Liberdade de expressão

“É fácil submeter povos livres: basta retirar – lhes o direito de expressão”. Marechal Manoel Luís Osório, Marquês do Erval -15 de abril de 1866

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29 abril, 2016

A MULHER QUE SE ACHAVA FILHA DE GETÚLIO, O PAI DO BRASIL MARAVILHA E A ÓRFÃ DO GOLPE QUE NÃO HOUVE



Já contei aqui a história da doida mansa que, no começo dos anos 60, apareceu no portão da minha casa em Taquaritinga para buscar a chave do Banco do Brasil. Ela quis saber se eu era filho do prefeito. Disse que sim. A mulher negra, franzina e maltrapilha informou que era filha de Getúlio Vargas. Achei que aquilo era coisa a ser tratada por gente grande e fui chamar minha mãe.

Ela se identificou novamente e revelou que o pai lhe deixara como herança o Banco do Brasil. Com o suicídio, tornara-se dona da grande instituição financeira, incluídos bens imóveis e funcionários. Como as chaves das centenas de agências espalhadas pelo país ficavam sob a guarda do prefeito, ela deveria apenas, sempre que quisesse ou precisasse, solicitá-las ao chefe do Executivo municipal.

Era por isso que estava lá, repetiu ao fim da exposição. Dona Biloca percebeu que aquilo iria longe, decidiu passar a pendência adiante e transferiu a solução para o primogênito ─ que, para sorte de ambas, trabalhava no Banco do Brasil de Taquaritinga. Depois de ensinar-lhe o caminho mais curto, recomendou que fosse até a agência, procurasse um moço chamado Flávio e transmitisse o recado: “Diga que a mãe dele mandou dar um jeito no problema da senhora”.

O jeito que deu confirmou que meu irmão mais velho era mesmo paciente e imaginoso. Ao saber com quem estava falando, dispensou à visitante as deferências devidas a uma filha de presidente da República, ouviu a história com cara de quem está acreditando em tudo e, terminado o relato, pediu licença para falar com o gerente. Foi ao banheiro e voltou com a informação: a chave estava no cofre da agência. Mas só poderia entregá-la se a filha de Getúlio confirmasse a paternidade ilustre.

“A senhora precisa buscar a certidão de nascimento no cartório”, explicou Flávio. Ela ficou feliz. Avisou que em meia hora estaria de volta com o papel. Reapareceu três ou quatro meses mais tarde, mas no portão da minha casa, de novo atrás do prefeito. Mais uma vez foi encaminhada ao moço da agência, que liquidou a questão do mesmo jeito. O ritual foi reprisado quatro vezes em menos de dois anos. Até que um dia ela saiu em direção ao cartório e nunca mais voltou.

Lembrei-me da doida mansa que coloriu minha infância quando o presidente Lula registrou em cartório um Brasil inexistente. Tinha trem-bala, aviões pontuais como a rainha da Inglaterra, rodovias federais de humilhar motorista alemão, luz e moradia para todos, três refeições por dia para a nova classe média, formada pelos pobres de antigamente. Quem quisesse ver mendigo de perto que fosse até Paris e se contentasse com algum clochard.

A transposição das águas do São Francisco havia exterminado a seca e transformado o Nordeste numa formidável constelação de lagos, represas e piscinas. O sertão ficara melhor que o mar. Os morros do Rio viviam em paz, os barracos valiam mais que as coberturas do Leblon. E ainda nem começara a exploração do pré-sal, que promoveria o Brasil a presidente de honra da OPEP e faria da potência sul-americana uma Noruega ensolarada.

No país do cartório, o governo não roubava nem deixava roubar, o Mensalão nunca existira, os delinquentes engravatados estavam todos na cadeia, os ministros e os parlamentares serviam à nação em tempo integral e o presidente da República cumpria e mandava cumprir cada um dos Dez Mandamentos. Lula fizera em oito anos o que os demais governantes não haviam sequer esboçado em 500.

Daqui a alguns anos, é possível que um filho do prefeito de São Bernardo do Campo tenha de lidar com um homem gordo, de barba grisalha, voz roufenha e o olhar brilhante dos doidos de pedra, exigindo a devolução da maravilha com firma reconhecida em cartório. A filha de Getúlio tropeçara na falta da certidão de nascimento. O pai do país imaginário estará sobraçando o papel cheio de selos, carimbos, rubricas, garranchos e assinaturas.

Tornei a lembrar-me da herdeira do Banco do Brasil ao ver o que Dilma Rousseff anda fazendo para continuar no emprego que já perdeu. Daqui a poucos anos, poderá aparecer na porta da casa do prefeito de Porto Alegre a mulher de terninho vermelho, calça preta e cara de desquitada de antigamente que, com aquele andar de John Wayne, zanza pelas ruas repetindo o mesmo grito de guerra: “Foi golpe!”

