Quem
diria, a mãe do PAC, a gerentona que tudo acompanha, que de tudo sabe, e dá
socos na mesa quando desagradada, não passa de uma rainha da Inglaterra, que
nada sabe do que acontece em seu redor, de quase nenhum poder de decisão.
Pelo
menos, é o que querem que a opinião pública acredite desta vez, quando estão em
julgamento atos do primeiro governo Dilma considerados ilegais pelo Tribunal de
Contas da União (TCU).
O
mesmo já acontecera na Petrobras, quando ela alegou que, como presidente do
Conselho de Administração da estatal, fora induzida ao erro pelo então diretor
Nestor Cerveró, que teria apresentado um relatório "técnico e
juridicamente falho" para aprovar a compra da refinaria de Pasadena, nos
Estados Unidos.
A
imagem da grande administradora, e ao mesmo tempo "mãe dos pobres",
foi criada pelo marqueteiro João Santana especialmente para Lula lançá-la
candidata à sua sucessão em 2010.
Ele
é defensor da tese de que existe um "espaço imaginário de uma rainha"
no inconsciente coletivo brasileiro, "uma imensa cadeira vazia" na
nossa mitologia política e sentimental, que chama metaforicamente "de
cadeira da rainha", e que poderia ser ocupada por Dilma. Santana dizia na
ocasião que nem mesmo a princesa Isabel preenchera esse lugar inteiramente.
São
inúmeros os relatos sobre quão centralizadora é a presidente Dilma, e de seus
modos, rudes muitas vezes, em reuniões setoriais em que se desagradava de
alguma apresentação. Assim como são vários os relatos de ministros e
autoridades em geral que teriam saído chorando de seu gabinete depois de
destratados por ela.
Há
relatos que podem ser exagerados, de palavras de baixo calão ditas no calor de
uma discussão, mas são muitos. Enfim, a única coisa que não existia até agora
era a descrição de uma presidente que não sabe o que seus assessores mais
próximos estão fazendo.
Quando,
ainda no primeiro mandato, pensava-se num substituto para o então ministro da
Fazenda Guido Mantega, lá vinha a explicação para sua inamovibilidade: a
presidente não encontraria nenhum outro que cumprisse fielmente o que queria.
Na
verdade, a ministra da Fazenda era a própria Dilma. Pois agora, que as chamadas
"pedaladas fiscais" e outras irresponsabilidades com o Orçamento
público estão sendo contestadas pelo TCU, que exigiu explicações em 30 dias da
própria presidente Dilma, surge a explicação de que toda a responsabilidade tem
que ser jogada sobre o ex-secretário de Tesouro Arno Augustin.
Merval
Pereira- o globo - 21/06
Domingo,
21 de junho, 2015