A
volta do investimento em infraestrutura seria uma excelente saída para este
momento de crise aguda, frustrações, inflação em alta, recessão econômica,
desemprego, queda da renda e dos salários, etc. Se conduzida com comunicação
competente, licitações atraentes e regras estáveis e firmes, sem hesitações e
recuos, teria força para desencadear um ambiente favorável aos negócios, capaz
de dar início à retomada do crescimento econômico.
Mas
a agenda de investimentos empacou, perdeu-se na falta de confiança no governo e
em riscos em série (político, cambial, jurídico e institucional) que têm
produzido incertezas quanto ao futuro e afastado investidores que temem perder
dinheiro aplicando em projetos sujeitos à regulação do governo ou do
Legislativo, que já deram inúmeras provas de instabilidade regulatória. Um
governo que congelou o preço dos combustíveis por anos e baixou a tarifa de
energia na marra, desestruturando a Petrobrás e a Eletrobrás, pode esperar
atrair a confiança de investidores privados em petróleo e energia?
Depois
de dois adiamentos, o governo se prepara para, no dia 25 de novembro, licitar
29 usinas hidrelétricas que se recusaram a renovar a concessão em 2013.
Trata-se de ativos prontos e em operação, e com eles o governo espera arrecadar
R$ 17 bilhões para ajudar a fechar as contas e cumprir a meta fiscal em 2015. O
leilão já vai começar com dois componentes desfavoráveis: a Eletrobrás não vai
participar e o BNDES não vai financiar. A Eletrobrás porque ficou
descapitalizada depois da desastrada redução da tarifa em 2013 e não tem
dinheiro para bancar o investimento. E, quanto ao financiamento, o presidente
do BNDES, Luciano Coutinho, já avisou: “O banco tem escassez de recursos em
TJLP e seu uso nobre é financiar novos investimentos produtivos, não ativos
existentes”.
Para
tentar atrair investidores estrangeiros, o secretário executivo do Ministério
do Planejamento, Dyogo Oliveira, reuniu-se com representantes de bancos e
empresas operadoras em Nova York, Frankfurt e Londres. Como de praxe, disse
estar confiante no interesse dos estrangeiros no Brasil, mas fez ressalvas: “Na
verdade, o sucesso desses programas de concessão depende muito dos investidores
locais”, afirmou, referindo-se não só às 29 hidrelétricas, mas a portos,
aeroportos, rodovias e ferrovias. O sucesso esbarra nos investidores locais,
que parecem ter desaparecido: as empreiteiras, impedidas de participar, são
acusadas de corrupção pela Operação Lava Jato; as enfraquecidas estatais estão
mais para programas de desinvestimento, vendendo ativos, do que para novos
projetos; e os bancos privados estão ressabiados com os prejuízos que tiveram
ao se tornarem sócios da empresa Sete Brasil (que venderia sondas à Petrobrás),
afogada no atoleiro.
De
todos esses setores, o do petróleo é possivelmente o único capaz de dispensar o
operador local. Evidente que ter a Petrobrás como sócia interessa aos
estrangeiros, pelo grau de conhecimento que ela tem do País e das áreas de
exploração de óleo. Mas, com a saúde financeira abalada, a Petrobrás está mais
preocupada em faturar com a venda de seus ativos do que gastar dinheiro em
novos investimentos. O que, por sinal, a afastou do último leilão. Só que as
regras concebidas pessoalmente por Dilma Rousseff, quando ainda era ministra,
obrigam a Petrobrás a participar de todos os leilões com mínimo de 30% do valor
do investimento na área do pré-sal, a mais cobiçada, pela certeza da existência
de óleo.
Ou
seja, enquanto a Petrobrás não recuperar seu caixa (sabe-se lá quando!), o
petróleo do pré-sal vai mofar no fundo do mar, sem gerar riqueza, renda e
emprego para os brasileiros. Por pura teimosia de dona Dilma, que errou ao
conceber essa regra e insiste em manter o erro. A Petrobrás deve, sim, ganhar
preferência no pré-sal, por ser a única brasileira tecnologicamente preparada.
Mas ela pode, se quiser, abrir mão da preferência. Inconcebível é obrigá-la a
investir uma soma de dinheiro que ela não terá tão cedo e adiar indefinidamente
investimentos de que o País precisa.
Por:
SUELY CALDAS
Domingo,
08 de novembro, 2015
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