O nome do jogo agora é compra
de votos. O Planalto já comunicou e alinhava os retoques finais de um pacotão
de bondades que soma a astronômica quantia de mais de R$ 160 bilhões. Números
oficiais do próprio governo. Detalhe é que ele não exibe o menor pudor em vir a
público para admitir isso. É parte do espetáculo, já foi incorporado como tal.
Quem detém a máquina faz uso dela como quer para garantir tempo no poder.
Esquizofrenia do modelo
presidencialista brasileiro, o mecanismo da reeleição provocou essa aberração.
Em outras palavras: quem alcança a Presidência da República uma primeira vez
ganha, de quebra, os instrumentos, recursos e a força de uma base aliada
dependente de emendas federais para seguir titular no cargo. Imoral? Injusto
numa disputa desigual? Sem dúvida.
Mas aqueles com sede de comando nem titubeiam
em abusar do erário para conseguir o objetivo. Observe o atual presidente Jair
Bolsonaro. Eleito em 2018 com a promessa de acabar com o sistema de dois
mandatos – que dizia ser indecente –, desistiu da ideia logo depois que tomou
posse e passou a trabalhar diuturnamente para sair outra vez vitorioso nas
urnas, praticando um populismo escrachado, pedalagens fiscais em desalinho com
a Lei e o escambo de apoio parlamentar em troca de verba.
Haja dinheiro! Apenas no
famigerado orçamento secreto, uma excrescência que em nenhum momento foi
coibida por qualquer instituição do Estado – apesar de todos os sinais de
irregularidade –, torraram-se mais de R$ 16,5 bilhões. E o que é pior: tendo de
cortar de áreas chaves da administração pública, como Educação, Saúde e
saneamento básico.
Isso é o que todos esperam
quando escolhem um representante? Naturalmente que não. Bolsonaro até esquece
de governar. Desde que assumiu é assim. Metido em motociatas, quase diariamente
criando tumultos em mobilizações de protestos e sempre dizendo que a culpa não
é dele pelos males que acometem o País.
Enquanto isso, inflação, juros
e câmbio explodem. Desemprego bate recorde e a economia, sem perspectiva, exibe
PIBs pífios, quando não, negativos. Que projeto de desenvolvimento é esse em
andamento? O voto de cada um não pode ser desperdiçado em personagens dessa
laia.
Dias atrás, Bolsonaro teve a
pachorra de admitir que distribui dinheiro a políticos para acalmar o
Congresso. Nem se preocupa mais em esconder a negociata de cargos e salários,
que trouxe de volta ao pináculo do poder o venal bloco do Centrão mensaleiro.
Como a vangloriar-se da tática, o capitão justifica a atitude dizendo que os
parlamentares gostam mesmo é de “mandar recursos para a sua cidade”. Nessa
toada, o MEC, que deveria financiar e estruturar a Educação brasileira,
mergulhou no centro de um escândalo de corrupção que mistura pagamentos – até
em lingotes de ouro – a pastores, licitações superfaturadas e um assalto
descarado ao FNDE, o maior fundo de desenvolvimento escolar da América Latina.
Tudo com o beneplácito de Bolsonaro, que orientou diretamente o seu ministro da
pasta a agir conforme a demanda dos amigos. Assim a roda gira nessa engrenagem.
Uma tentativa de CPI que
investigasse e apurasse os ilícitos foi abafada por articulação do Planalto
para não revelar as escaramuças do esquema. Território dominado no Congresso,
com a Polícia Federal e o Ministério Público manietados pelo Messias propiciam
a impunidade. Enquanto isso, na festa de distribuição de “presentes”
temporários para distrair e conquistar a turba segue o vale tudo.
Um benefício de Auxílio Brasil
turbinado no valor de R$ 400 por família (apenas em 2022 ou enquanto durar a
corrida às eleições, é bom lembrar!), o vale gás, a tarifa de energia elétrica
congelada e mais uma série de penduricalhos do tipo estão no radar. É o que
chamam de compra de popularidade para atender aos anseios de reeleição do
“mito”. A estratégia dá conta da falência indiscutível de um modelo que precisa
ser revisto.
Precificam um estouro de caixa
da União, sempre empurrado para o ano seguinte da disputa e o Brasil passa um
bom período estagnado para recompor o estrago. No afã de iludir incautos vale
até a malandragem. Há pouco tempo, ficou-se sabendo que o mandatário abandonou
as obras de 3,5 mil escolas inacabadas e anunciou um esquema de construção de
“escolas fake”, ludibriando eleitores com a ideia de ter arranjado recursos
novos para edificar colégios e creches. O ardil foi bolado e apadrinhado
diretamente pelo ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, já condenado por
corrupção no Mensalão, em sentença reiterada recentemente pela Justiça.
IstoÉ
Quinta-feira, 14 de abril 2022
às 11:59