Liberdade de expressão

“É fácil submeter povos livres: basta retirar – lhes o direito de expressão”. Marechal Manoel Luís Osório, Marquês do Erval -15 de abril de 1866

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11 julho, 2016

CANDIDATOS FAVORITOS NA CÂMARA TÊM PENDÊNCIAS JUDICIAIS




Dos seis candidatos favoritos à sucessão do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na presidência da Câmara, quatro enfrentam algum tipo de processo judicial, um apareceu na Operação Lava Jato e o sexto não responde mais a ações porque os crimes dos quais era acusado prescreveram. Entre os que ainda respondem, há acusações como peculato (desvios de recursos públicos) e até por submeter empregados a condições de trabalho análogas à escravidão.

A eleição do próximo presidente da Câmara, prevista para quarta-feira, vai definir uma figura central para os próximos passos do governo. Além de ser o primeiro na linha sucessória do presidente em exercício Michel Temer, o substituto de Cunha terá poder para acelerar ou atrapalhar o processo de cassação do peemedebista e as votações de projetos importantes para o ajuste fiscal do governo.

Levantamento checou as pendências dos 16 nomes até agora cotados para a disputa nos bancos de dados públicos dos tribunais de Justiça, nas cortes superiores e eleitorais. Em nove deles, encontrou algum tipo de procedimento. Iniciada após a renúncia de Cunha, na quinta-feira, a disputa pelo cargo tem número recorde de concorrentes e promete movimentar a semana que antecede o recesso parlamentar do meio do ano.

Favoritos

Entre os mais cotados na disputa e possível candidato do Centrão (bloco que reúne 13 partidos), o deputado Rogério Rosso (PSD-DF) é investigado por peculato e indiciado por corrupção. Os crimes são relacionados ao mandato-tampão como governador do Distrito Federal, em 2010, após um escândalo de corrupção que prendeu o então governador José Roberto Arruda e obrigou o vice, Paulo Octávio, a renunciar.

O possível adversário direto de Rosso, Beto Mansur (PRB-SP), primeiro-secretário da Câmara, é o que tem a maior lista de pendências judiciais entre os 16 pesquisados. Ele já foi condenado e responde a um processo por exploração de trabalho análogo à escravidão em uma fazenda no interior de Goiás. O caso envolve 46 trabalhadores, sete dos quais eram menores de idade na época.

Em outra ação penal no Supremo Tribunal Federal, Mansur responde por crime de responsabilidade relacionado ao período em que foi prefeito de Santos (1997-2004). Ele também é alvo de dois inquéritos na Corte por crimes contra a administração pública. Na Justiça paulista, o deputado ainda foi condenado por improbidade administrativa e é alvo de uma segunda ação por dano ambiental.

Outro candidato que aparece com boas chances, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) não responde a processo, mas teve seu nome envolvido na Operação Lava Jato após aparecer em troca de mensagem de Léo Pinheiro, da OAS, pedindo doações. Maia é alvo de um pedido de inquérito da Procuradoria-Geral da República.

Já Fernando Giacobo (PR-PR), graças à prescrição, não responde a processo atualmente, mas escapou de duas ações penais no STF por formação de quadrilha e crime tributário.

Também no páreo, Heráclito Fortes (PSB-PI) teve as contas das últimas eleições reprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do seu Estado. O deputado ainda pode recorrer na ação em que o Ministério Público Eleitoral pede a cassação do mandato. Antes, foi condenado por improbidade administrativa quando era prefeito de Teresina, entre 1989 e 1993, por usar publicidade institucional para fazer promoção pessoal.

A Justiça determinou ressarcimento aos cofres públicos.

Do PTB, o goiano Jovair Arantes foi condenado pelo TRE por utilizar funcionário público em seu comitê de campanha em 2014. Ele foi multado em R$ 25 mil. Ainda cabe recurso ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Correndo por fora na disputa, Hugo Leal (PSB-RJ) foi condenado no Rio por violações administrativas em licitações quando foi presidente do Detran no Estado. Ainda cabe recurso.

No PP, os dois possíveis candidatos também respondem a processos. Esperidião Amim (SC) responde por improbidade administrativa e dano ao erário e Fausto Pinato (SP) é réu em ação no STF acusado de falso testemunho. (AE)

Segunda-feira, 11 de julho 2016

10 julho, 2016

ALGUM PAÍS JÁ CONSEGUIU ACABAR COM A CORRUPÇÃO?



Quando se fala em acabar com a corrupção no Brasil, muita gente lembra do exemplo frustrante da Itália: por lá, a grande operação que inspirou a Lava Jato brasileira investigou centenas de políticos e empresários, mas não conseguiu eliminar o problema.

