A ministra da Mulher, da
Família e dos Direitos Humanos, Damaris Alves, e o ministro da Justiça e
Segurança Pública, Anderson Torres, assinaram quarta-feira (13/10) uma portaria
conjunta que cria um grupo de trabalho para a construção da Política Nacional
de Qualificação de Conteúdo para a Criança e Adolescente. Um dos objetivos da
iniciativa é rever a atual política de classificação indicativa. A portaria
fala em "mapear potenciais abusos sofridos por crianças e adolescentes provocados
por violações a direito desse público contidos em programas televisivos e
conteúdos audiovisuais em geral, exibidos por emissoras de rádio e televisão,
provedores de conteúdo online na internet, diversões e espetáculos
públicos."
O anúncio foi feito durante um
evento do governo em celebração ao Dia das Crianças, para apresentar novas
ações para este segmento. Para Damares Alves, o público infantil tem sido
exposto a conteúdos que ela considera nocivos e citou obras audiovisuais em
plataformas de streaming.
"A gente vem aí com a
iniciativa de rever a classificação indicativa no Brasil. Todos vocês receberam
no WhatsApp, com certeza, esses dias, o desespero das famílias com aquela série
que está na Netflix, de violência. Todo mundo recebeu isso. A gente recebe
denúncias como essa todos os dias. Em plena 10 horas do amanhã, filme de
violência e as crianças na sala", apontou a ministra. Ela não mencionou o
nome da série a que se referia.
Prevista na Constituição
Federal e regulamentada no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a
classificação indicativa determina o enquadramento de obras audiovisuais e
programas de televisão de acordo com a idade recomendada para aquele conteúdo.
Ela se aplica à programação de emissoras de radiodifusão, cinemas, plataformas
de vídeos e filmes, jogos eletrônicos e espetáculos diversos. Essa
classificação varia de conteúdo livre para todas as idades até os recomendados
às faixas etárias de 10, 12, 14, 16 e 18 anos.
Até 2016, a regra em vigor,
definida em portaria do Ministério da Justiça e no ECA, estabelecia uma
vinculação horária obrigatória na exibição de conteúdos classificados pelas
emissoras de televisão. Dessa forma, conteúdos recomendados nas faixas etárias
de 12 anos ou mais só poderiam ser veiculados a partir das 20h (no caso da
faixa dos 12 anos), de forma progressiva, chegando até o limite de 23h (para
conteúdos classificados para 18 anos ou mais). Porém, essa regra da vinculação
horária foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF),
que derrubou sua validade.
Damaris Alves também fez uma
referência à exibição de sessões da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do
Senado sobre a pandemia. Para ela, os momentos em que há xingamentos entre
parlamentares não devem ser exibidos. "Inclusive, está aí no jornal que a
ministra também que fazer classificação indicativa para a CPI. Ô CPI que xinga
a tarde toda. As crianças na sala e aqueles parlamentares xingando. Eu não vou
fazer censura não, mas na hora que eles estiverem xingando tem que sair do ar.
E as agressões? Um querendo agredir o outro em plena tarde, crianças de três
anos ouvindo palavras absurdas."
O secretário nacional dos
direitos da criança e do adolescente, Maurício Cunha, afirmou que a portaria
conjunta entre os ministérios da Mulher, Família e Direitos Humanos e da
Justiça e Segurança Pública deverá propor mudanças normativas em até um ano. Qualquer
alteração legal, segundo ele, será submetida a consultas públicas prévias antes
de entrar em vigor.
"É um grupo de estudos, a
gente não está direcionando para A ou para B nessa mudança, mas do jeito que
está hoje, não dá para ficar. Queremos fortalecer a classificação indicativa e
fazer uma melhoria dos marcos normativos", ressaltou. O secretário ainda
criticou programas de notícias de violência que expõem crianças e adolescentes.
"Temos que proteger as crianças de exposição indevida, inclusive aquelas
em conflito com a lei". Atualmente, as regras de classificação indicativa
não se aplicam a programas considerados jornalísticos. (Abr.)
Quarta-feira
13 de outubro 2021 ás 20:25