A
proximidade com o Palácio do Planalto não garante à população do Distrito
Federal a ausência de problemas que o Brasil não consegue resolver, como o
acesso ao esgoto tratado nas cidades. Embora a cobertura da capital seja
recordista no país — 85% dos domicílios urbanos na cidade têm rede, enquanto no
Brasil o índice é de 42% —, existe uma parcela para a qual o serviço não chega.
São mais de 115 mil famílias convivendo com rejeitos a céu aberto ou utilizando
fossas rudimentares e sépticas, segundo dados da Companhia de Planejamento do
Distrito Federal (Codeplan). Mais do que a falta de verba, o impasse da
expansão do sistema esbarra na questão fundiária. No DF, as regiões sem
saneamento são, na maioria, aquelas em terrenos não regularizados. Diante da
realidade, o Estado se vê em um impasse: de um lado, garantir a saúde pública
com acesso a saneamento; do outro, implantar obras de infraestrutura e
consolidar ocupações irregulares.
Enquanto
o conflito burocrático existe e a solução parece distante, as famílias aprendem
a viver com as condições. Nas áreas sem esgoto tratado, os moradores usam fossa
para livrar dos dejetos. Nesses locais é comum ver um pequeno buraco coberto
com concreto, telhas ou uma ripa de madeira, e um cano alto em frente às casas
— do compartimento saem os gases acumulados, impedindo a fossa de explodir.
Outra cena comum são valas cheias de água suja. Como o custo de limpar a
cavidade fica para o proprietário da casa, muitos preferem ligar apenas o
banheiro ao sistema. Os resíduos de outros cômodos da casa, como máquina de
lavar, tanque e pia da cozinha, são despejados para fora por um cano. O
resultado é a proliferação de doenças infecciosas e aumento de incidência de
mosquitos, como Aedes aegypti, agente de doenças que preocupam o Brasil, como a
dengue e a zika. Fora o desgaste do asfalto e a erosão nas áreas não
pavimentadas.
Dos
bairros sem esgoto, o de Santa Luzia, na Estrutural é um dos mais críticos.
Embora boa parte da cidade tenha saneamento, o endereço ainda não foi
contemplado. Para transitar pelas ruas, os moradores precisam desviar das
poças. As crianças brincam entre o lixo e a água suja. O pedreiro Antônio
Marcos Costa e Silva, 33 anos, mora há menos de 30m de uma estação de
tratamento de esgoto, mas não tem acesso ao serviço. Segundo ele, a rede está
sobrecarregada e comumente estoura. O cheiro de chorume é constante. Quando os
caminhões, rumo ao Lixão da Estrutural, passam pelo local e o líquido parado é
remexido, o odor piora. “Eu moro aqui desde 2006 e nada muda. A gente só aguenta
esse fedor podre porque é a única opção”, lamenta. Além de não ter acesso a
esgoto, a família de Antônio só conta com água tratada porque conseguiu fazer
uma gambiarra. Mesmo assim, ele comenta que os filhos e a mulher sofrem com
constantes diarreias. Para o futuro, ele pretende comprar um filtro.
(Flávia
Maia)
Domingo,
21 de fevereiro, 2016