Olhando para exemplos de outros países, especialistas na área dizem que é mesmo impossível acabar totalmente com a corrupção. Mesmo nos países nórdicos, que costumam ocupar o topo dos rankings de menos corruptos, há pagamentos de propina em troca de vantagens.
"Lutar contra a corrupção é como se recuperar de um vício. Você nunca se recupera totalmente", diz Dan Hough, especialista em combate à corrupção da Universidade de Sussex, na Inglaterra.

"Se você é alcoólatra, sempre será alcoólatra. A questão é: como você diminui os efeitos do seu problema?", questiona ele. Hough acredita ser possível reduzir a prática identificando o tipo de corrupção que se quer combater.

No escândalo da Petrobras e da Lava Jato, por exemplo, ele identifica o problema central como sendo a falta de transparência em contratos públicos. Outros exemplos de tipos de corrupção podem ser pequenos subornos no dia a dia e financiamento ilegal de campanhas.

Robert Klitgaard, especialista em corrupção da Universidade Claremont, nos EUA, diz, em um relatório feito para a OCDE, que no combate ao problema "o sucesso é sempre incompleto, e o risco da corrupção ressurgir sempre é uma ameaça".

A exemplo de Hough, Klitgaard acredita que, apesar de não ser possível acabar totalmente com a corrupção, há casos de iniciativas que conseguiram bons resultados e podem servir de exemplo a outros países.

Mas que iniciativas seriam essas? Abaixo, a BBC Brasil reúne quatro exemplos de estratégias usadas em países e territórios diferentes que conseguiram reduzir a corrupção.
1) Hong Kong

O caso de Hong Kong é considerado modelo no combate à corrupção.

No anos 1970, o então território britânico vivia uma situação de corrupção sistêmica, que envolvia o governo local, o sistema de Justiça, empresas e a própria população, com pagamento de pequenas propinas e outras formas de corrupção. Parte do esquema era controlado pelo crime organizado.

A gota d'água veio quando o então chefe de polícia, Peter Godber, fugiu da cidade ao ser acusado de corrupção.

Sua fuga e a corrupção disseminada no governo geraram uma onda de protestos que, em 1974, resultou na criação de uma Comissão Independente Contra a Corrupção, com uma equipe bem treinada e bem paga.

Segundo um relatório do centro de pesquisas anticorrupção U4 em parceira com a Transparência Internacional, o sucesso dessa comissão se deve, em parte, ao fato de ela ter se focado não apenas em punição, mas também em educação e prevenção.

A agência atuava até em jardins de infância, mostrando às crianças histórias em que o personagem honesto sempre vencia. A ideia era ensinar valores, e não leis.

As pessoas eram encorajadas a não tolerar a corrupção e fazer denúncias pessoalmente, sem usar anonimato. Hoje, 70% das denúncias feitas no país não são anônimas, de acordo com a agência. Com isso, diz, é mais fácil levar as investigações adiante.

Outros fatores que explicam essa história de sucesso: uma forte vontade política, a independência da agência, um alto nível de recursos (tanto financeiros quantos humanos) alocados na agência e um sistema de Justiça eficaz e independente.

Além disso, a agência tem poderes especiais: tem acesso a contas bancárias, pode exigir que testemunhas deponham sob juramento e confiscar propriedades e documentos de viagem.

Também há forte apoio legislativo e um sistema de leis que cobre vários tipos de corrupção, tanto no setor público quanto no setor privado. No Brasil, por exemplo, o enriquecimento ilícito não é crime ─ o que, segundo promotores, dificulta muita a punição de suspeitos.

A má notícia é que, segundo especialistas, a experiência de Hong Kong não é facilmente replicável em outros países, já que é muito difícil juntar todas essas condições que existiam ali naquele momento específico.
2) Filipinas

O caso das Filipinas é estudado por Klitgaard em um relatório sobre combate à corrupção para a OCDE .

Em junho de 2010, Benigno Aquino III foi eleito presidente com o slogan "Quando ninguém for corrupto, ninguém será pobre".

Naquele momento, as Filipinas enfrentavam um problema de corrupção sistêmica: eram o 133º colocado entre 178 países no ranking de percepção de corrupção da Transparência Internacional. Em uma escala de zero a 10, em que 10 significa menos corrupto, a nota das Filipinas era 2,4.

O caso virou modelo para o pesquisador mais pela forma direta como o governo abordou o problema do que pelas medidas implementadas em si.

Semanas após a eleição, foi feita uma grande reunião com ministros e outros integrantes do alto escalão do governo que seguiu o modelo de um estudo de caso de uma business school ─ escola de negócios.

