No
Palácio do Jaburu, o vice-presidente recebeu governadores e líderes do PMDB
para sinalizar que o maior partido da base aliada do governo nunca esteve tão
afastado da presidente Dilma Rousseff como agora
Nos
jantares realizados nos palácios de Brasília a simbologia costuma ser mais
importante do que o cardápio. Não foi diferente na noite da terça-feira 8,
quando Michel Temer abriu os salões do Jaburu — palácio que serve de residência
oficial aos vice-presidentes do Brasil — para os principais caciques do PMDB.
Na manhã do dia seguinte, o encontro da véspera já era tratado por lideranças
políticas como o “jantar do divórcio”. Uma ceia que celebrou de forma
inequívoca o distanciamento de Temer e do PMDB, maior partido da base
governista, da presidente Dilma Rousseff. Antes mesmo de ocuparem seus lugares
à mesa, enquanto eram servidos apenas amendoins e castanhas, Temer, Renan
Calheiros (presidente de Senado) e Eduardo Cunha (presidente da Câmara) faziam
transparecer, nas conversas que mantinham com seis dos sete governadores
peemedebistas convidados para o jantar, qual seria o significado daquela noite.
Com
as finanças estaduais esgarçadas, os governadores chegaram ao Palácio do Jaburu
famintos de alternativas que lhes trouxessem novos recursos. Entre Luiz
Fernando Pezão (RJ), José Ivo Sartori (RS), Paulo Hartung (ES), Renan Filho
(AL), Marcelo Miranda (TO) e Confúcio Moura (RO) havia quem não escondesse o desejo
de que novos impostos pudessem lhes saciar. Mas, ainda durante o aperitivo,
perceberam que a agenda era outra. Muito diferente do que supunham. Temer,
Renan e Cunha deixaram claro a decisão de se distanciar da presidente e de
maneira nenhuma compartilhar com o Planalto qualquer receita indigesta à
população. “Na semana passada, enviados da presidente Dilma nos procuraram para
pedir apoio à volta da CPMF ou outro imposto semelhante”, lembrou um dos
governadores presentes. “Imaginamos que o vice e a presidente estivessem
alinhados”, disse outro. A todos, inclusive aos ministros presentes ao encontro
-- Kátia Abreu (Agricultura), Elizeu Padilha (Aviação Civil) e Helder Barbalho
(Pesca) —, Michel Temer foi muito claro. “Temos que sair daqui com o discurso unificado
de que não se admite sequer falar em aumento de impostos enquanto o governo não
for capaz de cortar, cortar e cortar”, declarou o anfitrião. Primeiro Renan e
Cunha e depois os senadores Eunício Oliveira e Romero Jucá concordaram com o
vice-presidente. Assim, antes mesmo de se sentarem à mesa de vidro onde foi
servido o jantar estava dado um primeiro recado: o esforço de Dilma e do
ministro da Casa Civil Aloízio Mercadante no sentido de envolver os
governadores na busca de novas tungadas nos contribuintes não dera certo. Pelo
menos no que se referia ao PMDB.
Na
sala de jantar, enquanto os convidados optavam por um prato com camarões ou
outro com carne vermelha, a ministra Kátia Abreu ainda tentou pôr em discussão
a possibilidade de ser colocada na mesa uma proposta de elevação da Cide, o
imposto que incide sobre a gasolina. A ministra, afinada com Dilma, argumentou
que o aumento tributário poderia ajudar a retomada da cadeia produtiva do
etanol e beneficiar diversos Estados. Na véspera, o próprio Temer havia
indicado que esse poderia ser um ponto a ser apoiado. No entanto, no jantar do
divórcio o vice-presidente também descartou essa possibilidade. Disse que
depois de ter feito uma analise jurídica mais profunda sobre o tema concluira
que não seria possível ao Executivo legislar sobre aumento do imposto e que o
PMDB não carregaria essa bandeira no Congresso. Ou seja, o distanciamento
estava mais do que sinalizado.
Terminado
o jantar, governadores lembravam que na terça-feira 8, horas antes do jantar do
divórcio, Temer já emitira os primeiros sinais, daquele dia, de que o
distanciamento do governo estava próximo de ser revelado. Pela manhã, o vice
foi chamado pela presidente para uma reunião no Palácio do Planalto. Depois da
reunião, afirmou aos jornalistas que era “preciso evitar remédios amargos”. Uma
posição absolutamente contrária ao que fora defendido pela presidente Dilma em
pronunciamento feito pela internet como parte das comemorações do Sete de
Setembro. Em seu discurso distante do povo, a presidente usou a expressão
“remédio amargo” para indicar um caminho para a saída da crise econômica.
Líderes
peemedebistas avaliam que há meses o vice-presidente vem emitindo sinais de
afastamento, mas ao mesmo tempo adota um estilo mineiro de fazer política
promovendo uma espécie de bate e assopra. Foi assim quando declarou que o
Brasil precisava de alguém capaz de unir as forças políticas, colocando-se como
uma alternativa segura e não traumática para o pós-Dilma, mas depois fez
declarações justificando-se e colocando-se como parceiro da presidente. Esses
mesmos líderes, contudo, saíram do jantar do divórcio convencidos de que o
momento é outro. “O vice agora tomou uma posição. Isso ficou muito claro quando
afirmou que ninguém governa três anos com uma popularidade de 7%”, afirmou um
parlamentar enquanto ainda tomava o último café da terça-feira 8.
Mário
Simas Filho
FOTO:
ANDRÉ DUSEK/ESTADãO CONTEÚDO
Terça-feira,
15 de setembro, 2015