Manifestações
realizadas em dezenas de cidades domingo (25?08), em defesa da Operação Lava
Jato e do veto total ao projeto de lei que pune abuso de autoridade aprovada
pelo Congresso tiveram críticas ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ),
e ao Supremo Tribunal Federal, em especial o seu presidente, Dias Toffoli.
Em
ato organizado por apoiadores do governo domingo, 25, em Belo Horizonte,
manifestantes atacaram o STF e cobraram do presidente Jair Bolsonaro veto total
ao projeto de abuso de autoridade, avaliada pelos manifestantes como um caminho
para reduzir o combate à corrupção e o impacto de operações como a Lava Jato.
Em
Belo Horizonte, sanitários químicos alugados por fundadores do Patriotas, que
participaram da organização do ato junto com o movimento Vem Pra Rua, tiveram
cartazes pregados com a inscrição “STF – Sanitário Togado Fedorento”. Pela
primeira vez em atos pró-Bolsonaro na capital mineira ataques ao ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ficaram em segundo plano.
“As
pessoas elegeram Jair Bolsonaro para ele mudar o que vinha ocorrendo no País em
relação à corrupção”, afirma a coordenadora do Vem Pra Rua na cidade, Kátia
Pegos, que acredita em possível perda de apoio da população ao presidente caso
a lei não seja vetada integralmente.
Para
a militante, as instituições estão querendo se blindar contra investigações.
“Há indícios de que o presidente não está sendo tão incisivo como deveria nesta
questão. Bolsonaro não tem que ter medo de enfrentar deputados, senadores ou ministros
do STF. O povo está com ele”, disse.
Mensagens
eram exibidas e lidas por manifestantes do alto de um caminhão de som do Vem
Pra Rua. “Não elegemos Bolsonaro para abafar investigações contra bandidos”,
dizia uma delas. “Veta tudo, Bolsonaro”, afirmava outra. Faixas e cartazes
também cobravam o veto do presidente à lei.
Com
o embate ao longo da semana entre o governo brasileiro e países europeus sobre
as queimadas na Floresta Amazônica, o tema também acabou sendo incluído na
manifestação na capital mineira. Participantes do ato reclamaram da reação dos
governos estrangeiros às queimadas.
Com
uma bandeira da França em que se lia “a Amazônia é nossa. Respeitem nossa
soberania”, a advogada Fátima Lima, de 59 anos, reclamou das críticas do
presidente do país, Emmanuel Macron, sobre as queimadas. “A França está cheia
de problemas internos. O que ele quer é usar a Amazônia de forma política para
se reeleger”, disse.
Brasília
Na
capital federal, ato organizado pelo Vem Pra Rua reuniu cerca de 5 mil pessoas
na Esplanada dos Ministérios na manhã deste domingo, 25, segundo estimativas
dos próprios organizadores. A Polícia Militar não divulgou números de
participantes no protesto e não foram registradas ocorrências.
O
ato pediu o veto ao projeto de lei que pune abuso de autoridade e o impeachment
de Toffoli. Além disso, outras duas bandeiras do protesto eram a manutenção do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cadeia e a escolha do procurador
Deltan Dallagnol para a Procuradoria-Geral da República (PGR).
Os
manifestantes se reuniram em frente ao Congresso Nacional pela manhã, vestidos
de verde e amarelo. Havia um boneco inflável do ministro da Justiça, Sergio
Moro, vestido de super-homem.
Rio
de Janeiro
O
humorista Marcelo Madureira teve que sair escoltado pela Polícia Militar de um
ato organizado pelo Movimento Vem Pra Rua na praia de Copacabana, no Rio, por
fazer críticas ao governo Jair Bolsonaro.
Do
alto do carro de som, ele foi alvo de gritos de “fora” e “desce, teu carro é
outro” por parte de manifestantes vestidos de verde e amarelo e com camisas com
o rosto do presidente da República e do ministro da Justiça e Segurança, Sergio
Moro.