Eles analisaram uma história de sucesso de outro país, modelos teóricos sobre corrupção, custos e trabalharam para identificar exatamente qual tipo de corrupção deveriam combater.

Naquela mesma tarde, o governo já tinha uma plano de ação, o que chama atenção, pois normalmente propostas do tipo demoram semanas ou até meses para ficarem prontas. 

O plano incluía um foco principal na identificação e punição de grandes corruptos, em vez de "peixes pequenos" ─ a ex-presidente do país, Gloria Arroyo, por exemplo, foi presa por fraude eleitoral pouco depois, em 2012.

Também incluía uma grande estratégia para permitir e convencer cidadãos a dar notas para medir o desempenho de agências do governo, um acompanhamento feito de perto e que se mostrou eficiente para reduzir pagamentos de suborno.

O programa também incluía novas parcerias com a sociedade civil e empresários, reformas radicais na formulação do orçamento, que deixaram o processo mais transparente, e aumento da coordenação entre agências do governo.

Com isso, o país passou da posição 133 para 94 no ranking da Transparência e foi descrito pelo Fórum Econômico Mundial como "o país que mais melhorou" em competitividade global. As taxas de investimento também aumentaram.

Mas Klitgaard nota que ainda há muito a avançar no país: a percepção de corrupção ainda é alta e, em 2014, o então presidente Aquino foi acusado de abuso de poder.

Especialistas dizem que a cruzada anticorrupção funcionou mais com nos setores públicos que prestam serviços burocráticos do que realmente no nível dos políticos.

"Mas o progresso é palpável. Mesmo em um país com corrupção sistêmica, a melhora é possível, com benefícios políticos e econômicos significativos", escreve Klitgaard.
3) Índia

O professor da Universidade de Sussex Dan Hough diz que, na Índia, um dos grandes problemas era a corrupção do dia a dia, que tem no pagamento de pequenas propinas sua face mais visível.
Na país, é costume pagar suborno para tudo: obter carteira de habilitação, conseguir ligação à rede de água, fazer o registro de um imóvel e até para atestado de óbito, dizem ativistas.

Para combater isso, dois ativistas criaram o site "I Paid Bribe" (Eu paguei propina), que permite que as pessoas denunciem anonimamente o pagamento de subornos.

O site também permite que usuários deem conselhos sobre como evitar pagar subornos ─pedir o carimbo e nome do agente que diz que faltam documentos para algum processo burocrático e que isso pode ser resolvido com um "cafezinho", por exemplo.

Com o grande número de denúncias feitas sobre as provas para conseguir permissão para dirigir, por exemplo, o governo acabou tomando uma atitude mais drástica: acabou com os examinadores.

No primeiro centro automatizado para testes de direção, aberto em Bangalore em 2011, os candidatos a motoristas precisam andar por uma pista cheia de sensores que determinam seu desempenho. A prova sobre legislação é feita em um computador.

"A genialidade deste site é que ele permite identificar qual é o problema específico e criar políticas específicas para isso", diz Hough.

Mas, como todos os outros, a Índia ainda tem muito a avançar: está em 76ª no ranking da Transparência Internacional.
4) Geórgia

Parece uma anedota, mas na Geórgia era comum que as pessoas pagassem subornos para conseguir emprego de policial rodoviário. Qual era a primeira coisa que faziam quando saíam às ruas? Cobrar propina de todo mundo para compensar o gasto. "Todo mundo" incluía até pedestres.

Este exemplo também é citado por Hough e várias organizações, como a Transparência Internacional.

Na Geórgia, segundo especialistas, imperava uma cultura do "jeitinho", ligada à razões históricas: sendo um pequeno país no meio de grandes impérios, a população se orgulhava de conseguir contornar os poderes estabelecidos.

Mas, aos poucos, os georgianos começaram a achar que as coisas passaram dos limites e, em 2003, teve início a chamada "Revolução Rosa", que tirou o presidente do cargo.

O novo presidente, Mikheil Saakashvili, foi eleito com uma plataforma de combate à corrupção e promoção da transparência.

A transparência chegou a ser literal: as delegacias da antiga e corrupta polícia rodoviária são hoje feitas de vidro, para que todos vejam o que se passa lá dentro.

Antiga porque aquela força policial foi toda substituída: 16 mil agentes foram demitidos da noite para o dia. Os novos policiais recebiam mais e eram monitorados para que não recebessem subornos.

A transparência também chegou às contas públicas. As licitações do governo agora são todas feitas em uma plataforma online pública ─ o que facilita o controle externo.