Apesar do juízo avariado, nem ela vai querer de volta o país que destruiu. Só exigirá a chave do Palácio do Planalto. Para livrar-se do problema, os filhos do prefeito devem pedir-lhe que mostre a certidão assinada pelos golpistas. E presenteá-la com um exemplar da Constituição.

Por: Augusto Nunes (VEJA)

Sexta-feira, 29 de abril, 2016 ás 17hs

28 abril, 2016

DILMA DECIDE NÃO FAZER TRANSIÇÃO COM VICE




O Palácio do Planalto e a cúpula do PT já começaram a traçar estratégias de reação a uma eventual gestão do vice-presidente Michel Temer e decidiram que não farão qualquer tipo de transição de governo. A ordem no Planalto para todos os ministérios controlados pelo PT é deixar Temer "à míngua", sem informações sobre a administração, e acelerar programas em fase de conclusão para que sejam lançados pela presidente Dilma Rousseff.

Em reunião a portas fechadas com o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, e com o presidente do PT, Rui Falcão, deputados foram informados na quarta-feira, 27, de que a atual equipe não vai respaldar um governo "ilegítimo" e, por isso, não haverá transição para Temer. Até arquivos com dados estratégicos da administração estariam sendo apagados.

Com a certeza de que Dilma será afastada por até 180 dias no primeiro julgamento no plenário do Senado, que deve ocorrer em 11 de maio, governo e PT já preparam os próximos passos do divórcio litigioso. A ideia é reforçar a estratégia de carimbar Temer como "golpista" e "vice 1%", numa referência à sua falta de densidade eleitoral.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu a Dilma, com quem almoçou na quarta, um "pente-fino" em todos os programas sociais dos 13 anos do PT no governo, desde o seu primeiro mandato. A intenção é bater na tecla do legado do partido, com vitrines como Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida, em contraposição ao programa "ortodoxo" de Temer, que, no diagnóstico dos petistas, prevê mais sacrifícios aos menos favorecidos.

Apesar de ser alvo da Operação Lava Jato e ter perdido capital político, Lula é o único nome forte de que o PT dispõe para a sucessão presidencial de 2018 e tudo será feito pelo partido para construir a narrativa de que Dilma foi "apeada do poder".

Proximidade

"Se o PMDB não figurasse na chapa, em 2014, dificilmente a presidente Dilma venceria aquelas eleições", rebateu o ex-ministro da Aviação Civil Eliseu Padilha, um dos dirigentes mais próximos de Temer nas fileiras do PMDB.

Padilha ajudou o vice na articulação política do governo com o Congresso, de abril a agosto do ano passado, mas saiu do posto por considerar que o PMDB era sabotado no Planalto. Na época, Temer também deixou a função, semanas após dizer que o Brasil precisava de "alguém com capacidade de reunificar" o País. Nome certo na equipe de Temer, Padilha foi um dos principais articuladores dos votos pró-impeachment na Câmara, ajudando a atrair antigos aliados de Dilma.

"Não se pode falar em golpe quanto tudo está sendo feito conforme a Constituição", insistiu Padilha. "A luta política é legítima, desde que não queiram acirrar o clima do 'quanto pior, melhor'."

Embora a equipe de Temer suspeite que petistas estejam deletando arquivos contendo indicações políticas para diversos cargos, isso não é considerado um problema. Motivo: antes de deixar o governo, o próprio Padilha entregou a Dilma e a Berzoini planilhas contendo todos os cargos do primeiro, segundo e terceiros escalões. As listas continham os padrinhos de cada um e como cada deputado e senador de partido aliado havia votado nos principais projetos de interesse do Planalto.

Eduardo Cunha

Na reunião com Berzoini, que contou com 45 dos 57 deputados da bancada petista, na sede do partido, houve muitas críticas ao Supremo Tribunal Federal, que ainda não se posicionou sobre o pedido da Procuradoria-Geral da República para afastar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Réu no Supremo, acusado de desviar recursos no esquema na Petrobras, Cunha enfrenta processo de cassação do mandato no Conselho de Ética e foi o algoz de Dilma ao conduzir o impeachment na Câmara.

"Como a gente pode fazer transição para um governo desses, que tem Cunha como sócio de Temer?", perguntou um deputado, confirmando a estratégia petista de "exportar" o desgaste do presidente da Câmara para o vice. "Transição é quando há um governo eleito, com legitimidade. Não é este o caso."

Em conversas reservadas, Dilma deu sinais de que está disposta a enviar ao Congresso uma proposta de antecipação das eleições para encurtar o próprio mandato. O vazamento dessa estratégia, porém, aborreceu Dilma. Os movimentos sociais são contra, sob o argumento de que isso enfraqueceria nas ruas a "batalha" contra o impeachment. Apesar de apoiar o plano, até para "emparedar" Temer, o PT decidiu não erguer agora a bandeira das "diretas já". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Giro UOL

Quinta-feira, 28 de abril, 2016