Entre
os investigados na Operação Recebedor, decorrente de um desmembramento da
Operação Lava Jato, está o ex-presidente da Valec Engenharia, Construção e
Ferrovias José Francisco das Neves. Conhecido como Juquinha, Neves foi
presidente da empresa, ligada ao Ministério dos Transportes, entre 2008 e 2011.
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF) em Goiás, o nome de Neves
apareceu em depoimentos e provas apresentadas pela construtora Camargo Corrêa,
que firmou acordo de leniência com o MPF, quando a empresa se compromete em dar
informações sobre o esquema criminoso em troca de redução de penalidade.
Neves
depôs na Superintendência da Polícia Federal, em Goiás. A mulher do
ex-presidente da Valec e um de seus filhos também estão sendo ouvidos pela polícia.
A
partir das informações prestadas pela Camargo Corrêa, a Operação Recebedor
investiga pagamento de propina em obras das ferrovias Norte-Sul e Integração
Leste-Oeste, bem como a prática de cartel e lavagem de dinheiro obtido por meio
do superfaturamento de obras públicas. A polícia suspeita que o esquema
criminoso tenha causado prejuízos aos cofres públicos superiores a R$ 631,5
milhões, apenas nos trechos da Norte-Sul construídos em Goiás.
"O
método utilizado para o recebimento de propina consistia na realização, pelas
empreiteiras executoras das obras, de pagamentos a um escritório de advocacia e
para mais duas empresas sediadas em Goiás e indicadas por 'Juquinha', sendo que
os pagamentos não se referiam a serviços efetivamente realizados, utilizando-se
contratos de fachada para dar aparência de legalidade aos pagamentos feitos
pelas empreiteiras em benefício de 'Juquinha'", diz nota do MPF.
Os
pagamentos, no entanto, “não se referiam a serviços efetivamente realizados”.
Foram feitos contratos de fachada com o objetivo de “dar aparência de
legalidade” aos pagamentos feitos pelas empreiteiras ao ex-presidente da Valec.
Os procuradores informaram que a Camargo Corrêa admitiu ter pago mais de R$ 800
mil em propina para Neves. O ex-presidente da Valec é acusado, conforme os
investigadores, dos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva, e seria
o responsável por receber e cobrar o pagamento da propina. De acordo com
informações da Camargo Corrêa, mesmo após ter sido desligado da Valec, Neves continuou
a receber propina por meio do assessor Josias Gonzaga Cardoso, que também foi
secretário de governo de Goiás.
Segundo
os investigadores, há indícios da “prática de sobrepreço, superfaturamento,
crimes contra a Lei de Licitações, a exemplo de formação de cartel, corrupção
passiva, desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro, praticados pela
empresa estatal Valec” nas obras da Ferrovia Norte-Sul. Os indícios apontam que
prática similar foi adotada na Ferrovia de Integração Leste-Oeste durante o
período em que Neves esteve à frente da empresa.
No
acordo fechado com o MPF em Goiás, a Camargo Corrêa admitiu ter praticado
crimes de corrupção e lavagem de dinheiro em processos licitatórios e a prática
de cartel, além de ter se comprometido a devolver R$ 800 milhões aos cofres
públicos. Deste total, R$ 65 milhões para ressarcir danos causados à Valec.
A
PF executa sete mandados de condução coercitiva (quando a pessoa é levada para
prestar depoimento e depois é liberada) e 44 mandados de busca, que estão sendo
cumpridos nos estados do Paraná, Maranhão, Rio de Janeiro, de Minas Gerais, São
Paulo, Goiás e no Distrito Federal.
O
nome da operação é uma referência à defesa apresentada por José Francisco das
Neves em uma investigação anterior chamada Trem Pagador, na qual os advogados
alegaram que "se o trem era pagador, Juquinha não foi o recebedor".Na
época, os investigadores identificaram patrimônio de Neves de aproximadamente
R$ 60 milhões.
Valec
Contatada
pela Agência Brasil, a Valec informou que a atual diretoria da empresa
"está à frente da empresa há dois anos e não foi notificada sobre a
operação e desconhece os fatos citados".
Confira
abaixo as empresas e pessoas alvos de mandados de busca e apreensão (lista
divulgada pelo MPF):
Paraná
Duas pessoas jurídicas:
CR ALMEIDA S/A ENGENHARIA DE
OBRAS;
IVAI – ENGENHARIA DE OBRAS
S/A
Maranhão
Uma pessoa jurídica
AGROSSERA – AGROPECUÁRIA E
INDUSTRIAL SERRA GRANDE LTDA
Rio de Janeiro
Uma pessoa jurídica
CONSTRUTORA NORBERTO
ODEBRECHT S/A
Minas Gerais
Seis pessoas jurídicas e
seis pessoas físicas
SERVIX ENGENHARIA S/A –
(LAGOA SANTA/MG);
SPA ENGENHARIA IND. E COM.
LTDA;
EGESA ENG. S/A;
CONSTRUTORA BARBOSA MELLO
S/A;
CONSÓRCIO ATERPA M. MARTINS
– EBATE;
TORC – TERRAPLANAGEM OBRAS
RODOVIÁRIAS E CONST. LTDA;
HUGO DE MAGALHÃES;
JOÃO BOSCO SANTOS DUTRA –
(ARCOS/MG)
JOÃO BOSCO SANTOS DUTRA;
BRUNO VON BENTZEEN
RODRIGUES;
EDUARDO MARTINS;
DANIEL NÓBREGA LIMA DE
OLIVEIRA – (NOVA LIMA/MG)
São Paulo
Nove pessoas jurídicas e uma
pessoa física
CONSTRUTORA QUEIROZ GALVÃO
S/A;
MENDES JÚNIOR TRADING E ENG.
S/A;
GALVÃO ENGENHARIA;
CONSTRAN S/A – CONSTRUÇÕES E
COMÉRCIO;
CONSTRUTORA OAS S/A;
SERVENG CIVILSAN S/A
EMPRESAS ASSOCIADAS DE ENGENHARIA;
CAVAN PRÉ-MOLDADO S/A;
TIISA – INFRAESTRUTURA E
INVESTIMENTOS S/A
BRAEMP BRASIL
EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES LTDA
PEDRO AUGUSTO CARNEIRO LEÃO
NETO
Distrito Federal
Sete pessoas físicas
ULISSES ASSAD;
RONY JOSE SILVA MOURA;
LUIZ SÉRGIO NOGUEIRA;
ALOYSIO BRAGA CARDOSO DA
SILVA;
LEANDRO BARATA DINIZ;
ALFREDO MOREIRA FILHO;
LAIZE DE FREITAS
Goiás
Quatro pessoas jurídicas e
oito pessoas físicas
ELCCOM ENGENHARIA EIRELI;
EVOLUÇÃO TECNOLOGIA E
PLANEJAMENTO LTDA;
HELI DOURADO ADVOGADOS
ASSOCIADOS S.S;
CONSÓRCIO FERROSUL – (SANTA
HELENA/GO);
HELI LOPES DOURADO;
JOSÉ FRANCISCO DAS NEVES
MARIVONE FERREIRA DAS NEVES;
JADER FERREIRA DAS NEVES;
RODRIGO FERREIRA LOPES
SILVA;
RAFAEL MUNDIM REZENDE;
JOSIAS GONZAGA CARDOSO
JUAREZ JOSÉ LOPES MACEDO.
Fonte:
Agência Brasil
Sexta-feira,
26 de fevereiro, 2016