Segundo Hough, a Geórgia é um exemplo de país que tinha problemas com "transparência" ─ o que, para ele, se assemelha à situação do Brasil.

"Se você tem transparência para saber quem ganha contratos do governo, como isso foi feito, quanto eles pagaram, quem está no conselho dessas empresas, fica mais difícil usar o sistema a seu favor", diz Hough.

Em 2010, a Transparência Internacional classificou a Geórgia como o país de melhor desempenho em termos de redução relativa da corrupção. No ano passado, a Geórgia ficou no 48º no ranking mundial de percepção da corrupção.

"Os desafios permanecem na Geórgia. A corrupção na Justiça ainda é um problema, e estão surgindo mais acusações de favoritimos no alto escalão. Após deixar o cargo, o presidente Saakashvili foi acusado de abuso de poder ─ inclusive na luta contra a corrupção", diz o relatório de Klitgaard. (A/E)
 

Domingo, 10 de julho, 2016


09 julho, 2016

PLANALTO AGE PARA EMPLACAR PERFIL CONFIÁVEL NA CÂMARA



Planalto depende de estabilidade política para aprovação de projetos Foto: Ricardo Stuckert.

Apesar do discurso oficial de que não vai se envolver na disputa pelo comando da Câmara, o governo Michel Temer age para emplacar um nome da confiança da gestão interina. A avaliação no Planalto é que Temer não pode "correr riscos" neste processo, pois um parlamentar hostil ao Executivo no cargo pode comprometer a aprovação de projetos fundamentais para a recuperação da economia.

A eleição do deputado que assumirá um mandato-tampão na presidência da Câmara - até fevereiro de 2017 - deve ocorrer na próxima semana.

O Palácio do Planalto avalia que precisa de um "perfil confiável" no cargo porque depende de estabilidade política para aprovar projetos como o teto para aumento de gastos públicos. Além disso, o novo presidente da Câmara terá a responsabilidade de analisar pedidos de impeachment contra Temer, já protocolados na Casa, e será o primeiro na linha de sucessão da Presidência da República, caso Dilma Rousseff seja afastada definitivamente pelo Senado.

Temer está empenhado em unificar a base aliada em busca de um nome de consenso para suceder ao deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que renunciou anteontem.

'Efeito Severino'

O receio também é o de repetir o "efeito Severino". Em 2005, a desarticulação da base do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva levou à eleição do deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), que acabou sendo obrigado a renunciar ao cargo e ao mandato após denúncias de corrupção.

O Planalto também não quer ver repetido o ambiente que Dilma enfrentou com Eduardo Cunha no comando da Câmara. Além de manobrar contra o governo em votações, Cunha autorizou o processo de impeachment da petista.

Nos últimos dias, Temer recebeu pelo menos cinco dos 15 postulantes na tentativa de conseguir viabilizar um nome de consenso para a sucessão de Cunha. O ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, também participou das articulações, designado por Temer.

Geddel procurou os candidatos pedindo acordo. "Se não houver a unificação de uma candidatura da base, corremos o risco da eleição de um novo Severino", disse o ministro. O presidente em exercício já conversou pessoalmente com Fernando Giacobo (PR-PR), Osmar Serraglio (PMDB-PR), Rogério Rosso (PSD-DF), Beto Mansur (PRB-SP) e Heráclito Fortes (PSB-PI).

Anteontem, Temer se encontrou com o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), que foi pedir apoio para ficar no cargo até fevereiro de 2017. Maranhão ofereceu apoio ao governo para votar as propostas de interesse do Planalto. Segundo um interlocutor de Temer, a conversa não prosperou.

Temer tem dito que "não importa o nome" do presidente da Câmara, mas que a base tenha 2/3 de votos, o suficiente para aprovar medidas consideradas fundamentais, inclusive as que dependem de mudança na Constituição, como a reforma da Previdência. Apesar disso, ele já demonstrou maior simpatia por Rogério Rosso (PSD-DF), que representa o Centrão.

A indicação de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tem sido cortejado pelo PT, também poderá receber o apoio do Planalto. O governo sabe que, no caso de Rodrigo Maia ser o candidato de consenso, terá de fazer muitos acenos a ele, que ficou contrariado por ter sido preterido na escolha do líder do governo na Câmara.

O entendimento do Planalto é que o PMDB não deveria postular o cargo porque continuará comandando a presidência do Senado no próximo ano. Um assessor palaciano avalia que o partido não pode repetir o erro do PT, "que não aceitou repartir forças". Outro auxiliar destacou que, nesta eleição, há uma peculiaridade que dificulta as negociações: o mandato-tampão. (AE)

Sábado, 09 de julho, 2016