Há
um pressuposto equivocado nessa proposta de diálogo entre os ex-presidentes
Lula e Fernando Henrique, o de que toda conversa é boa em uma democracia.
Foi-se o tempo em que uma conversa institucional com o PT poderia significar
algum avanço democrático.
Desde
que o mensalão foi desvendado, em 2005, qualquer conversa desse tipo tornou-se
inviável, pois o PT revelou-se um partido que adota meios corruptos para fazer
política, e usa o Estado para financiar seus esquemas, com o objetivo de
dominar a máquina pública pelo maior tempo possível, negando a alternância no
poder, ponto fundamental da democracia representativa.
O
PT não é, certamente, o único partido político que se envolveu em corrupção na
História do Brasil, mas é, até que se prove o contrário, o único que sequestrou
o Estado brasileiro para montar um esquema de domínio político na tentativa de
se perpetuar no poder.
Até
o mensalão, os esquemas corruptos eram manipulados por grupos políticos
avulsos, ou mesmo por indivíduos, e até a origem do esquema, usado
originalmente em Minas pelo grupo do governador tucano Eduardo Azeredo, tinha o
objetivo de financiar campanhas regionais com a manipulação de verbas oficiais.
Ao
levar para o plano nacional esquemas que funcionavam regionalmente e de maneira
eventual, o PT inaugurou uma nova fase da corrupção brasileira, muito mais
danosa à democracia, porque se alimenta da própria máquina do Estado para
continuar dominando-a indefinidamente.
Conceitualmente
perverso, o avanço sobre estatais como a Petrobras e a Eletrobras - para, por
meio do desvio de recursos do Estado brasileiro, controlar a vida partidária
nacional e desvirtuar o sistema de coalizão partidária através de distribuição
de verbas ao Legislativo - envenena o nosso sistema democrático, desmonta a
convivência harmônica entre os Poderes da República, quebra o sistema de pesos
e contrapesos próprio da democracia representativa.
A
corrupção generalizada no país não é de hoje, como já destaquei em outras
colunas, e o fato de ter se espalhado até o mais modesto município brasileiro
só mostra que a impunidade fez aumentar a possibilidade de corrupção. Ao mesmo
tempo, está sendo desmontado na Petrobras um esquema corrupto que não é trivial
e que já mostrou suas garras no episódio do mensalão.
Vou
repetir aqui alguns conceitos que já desenvolvi em outras colunas, para mostrar
como a questão é intrincada. Em vez de combater a corrupção disseminada, como
prometia fazer antes de chegar ao poder, o Partido dos Trabalhadores, ao
contrário, aderiu à maneira brasileira de fazer política e transformou-a em um
método de dominação do Poder Legislativo e de perpetuação de poder.
Quando
Lula disse que no Congresso havia 300 picaretas, em tom de crítica, parecia o
líder político que queria mudar a maneira de governar o país. Mas, ao chegar a
sua vez de mostrar a que veio, Lula comandou um governo que institucionalizou a
corrupção para garantir apoio político, aperfeiçoando e aprofundando as
técnicas que eram usadas naturalmente pelos políticos brasileiros há décadas.
Que
havia corrupção na Petrobras muito antes de o PT chegar ao poder, ninguém
discute. O que é espantoso é que essa corrupção tenha chegado ao ponto a que
chegou e tenha se tornado institucional, um método de dominar o poder político
no país.
Como
partido organizado e bem comandado, o PT transformou a roubalheira generalizada
em instrumento de controle político.
O
que mudou nos anos petistas é que a roubalheira nas principais áreas do governo
foi monopolizada pelo esquema político que almeja a hegemonia. Sem mudar essa
postura diante da democracia, não há razão para a busca de um diálogo.
Merval
Pereira
Sábado, julho 25 de julho, 2015