“Não
tenho medo de vaias. Votei no Bolsonaro e vou criticar todas as vezes que for
necessário. Como justificar uma aliança do Jair Bolsonaro com o Gilmar Mendes
para acabar com a Operação Lava Jato? É isso que está acontecendo”, disse
Madureira antes de ter o microfone cortado.
Os
organizadores tiveram que apelar ao público para “não dividir o movimento”.
Pouco depois, Madureira desceu e foi escoltado por policiais militares até um
táxi, recebendo vaias de alguns e os parabéns de outros. “É uma minoria de
pessoas que não sabem viver em um regime democrático. O governo está fazendo
coisa errada”, disse.
O
Movimento Vem Pra Rua escolheu a casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ) como um dos dois pontos de concentração no Rio. Ele é visto pelo
movimento como o comandante de “manobra” que levou à aprovação “à toque de
caixa e de madrugada” do projeto de abuso de autoridade pelos deputados
federais no último dia 14.
Por
volta das 10h30 cerca de 80 pessoas vestidas de verde e amarelo se concentraram
na porta do prédio de Maia, na praia de São Conrado, aos gritos de “Fora Maia”
e “Veta Bolsonaro”. Também levavam cartazes e faixas com inscrições como
“Rodrigo Maia Inimigo da Lava Jato” e “Botafogo apoia a corrupção”, em
referência ao suposto codinome atribuído a Maia em planilha da Odebrecht.
O
texto aprovado na Câmara define os crimes de abuso de autoridade cometidos por
servidores públicos, militares, membros dos poderes Legislativo, Executivo,
Judiciário, do Ministério Público e dos tribunais ou conselhos de contas. A
proposta lista uma série de ações que poderão ser consideradas crimes com penas
previstas que vão de prisão de três meses até 4 anos, dependendo do delito,
além de perda do cargo e inabilitação por até cinco anos para os reincidentes.
Na
ocasião Maia disse que o texto aprovado é o mais justo, por abranger todos os
Poderes: “O texto é o mais amplo, onde todos os poderes respondem a partir da
lei”, destacou.
“É
uma lei que não está protegendo o cidadão comum, mas os bandidos da velha
política. O vetar tudo seria o recado de que ele (Bolsonaro) não vai retroceder
na luta contra a corrupção”, disse a coordenadora do Vem Pra Rua no Rio,
Adriana Balthazar, para quem Maia é considerado um traidor.
O
presidente Jair Bolsonaro vem sofrendo pressão de políticos, entidades de
classe e até de Moro para barrar a lei. A medida é vista como uma reação do
mundo político à Operação Lava Jato, pois permitiria criminalizar condutas que
têm sido comuns em investigações no País. Na quinta-feira, 22, a
procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu ao presidente que vete o
texto.
“O
que temos visto é um ataque orquestrado contra algumas das maiores instituições
do País, responsáveis pela maior operação anticorrupção do mundo, como o
Ministério Público e seus agentes”, diz o Vem Pra Rua no texto de convocação da
manifestação.
Durante
o ato, os manifestantes criticaram a retirada do Conselho de Controle de
Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Justiça. Por medida provisória,
o órgão foi transferido para o Banco Central, transformado, teve seu nome
mudado para Unidade de Inteligência Financeira e sua composição alterada,
permitindo o recrutamento de integrantes fora do serviço público o que foi
visto como uma forma de abrir o órgão para indicações políticas.
Vestida
com uma camiseta com a foto de Moro e a hashtag #Morobloco, a manifestante
Suzana Correa disse que a fritura do ministro pelo governo Bolsonaro ” é coisa
da imprensa”. Afirmou, porém, que o ex-juiz e o ministro da Economia, Paulo
Guedes, são os pilares do atual governo. “Não sou Bolsonaro, votei contra o que
estava aí”, disse.
(Com
Estadão Conteúdo)
Domingo,
25 de agosto ás 17:00