de S. Paulo.
Sábado, 18 de outubro, 2014.
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