Estou
lendo pela segunda vez o livro “Notícias do Planalto”, que mostra a queda e a
ascensão do ex-presidente Fernando Collor. A eleição de 1989 foi ímpar na
história do Brasil. Nem Collor nem Lula tinham condições de governar um país
acabado de sair dos braços da ditadura militar. O presidencialismo de coalizão
não funcionaria de forma alguma no início dos anos 1990, visto a quantidade de
partidos que disputaram a presidência na eleição de 89. Analisando pelo
conjunto, a primeira eleição direta pós-ditadura foi a mais baixa de todos os
tempos. Os candidatos só faltavam se digladiarem na arena dos debates. As
acusações iam de uso de drogas a pedidos para abortar a própria filha.
Collor
venceu. E a primeira tentativa de “cortar os pulsos” foi aplicar um estelionato
eleitoral na nação, confiscando a poupança de todos os brasileiros, quando na
campanha acusava o seu adversário (Lula) de ter tal intenção se fosse eleito.
Mas o suicídio político de Collor começou quando registrou sua candidatura ao
Planalto no TSE. Um político, vindo de um estado pequeno, sem expressão
nacional, teria condições de governar? Claro que não. Só se criasse 39
ministérios, como fez o PT, e os repartisse entre todos os partidos. E olhe lá.
Veio o impeachment – não foi por causa de corrupção – e Collor caiu.
Na
eleição de 2014, dois candidatos venceram sem ter condições políticas de
governar o Brasil e o DF. Repetindo Collor, a presidente Dilma Rousseff,
durante a campanha, acusou seu adversário (Aécio Neves) de querer promover um
arrocho no país, aumentando os juros, os preços da gasolina, água e energia. E
o que vimos após a disputa? Dilma aumentando tudo. Mais uma vez ouso dizer que
a impopularidade da presidente não se deve apenas ao petrolão, mas sim ao
descumprimento de promessas feitas em campanha. Ao contrário de Collor, Dilma
tem uma base ampla no Congresso Nacional, capaz de sustentar seu governo.
Contudo, o desgaste da presidente é tão grande que os deputados e senadores que
a apoiam, com medo de receberem o abraço do tamanduá ou o beijo da morte, estão
isolando Dilma e votando contra o governo. Para eles, pega mal apoiar o governo
mais impopular da história do Brasil.
Já
fiz um artigo onde mostro que Dilma tomou um “tiro no pé” de seu próprio
marqueteiro, o soberbo João Santana, que, além de ter feito a candidata
presidente mentir descaradamente durante a campanha eleitoral, teve ainda
coragem de zombar dos adversários de Dilma. O suicídio político da presidente
foi prometer uma coisa e fazer outra, talvez pensando que depois seria
absolvida pelo povo.
Em
Brasília, a eleição para governador caiu no colo do senador e candidato Rodrigo
Rollemberg. A verdade é que em janeiro do ano passado, dificilmente Rollemberg
acreditaria que seria eleito governador. A ideia de sua candidatura ao GDF foi
para manter seu nome em evidência no cenário político, visto que o mandato de
senador é de oito anos, o que pode atrapalhar pretensões futuras, caso o
parlamentar não mantenha seu nome em destaque a cada quatro anos. Para isso,
precisa se candidatar a governador no meio do mandato, algo que acontece muito
em outros estados. No caso de Rollemberg, foi apenas, como eu disse, para
manter seu nome em evidência e plantar a semente para 2018, onde concluiria seu
mandato no Senado, faltando agora só chegar ao Palácio do Buriti.
O
PSB não têm quadros na cidade. Diferentemente de outros estados, como em
Pernambuco, em Brasília o partido é nanico. Como então Rollemberg teria
condições de governar uma cidade pequena, mas complexa, como Brasília? Além
disso, cheia de problemas oriundos de outras gestões? Para vencer, a ideia foi
transmitir um otimismo exacerbado ao brasiliense, mostrando que tudo não passa
de atitude, que agora o DF teria alguém que tinha “atitude pra mudar”, como se
fosse fácil e simples assim.
Como
podem reparar, Rollemberg tem uma fábrica imensa para gerir, mas não tem gente
capacitada para fazer a engrenagem funcionar. Não bastasse a falta de preparo,
o governo começou muito atrapalhado, com graves problemas de relacionamento com
outras instituições, apesar do empenho e espírito conciliador do secretário de
Relações Institucionais, Marcos Dantas, que tentou apagar por diversas vezes o
incêndio gerado pelo próprio governo.
A
afobação faz com que políticos queiram dar um passo maior que as pernas. Hoje
podemos constatar que teria sido muito melhor, politicamente falando, que
Collor, Dilma e Rollemberg tivessem perdido a eleição para ganhar depois.
Collor venceria facilmente a eleição de 1994, após o fracasso que seria o
governo radical e estatizante de Lula. Dilma ou Lula voltaria em 2018, pois
quem teria que promover os arrochos pela gastança dela e do ex-presidente seria
o PSDB. Rollemberg teria chances reais de suceder Frejat, que já estaria com a
idade avançada daqui a três anos e meio. Ainda acho difícil o governo
Rollemberg “ressuscitar”. O suicídio político já foi cometido. Quanto a Dilma,
o “cadáver” já está em estado avançado de decomposição. E Collor? Este
“morreu”, foi “sepultado” pelo povo brasileiro e “ressuscitado” pelos
alagoanos, mas foi “morto” novamente, dessa vez pelo petrolão.
Por
Fred Lima
Segunda-feira,
03 de agosto, 2015