A
economia vai piorar bastante antes de melhorar. E não é apenas porque a crise
política dificulta a aprovação do necessário ajuste fiscal. É também pela
natureza dos ajustes propostos. Mais impostos, em vez de corte de gastos. A
perda de credibilidade do governo é outro complicador. A inércia inflacionária
e as perdas de produção e de empregos são maiores quando expectativas adversas
se consolidam por essa falta de credibilidade.
Lula
aconselha Dilma a afastar Mercadante como articulador inapto e abraçar o PMDB
para afastar a ameaça de impeachment e aprovar o ajuste fiscal. E teria também
sugerido um abafamento das investigações da Lava-Jato. Se tudo isso desse
certo, teríamos uma "sarneyzação" do segundo mandato de Dilma. Uma
simples estratégia de sobrevivência política acompanhada de um "feijão com
arroz" na economia.
A
propósito, fui chamado a Brasília, ainda antes da Constituinte de 1988, para
avaliar o colapso do Plano Cruzado, que eu havia previsto. Re-democratização
recente, com a duração do mandato presidencial em aberto (quatro, cinco ou seis
anos), as conversas se deram com os ministros da área militar e importantes
políticos situacionistas. Minha concisa avaliação revelou-se precisa: quanto
mais tempo durar o mandato, maior o desastre econômico, e menores as chances do
establishment nas próximas eleições.
Dilma,
por sua vez, passou a semana falando de "golpismo" e, portanto, de
seu próprio impeachment. Perda de tempo, pois seu foco deve ser um programa
emergencial de controle de gastos públicos para seus três próximos anos de
governo. Sua única oportunidade de enfrentar favoravelmente o julgamento da
História é recolocar o país na mesma rota em que o recebeu, com as finanças
públicas em ordem e uma inflação em declínio.
O
governo Sarney foi uma tragédia econômica, mas cumpriu sua etapa política na
estrada da redemocratização. A síndrome da ilegitimidade que o marcou pela
morte de Tancredo levou-o à rota populista do cruzado. Sua perda de
credibilidade transformou-se em hiperinflação. No caso de Dilma, já se
transformou em estagflação. A oposição deseja dar a Dilma o destino de Collor.
Se escapar de tal sorte, com ajustes menores e sem reformas, terá sido como
Sarney, apenas mais uma medíocre sobrevivente.
(O
GLOBO)
Sábado,
26 de setembro, 2015