O dia 12 de outubro, Dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira Brasil e também data para festejar as crianças, neste ano foi marcado também por mobilizações em várias capitais e cidades contra a corrupção. Milhares foram às ruas protestar e exigir que os políticos tenham Ficha Limpa, que o voto dos congressistas não fique protegido pelo sigilo, quando o assunto em pauta for o julgamento de condutas dos seus pares. E ainda tem gente que acha que a mobilização não tem “foco”.
Descontentes com o movimento que nasce fora do território convencional de representação, os analistas de araque em geral e os petistas e aliados, em particular, passam o recibo e vestem a carapuça. Em Brasília, mais de 20 mil pessoas, segundo cálculos da organização da marcha, estiveram na Esplanada movidas pelo impulso cidadão, cuja indignação com a roubalheira já atingiu níveis insuportáveis. E os políticos e partidos que se arriscaram a aparecer, como o PSOL, em Brasília, e o eterno cara-de-pau Eduardo Suplicy, do PT em São Paulo – tentou subir num carro de som – foram escorraçados sem dó nem piedade.
Convocados e organizados pelas redes sociais, os protestos têm essa característica independente dos partidos e dos sindicatos, tradicionais organizadores de movimentos massivos, além das exigências pontuais pela regulamentação da Lei da Ficha Limpa e da limitação do voto secreto dos parlamentares.
Convocados e organizados pelas redes sociais, os protestos têm essa característica independente dos partidos e dos sindicatos, tradicionais organizadores de movimentos massivos, além das exigências pontuais pela regulamentação da Lei da Ficha Limpa e da limitação do voto secreto dos parlamentares.
Isso não é ruim nem bom. É uma característica da conjuntura atual, na qual os políticos e as instituições passam por profunda crise de credibilidade. Queriam o quê? O País comandado pelo Partido dos Trabalhadores que, em uma década, passou de bastião da ética para protagonista de escândalos não poderia passar incólume. Há uma fissura profunda que pode até não estar sistematizada em palavras, lideranças ou entendimentos objetivos, mas que se faz evidente na voz e nos protestos recentes nas ruas e praças públicas.
É inegável a percepção de um viés contra os políticos nas marchas contra a corrupção. Mas o movimento se atém a repudiar políticos desonestos e as brechas no sistema que os acoita. Não é um movimento contra da democracia representativa. Os manifestantes, de alguma forma, sabem que não há mecanismo melhor para gerir uma sociedade do que a democracia representativa. Se fosse uma ação de massa, que se posicionasse deliberadamente contrária à política, tenderia a não dar em boa coisa. Os cidadãos cansaram de ver a má ação dos desonestos e da impunidade que os mantém na ativa.
NA CONTRAMÃO
Mas vários “sábios” de plantão correram para a frente das câmeras e para as páginas dos jornais para criticar os manifestantes. O mais estranho, no dia seguinte às manifestações, foi o do deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ). Logo ele, eleito pelo chamado fator celebridade, sem nenhuma história anterior de vínculos com a militância política – nem mesmo havia saído do armário antes de sua participação no Big Brother Brasil, da Globo. Jean Wyllys resolveu desancar as marchas contra a corrupção e escreveu no seu Twitter: “Esses ‘cansados da corrupção’ mostram que, na verdade, só ’sabem’ da corrupção aquilo que a velha mídia noticia e pauta.”
Velha mídia? Engraçado. O deputado baiano esquece que são as novas mídias a impulsionar a mobilização. Será que ele também quer a “democratização social da mídia” –o novo disfarce que os petistas tentam emprestar para a surrada censura a tudo aquilo que foge do script do partido no poder?
Não deixa de ser interessante ver um deputado do PSOL – o tal “Partido Socialismo e Liberdade” resíduo desbotado do velho trotskismo – a atacar manifestações populares. É ainda mais inacreditável que ataque “à velha mídia” um sujeito que ganhou uma bolada num reality show e que só foi eleito por conta de sua exposição num programa de grande audiência e por causa do voto proporcional. Mais uma excelente razão para se ter o voto distrital no Brasil: gente assim seria mantida longe do Parlamento e poderia se dedicar a outras atividades mais artísticas.
É bom lembrar ao deputado que as notícias da “velha mídia” derrubaram quatro ministros de estado e mais de 20 pessoas do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Seu perfil resume: “Jornalista, professor e escritor baiano. Deputado federal eleito pelo PSOL-RJ”. Nenhuma menção ao Big Brother. Teve apenas 13.018 votos. Está na Câmara por causa da votação do deputado Chico Alencar do mesmo partido do Rio de Janeiro. Deveria ter mais respeito, havia mais gente nas ruas do que votos para ele nas urnas.
Por Margrit Schmidt
Sexta – feira, 14/10/2011 ás 7h:05
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