Um estudo apresentado na quarta-feira (29/3) na reunião de primavera da Sociedade Americana de Química (ACS, na sigla em inglês) pode representar um dos principais avanços recentes no tratamento de obesidade. Cientistas descobriram um método de promover o emagrecimento semelhante ao de uma cirurgia bariátrica apenas com medicamentos e sem efeitos colaterais.
Sabe-se que pacientes que são submetidos a uma cirurgia bariátrica têm alterações, nos meses seguintes, nos níveis de secreção intestinal de certos hormônios que sinalizam à saciedade, reduzem o apetite e normalizam o açúcar no sangue, como o peptídeo-1 semelhante ao glucagon (GLP-1) e peptídeo YY (PYY).
Medicamentos usados hoje, imitam o GLP-1 no cérebro e no pâncreas, alguns deles, como a semaglutida e a liraglutida, ganharam fama por ajudar na perda de peso.
Entretanto, essas drogas costumam ter alguns efeitos colaterais desagradáveis, principalmente gastrointestinais, o que faz com que muitos pacientes desistam do tratamento ainda no primeiro ano.
“Dentro de um ano, 80 a 90% das pessoas que começam a usar essas drogas não as estão mais tomando”, afirma o pesquisador Robert Doyle, da Syracuse University, um dos autores do estudo.
Juntamente com Christian Roth, o Seattle Children’s Research Institute, a equipe de Doyle projetou tratamentos que interagissem com mais de um tipo de receptor de hormônio intestinal.
Eles criaram um peptídeo que ativa dois receptores para PYY, além do GLP-1. A substância foi batizada de GEP44.
Nos primeiros estudos em camundongos, o GEP44 fez com que os animais obesos comessem até 80% menos do que normalmente comiam.
Após 16 dias, eles haviam perdido 12% do seu peso, três vezes mais do que os ratos que haviam sido tratados com liraglutida. Isto deixou evidente, na avaliação dos pesquisadores, o potencial da substância para reduzir “drasticamente” o peso corporal.
Os autores ainda observaram que, ao contrário dos que receberam a liraglutida, os que tomaram GEP44 não apresentaram sinais de náusea ou vômito.
“Durante muito tempo, não pensávamos que fosse possível separar a redução de peso de náuseas e vômitos, porque eles estão ligados exatamente à mesma parte do cérebro”, comemora Doyle.
Eles atribuem a perda de peso dos ratos não apenas à diminuição da alimentação, mas a um maior gasto de energia, seja pelo aumento dos movimentos, da frequência cardíaca ou da temperatura corporal.
Ainda há muitos desafios pela frente. O GEP44 tem uma meia-vida curta, de apenas uma hora, mas o grupo já trabalhou em uma versão que dura mais tempo no organismo que poderia ser injetada uma ou duas vezes na semana.
Outro ponto positivo apontado é que os ratos tratados com o peptídeo experimental se mantiveram magros mesmo quando já não recebiam mais as injeções. Houve também redução dos níveis de açúcar no sangue.
O próximo passo é testar o GEP44, já patenteado, em primatas.
*R7
Quarta-feira, 29 de março 2023 às 15:45Recomende aos seus amigos!
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