O ministro da Justiça e Segurança
Pública, Sergio Moro, pediu demissão do cargo, deixando o governo do presidente
Jair Bolsonaro após quase 16 meses à frente da pasta. Ao anunciar sua decisão,
Moro lamentou ter que reunir jornalistas e servidores do órgão em meio à
pandemia do novo coronavírus para anunciar sua saída, mas esta foi “inevitável
e não por opção minha”.
Em
um pronunciamento de 38 minutos, Moro afirmou que pesou para sua decisão o fato
de o governo federal ter decidido exonerar o diretor-geral da Polícia Federal
(PF), Maurício Valeixo. O decreto de exoneração
foi publicado hoje (24/04), no
Diário Oficial da União. É assinado eletronicamente pelo presidente Jair
Bolsonaro e por Moro, e informa que o próprio Valeixo pediu para deixar o
comando da corporação.
O
ministro, no entanto, afirmou que nem assinou o decreto e que nem o agora
ex-diretor-geral da PF cogitava deixar o cargo. “Não é absolutamente verdadeiro
que Valeixo desejasse sair”. Para o ministro, a substituição do diretor-geral,
sem um motivo razoável, afeta a credibilidade não só da PF.
“O
grande problema desta troca é que haveria uma violação da garantia que me foi
dada quando aceitei o convite para ingressar no governo, a garantia de que eu
teria carta branca. Haveria interferência na PF, o que gera um abalo na
credibilidade. Minha e do governo. E também na PF, gerando uma desorganização
que, a despeito de todos os problemas de corrupção dos governos anteriores, não
houve no passado”, disse Moro.
Moro
também destacou que disse ao presidente que não tinha problema nenhum em trocar
o diretor-geral da PF, mas que isso deveria ser feito com base em um motivo
relacionado ao desempenho do ocupando do cargo. "Eu sempre disse ao presidente
que não tinha nenhum problema em trocar o diretor-geral, mas precisava de uma
causa relacionada a uma insuficiência de desempenho, a um erro grave. No
entanto, o que eu vi durante todo o período, é que o trabalho é bem
feito", avaliou o então ministro.
Moro
ressaltou que ontem conversou com o presidente sobre a possibilidade de mudança
no comando da PF e que falou sobre impactos negativos relacionados à decisão.
"Falei que isto teria um impacto para todos, que seria negativo, mas para
evitar uma crise [política] durante uma pandemia, sinalizei: 'presidente: então
vamos substituir o Valeixo por alguém que represente a continuidade dos
trabalhos'”, contou o ministro, revelando que chegou a sugerir o nome do atual
diretor-executivo da PF, Disney Rosseti, que é servidor de carreira da
corporação.
O
então ministro disse ainda que o presidente tem preferências por outros nomes.
"me disse, mais de uma vez, expressamente, que queria ter [na
direção-geral da PF] uma pessoa do contato pessoal dele, para quem ele pudesse
ligar, colher informações, que pudesse colher relatórios de inteligência. Este,
realmente, não é o papel da PF”, disse Moro.
Repercussão
Ontem
(23), tão logo surgiram as primeiras informações de que Bolsonaro cogitava
substituir Valeixo, entidades de policiais federais se manifestaram. Em nota
conjunta, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) e a
Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (Fenadepol) afirmaram que
as recorrentes trocas no comando da corporação afetam sua estabilidade e
credibilidade.
“O
problema não reside nos nomes de quem está na direção ou de quem vai ocupá-la.
Mas sim, na absoluta falta de previsibilidade na gestão e institucionalidade
das trocas no comando”, afirmam as entidades. “Nos últimos três anos, a Polícia
Federal teve três Diretores Gerais diferentes. A cada troca ou menção à
substituição, uma crise institucional se instala, com reflexos em toda a
sociedade que confia e aprova o trabalho de combate ao crime organizado e à corrupção.
”
Já
após a confirmação da exoneração de Valeixo, a Associação Nacional dos Peritos
Criminais Federais (APCF) manifestou-se “surpresa” e “preocupada”. “É
preocupante que o Executivo lance mão de sua prerrogativa de trocar o comando
da PF sem apresentar motivos claros para isso. Trata-se de um episódio que gera
perigoso precedente e cria instabilidade para a atividade do órgão. A Polícia
Federal é uma instituição de Estado e deve seguir, com autonomia e rigor
científico, em sua missão de combater o crime doa a quem doer. ” (ABr)
Sexta-feira,
24 de Abril, 2020 ás 12:46