É
claro que não aparece assinatura da companheira afastada mandando pedalar
porque pedalada é justamente não assinar
O
enredo do impeachment da companheira afastada está cada vez mais, por assim
dizer, ridículo. Quanto mais aparece a floresta de crimes perpetrados pelo
imaculado governo petista, mais surgem almas bondosas denunciando um golpe de
Estado. A resistência democrática em favor da quadrilha é uma coisa comovente.
Nunca antes.
A
defesa daquele governo probo e injustiçado encomendou uma perícia para analisar
o processo de impeachment. Desde o caso PC Farias o país não tinha uma perícia
tão comentada. Na época, a pirueta espetacular foi a tese de que o assassinato
do operador de Collor fora crime passional. O Brasil acreditou por um bom tempo
nesse delírio, porque o Brasil acredita. Agora, a pirueta é a alegação de que
Dilma não pedalou.
Vai
ver foram pedaladas passionais — coisa de coração valente. É chato contrariar
as almas penadas que amam a historinha do golpe — porque ela lhes permite tirar
para dançar o fantasma da ditadura de 64, a assombração mais lucrativa do
Brasil. Mas é preciso informar que a tal perícia é mais uma malandragem
rebuscada, como aquelas que o companheiro Barroso produz no STF. É claro que
não aparece uma assinatura da companheira afastada mandando pedalar, porque a
pedalada é justamente não assinar nada — não pagar uma dívida.
Foi
assim que Dilma Rousseff tomou o seu dinheiro na marra, prezado leitor, deixando
de repassar algumas dezenas de bilhões de reais, segundo o Tribunal de Contas,
do Tesouro para o Banco do Brasil, o BNDES e a Caixa. Ou seja: o governo
imaculado e golpeado da companheira presidenta forçou instituições controladas
por ele a lhe conceder crédito (em quantias monumentais) — e isso é crime
fiscal.
Vai
ver a perícia realizada no processo de impeachment no Senado esperava encontrar
um ato da Sra. Rousseff do tipo “Autorizo meus capangas no Tesouro Nacional a
pedalar as dívidas com os bancos públicos”. Ou, quem sabe, a premissa fosse de
que, num governo à deriva, ninguém é responsável por nada. Os peritos tiveram
um trabalhão para embelezar esse cadáver.
Ainda
assim, os legistas coreográficos confirmaram o crime de Dilma na edição dos decretos
de crédito suplementar, não autorizados pelo Congresso Nacional. “Ah, então foi
só isso?!”, pergunta a claque do golpe. Notem a malandragem intelectual (os
malandros do intelecto são um sucesso): um governo delinquente de cabo a rabo,
que inventou a contabilidade criativa para ludibriar o contribuinte e detonar a
economia popular, vira o autor de uma infração reles — um trombadinha
simpático.
Para
os impressionantes arautos do golpe, o governo criminoso de Dilma Rousseff é
vítima.
A
estratégia de reduzir a roubalheira a um soluço contábil serve também para
dizer que, se for assim, todos os presidentes sofreriam impeachment.
Compreensível. Lula também disse, no mensalão, que caixa dois todo mundo faz. É
o mesmo jeitinho de relativizar a trampolinagem. Mas é mentira. Depois de
instituída a Lei de Responsabilidade Fiscal, só o governo do PT cometeu esse
crime. Até porque, antes dele, o Tesouro Nacional ainda não havia sido
promovido a casa da mãe Joana.
Por:
Guilherme Fiúza
Sábado,
02 de julho, 2016