A última pesquisa Datafolha, primeira depois da Copa do Mundo, trouxe um
alerta ao governo que serve também aos demais candidatos: definitivamente o
eleitorado não é um ajuntamento de seres imaturos permeáveis a manipulações de
natureza barata.
Situação e oposição tentaram cada qual ao seu modo tirar proveito do
Mundial. A presidente Dilma Rousseff tripudiando sobre as previsões dos
“pessimistas” quis se beneficiar do sucesso fora do campo.
Seus principais adversários, Aécio Neves e Eduardo Campos, ensaiaram
capitalizar o repúdio da plateia à governante nos estádios. Movimentos inúteis,
conforme mostrou a pesquisa.
Com toda a euforia da Copa e o êxito da organização, Dilma viu suas
intenções de votos oscilarem para baixo (de 38% para 36%), a rejeição subir de
32% para 35% e a avaliação negativa do governo aumentar de 26% para 29%.
A conclusão é óbvia e simplesinha: a eleição não depende de truques e o
eleitorado não está disposto a transitar pelo terreno das realidades paralelas.
Há um dado objetivo que é o cenário do segundo turno, este sim muito
preocupante para o governo. Em 15 dias a diferença entre a presidente Dilma e o
candidato do PSDB se reduziu em sete pontos porcentuais. Período em tese bom
para a presidente, pois estava todo mundo vivendo o encantamento dos turistas
com o Brasil meio de fantasia.
No início de julho Dilma tinha 46% contra 39% de Aécio. Duas semanas
depois, o quadro era de 44% contra 40%, praticamente um empate indicando
possibilidade de ultrapassagem pelo candidato da oposição.
Uma questão de lógica, porque a candidata à reeleição não para de cair e
seu oponente mais próximo sustenta a posição. Note-se ainda o seguinte: do
primeiro para o segundo turno ela vai de 36% para 44%; acrescenta oito pontos
ao seu capital enquanto ele dobra o patrimônio, subindo de 20% para 40%.
O terceiro colocado, com 8%, vai para 38% no segundo turno. De onde
Eduardo Campos arrumou 30 pontos porcentuais? Da rejeição à presidente, claro.
Um sentimento que aumenta e se consolida a cada pesquisa. A campanha do PT tem
dois desafios, de imediato: estancar e inverter a tendência.
Não há uma fórmula mágica à vista e por enquanto a aposta é tradicional,
a exposição no horário da propaganda de rádio e televisão, cujo tempo reservado
à presidente é quase o triplo do segundo colocado. Não deixa de ser uma
vantagem, mas a eficácia pode ser relativa.
Dilma já conta com exposição total nos veículos de comunicação e fica
difícil perceber como a aplicação de novas e altas doses do mesmo remédio
poderia resolver o problema. Ou seja, liquidar a eleição no primeiro turno.
Já para os oponentes, muito menos conhecidos, qualquer acréscimo de
ocupação de espaço é vantajoso, porque têm margem para crescer, o que não
ocorre com a presidente conhecida por 99% e rejeitada por 35% do eleitorado.
A disputa no segundo turno ocorre na base do mano a mano: há obrigação
de comparecer aos debates, os tempos de televisão são divididos de forma
igualitária entre um e outro e é na etapa final que a rejeição tem um peso
fatal. Daí a urgência de vencer no primeiro turno, o que não parece uma
hipótese à disposição de Dilma Rousseff. (Dora Kramer)
Domingo, 20 de julho, 2014
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