Começar
por onde? Pelo aumento do desemprego? Ou da rejeição a Dilma, agora na casa dos
65%? Pela decisão do Tribunal de Contas da União de pedir explicações ao
governo sobre manobras fiscais? A decisão pode dar vez a um processo de
impeachment contra Dilma. Ou começar pelo desabafo de Lula detonando Dilma, o
PT e ele próprio? Ou ainda pela prisão surpreendente dos dois maiores
empreiteiros do país?
A
PRISÃO DOS empreiteiros remete à Queda da Bastilha. Só havia por lá sete presos
quando o povo de Paris tomou-a de assalto. Os presos foram libertados. A cabeça
do diretor da prisão desfilou pela cidade espetada na ponta de uma lança. A
Bastilha era um símbolo do poder absolutista dos reis. Sua queda virou um marco
da Revolução de 1789 que mudou a França e repercutiu no mundo todo.
ATÉ
QUE A Bastilha fosse destruída, tinha-se como inconcebível que a ralé pegasse
em armas para varrer o regime. Os reis eram figuras divinas. Por aqui, parecia
inconcebível que Marcelo Odebrecht, herdeiro de um império que faturou R$ 107
bilhões no ano passado, fosse parar na carceragem da Polícia Federal, em
Curitiba, obrigado a comer quentinhas. Ele e o presidente da Andrade Gutierrez.
E
NÃO SÓ pela fortuna que Marcelo amealhou, capaz de realizar todos os seus
desejos de consumo, e também os desejos das próximas gerações dos Odebrechts.
Mas, principalmente, pelas conexões políticas e econômicas que Marcelo
estabeleceu com políticos e governantes daqui e de uma dezena de países. Lula
virou seu empregado. E, junto com Dilma, refém do que Marcelo sabe.
SE
O MAIS poderoso empresário brasileiro decidisse colaborar com a Justiça, a
República literalmente cairía. Imagine se viessem à luz detalhes de um dos
encontros de Marcelo com Dilma no ano passado, quando ele fez um
circunstanciado relatório sobre os bastidores dos negócios entre as
empreiteiras e a Petrobras? Por essa e outras, ele jamais imaginou que seria
preso.
EM
NOVEMBRO último, durante encontro com os executivos do Grupo Odebrecht em Costa
do Sauípe, na Bahia, Marcelo se sentia tão inatingível que os aconselhou:
"Se algum de vocês for preso, conte tudo. Que eu me apresentarei e
contarei tudo" Não se animem! O maior patrimônio de Marcelo, a essa
altura, não é a Odebrecht. É sua memória. E os documentos que guarda. Não
falará.
LULA
ESTÁ furioso com a companheira Dilma. Ele a acusa de não ter usado o poder do
cargo para impedir que a Operação Lava-Jato, comandada pelo juiz Sérgio Moro,
chegasse até onde chegou. Mas como Dilma poderia atender à vontade de Lula se
ela se reelegeu com base em mentiras, lidera um governo cada vez mais fraco, e
seu desempenho só é aprovado por 10% dos brasileiros?
O
FATO É que Lula cobra de Dilma o que ela não pode dar. Ou talvez não queira
dar. Poucas coisas boas ficarão do período Dilma. Uma delas, a justa fama de
não ter atrapalhado o combate à corrupção. As críticas de Lula a Dilma,
compartilhadas com os religiosos que o visitaram no Instituto Lula, deixam nu
um político que não entende a real dimensão da crise do PT e da esquerda.
A
CRISE DERIVA de erros cometidos por Lula e Dilma. O pai da crise é ele. A mãe,
ela. De nada adianta Lula sugerir a Dilma que vá para a rua falar com o povo.
Ela não tem o que dizer. O PT, tampouco. Envelheceram o discurso e os métodos
do Sr. "Brahma," como Lula foi chamado por alguns empreiteiros. É um
ciclo político que se esgotou. Apenas isso, e nada mais.
Ricardo
Noblat.
Quarta-feira,
24 de junho, 2015.