A
demissão de José Eduardo Cardoso do ministério da Justiça demonstrou outra vez
que a presidente Dilma, se nunca mandou, manda menos ainda. Madame não provocou
aquilo que em xadrez se chama “roque”, a troca de uma peça pela outra em pleno
tabuleiro. Pareceu mais uma simples briga de moleques, ou melhor, um chute no
traseiro. Do mais forte no mais fraco, é claro. A dispensa quis levar à
conclusão de que o mais antigo ministro do segundo governo do PT saiu vitorioso
ao trocar a Justiça pela Advocacia-Geral da União. Mentira. Não aguentou a
pressão do Lula e do PT, que queriam vê-lo pelas costas por conta da vontade de
afastar a Polícia Federal da Operação Lava Jato. Há um ano, pelo menos,
forçavam sua defenestração. Queriam, Lula, PT e a torcida do Flamengo, que
calasse a Polícia Federal, impedindo a abertura de sucessivos inquéritos contra
os ladrões da Petrobras, do partido e das empreiteiras. Quando as investigações
avançaram sobre ministros e chegaram a ameaçar o próprio Lula, deram o
xeque-mate na presidente: ou afastava José Eduardo Cardoso ou romperiam com
ela.
Mais
uma vez, Dilma cedeu. Assim como no caso de Aloizio Mercadante, preferiu
sacrificá-lo, tirando-o da chefia da Casa Civil e comprando-lhe bilhete para o
ministério da Educação.
Lembra-se
uma história em que Milton Campos era ministro da Justiça do marechal Castello
Branco. Os militares agitavam-se para impor mais virulência e radicalismo. O
velho professor de Democracia resistiu o quanto pode mas em dado momento
entregou ao presidente sua carta de demissão irrevogável. E justificou: “Posso
adotar a única iniciativa que V. Excia não pode...” José Eduardo Cardoso levou
mais de um ano para decidir-se. Saiu mal, mas como em situações análogas,
também acabou saindo...
A
pergunta que se faz é até quando Lula e seu bando resistirão tentando livrar-se
dos processos de tanta sujeira praticada à sombra dos negócios da Petrobrás, do
PT, dos empreiteiros e do próprio Lula. Botar a culpa na Polícia Federal apenas
aumentará a culpa de cada um. Trocar de ministro somente irá estimular os
federais a investigarem mais.
Carlos Chagas
Quarta-feira,
02 de fevereiro, 2016